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Uma tecnologia criada na 2ª Guerra é um dos destaques da NRF 2024, a maior feira do varejo do mundo

Realizada até esta terça, em Nova York, evento varejista destaca a utilidade da tecnologia de radiotransmissão RFID para facilitar a identificação de mercadorias e permitir o pagamento automático de compras

Hall da NRF 2024: loja com self checkout da Amazon permite aos 40.000 visitantes comprar sem tirar a carteira do bolso (Leo Branco/Exame)

Hall da NRF 2024: loja com self checkout da Amazon permite aos 40.000 visitantes comprar sem tirar a carteira do bolso (Leo Branco/Exame)

Leo Branco
Leo Branco

Editor de Negócios e Carreira

Publicado em 16 de janeiro de 2024 às 09h55.

Última atualização em 16 de janeiro de 2024 às 10h12.

NOVA YORK (ESTADOS UNIDOS) — Num ponto comercial que ocupa praticamente uma quadra inteira da 5ª Avenida, a principal via de comércio de Nova York, a flagship da varejista japonesa Uniqlo tem algumas das tecnologias que estão no estado da arte do varejo mundial. O pagamento das compras por ali, por exemplo, ocorre sem a figura humana. Basta o cliente colocar suas compras numa caixa forrada com sensores de RFID, uma tecnologia para fazer transmissão de dados via radiofrequência, e câmeras capazes de reconhecer o tamanho e o peso dos produtos colocados ali.

Ao lado da caixa, um visor exibe em tempo real o nome dos itens e os preços de cada um. Caso o cliente queira retirar algum produto, o sistema reconhece a mudança e o sistema automaticamente muda o valor da compra. Chamada de self checkout, a tecnologia virou o paradigma de eficiência na boca do caixa para lideranças do varejo ao redor do mundo.

Ao lado de exemplos como o da loja sem caixa da Amazon, o case da Uniqlo indica o futuro do varejo tradicional: hiper conectado e sem muita fricção no processo de pagamento das compras. É o que indicam a maioria dos 300 empresas que estão participando da NRF 2024, a maior feira de tecnologia de varejo do mundo, realizada desde domingo (14) no Javits Center, um pavilhão de exposições em Nova York. Entre os quase 40.000 participantes, ao redor de 4.000 são brasileiros em busca de insights sobre como melhorar a experiência de seus consumidores. É a segunda maior delegação da feira, só atrás da americana.

Por que o tema virou moda agora?

Há indícios de que uma revolução tecnológica está por vir no varejo tradicional. Um estudo com 1.400 executivos do varejo conduzido pela Zebra Technologies, uma das principais fabricantes de tecnologias para o varejo, como sensores de RFID, câmeras e celulares capazes de reconhecer produtos dentro de um centro de distribuição, mostra que 73% vão acelerar o cronograma de investimentos em tecnologia para seus negócios.

Em centros de distribuição, por exemplo, seis em cada dez executivos querem implantar a tecnologia de RFID para ganhar tempo na expedição de mercadorias que entram e saem de seus armazéns em algum momento nos próximos quatro anos. É um aumento de 21 pontos percentuais em relação ao resultado de uma pesquisa similar conduzida pela Zebra em 2022.

Muitas das tecnologias exibidas na NRF 2024 não são exatamente uma novidade. A tecnologia RFID foi desenvolvida na Segunda Guerra Mundial para rastrear os aviões militares americanos. Câmeras com leitores apurados em 3D estão, aqui e ali, ganhando espaço em muitas indústrias, não apenas no varejo. O case da loja sem caixa da Amazon já tem praticamente uma década – uma lojinha dessas está montada logo na chegada do Javits Center e pode abastecer os visitantes com café, snacks e outras amenidades.

Por que o setor está discutindo o tema agora, então? Em boa medida, os investimentos são uma resposta de um mercado afetado por mudanças drásticas nos últimos anos, como a pandemia e o avanço do comércio eletrônico. Quem depende de um ponto de venda físico está precisando investir pesado em tecnologia para atrair clientes. Quem vive do comércio eletrônico precisa de tecnologia para reduzir erros de expedição, combater fraudes nos centros de distribuição ou mesmo fazer a gestão do estoque quando há muitos pedidos de devolução de mercadorias já vendidas.

Por trás disso tudo, há o fato de que muita gente nova está chegando ao varejo. Vide a multiplicação de lojas online, muitas vezes de pequeno e médio porte, e que fazem sucesso exclusivamente em canais específicos como no TikTok. E, em paralelo, há mais provedores de tecnologia para o varejo com soluções para todo tipo de bolso.

Ou seja, o que até recentemente era um privilégio de gigantes como a Amazon, agora está acessível a mais gente. “No Brasil, atendemos pequenos, médios e grandes varejistas”, diz Vanderlei Ferreira, vice-presidente e gerente geral da Zebra Technologies no Brasil. Na lista estão as 30 redes de supermercados com maior faturamento no país, além de lojas de departamento com a Havan. Mas um foco importante da estratégia da empresa no país está nos pequenos. “É possível montar uma loja inteligente com investimentos na casa dos milhares de reais”, diz ele.

Robôs, celulares e outras tecnologias

Boa parte da visão da empresa para o futuro do varejo está em exibição na NRF 2024. Num estande chamado “Modern Store”, o visitante vê soluções de self checkout como a empregada pela Uniqlo (uma cliente da Zebra), além de outros aparelhos para auxiliar a vida de quem está em lojas ou centros de distribuição. Uma aposta relevante está em aparelhos para leitura dos códigos de RFID – até mesmo um celular adaptado, fabricado pela empresa, pode ser usado como um dispositivo para processar a compra dos clientes ou checar inventários num estoque.

Boa parte dos mais de 1.000 expositores são startups que estão aproveitando o momento de disrupção geral do varejo. Uma seção inteira da feira, chamada Innovation Lab, é dedicada a esses negócios. Por ali é possível, por exemplo, ver soluções como robôs humanoides capazes de mover peças de um lado para o outro dentro de um armazém.

Ou, então, vitrines ultra inteligentes capazes de mostrar em tamanho real uma pessoa que está a milhares de quilômetros dali. A tecnologia permite ao espectador interagir com a pessoa – um mão na roda para quem precisa ganhar eficiência nos departamentos de atendimento ao cliente. Algumas dessas tecnologias estão na fase de protótipo e ainda vão precisar de um tempo para se provarem de fato úteis aos consumidores. Mas uma coisa é unânime entre os expositores da NRF 2024, que termina nesta terça (16): a experiência de compra está passando por uma revolução profunda e ainda sem data para acabar.

*O jornalista viajou a convite da Zebra Technologies

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