Negócios

Uma nova Sony pode surgir nas ruínas do grande terremoto

A gigante japonesa de tecnologia surgiu nos escombros da Segunda Guerra Mundial. Com o terremoto de março de 2011 e o desastre em Fukushima, a empresa terá que recomeçar

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de agosto de 2011 às 14h41.

Tóquio - Em recente viagem à costa nordeste do Japão, Yoshihito Hori, um executivo de capital para empreendimentos, encontrou por acaso um grupo de pescadores, que recolhiam madeira do lado de fora de um centro de evacuação instalado no local que antes abrigava suas casas. Eles removiam os pregos da madeira recolhida e a vendiam como lenha para fogueira ao preço de 500 ienes (6,37 dólares) o fardo.

O terremoto que deflagrou um tsunami de escala milenar destruiu o porto e os barcos nos quais eles trabalhavam, forçando os pescadores a se tornarem pequenos empresários para sobreviver.

"A História nos diz que, depois de um grande terremoto ou guerra, surgem mais empresários", diz Hori, fundador da Globis Capital Partners e Globis Business School.

Muitas das empresas mais conhecidas do Japão, entre as quais Sony e Honda, surgiram de empreitadas iniciadas em meio às ruínas da Segunda Guerra Mundial, enquanto as forças de ocupação dos Estados Unidos desmantelavam o complexo industrial militar japonês.

Passadas duas gerações, porém, o espírito empreendedor encontra dificuldades para sobreviver devido ao peso dos imensos conglomerados que dedicam grandes verbas aos seus departamentos internos de pesquisa e desenvolvimento.

Como opção de carreira, se tornar empresário não é encorajado ou visto com respeito no Japão. A maioria dos formandos, por insistência de suas famílias, busca a segurança mas baixo retorno de um emprego nas grandes companhias ou no serviço público.

A próxima Sony

Em seu relatório anual de 2010, o Global Entrepreneurship Monitor, que avalia as atitudes de cada país quanto ao espírito empreendedor, mostra que no Japão as percepções quanto a empresas iniciantes são as piores entre os 22 países desenvolvidos pesquisados. O resultado japonês de 5,9 é equivalente a menos de um quinto do placar médio de 33,4 pontos. Os EUA registram 34,8, a Austrália 45,7 e a Suécia lidera a lista com 66,1 pontos.


De acordo com pesquisa da Japan Venture Capital Association, o investimento em empresas iniciantes caiu em 23 por cento no país em 2010, para 15,1 bilhões de ienes.

Para os japoneses, a próxima grande ideia empresarial pode estar na energia e não na Internet.

Depois de destruir grandes porções da região nordeste japonesa, o terremoto agora ameaça causar a queda de uma das maiores árvores na floresta empresarial japonesa, a Tokyo Electric Power.

Única fornecedora de energia a Tóquio e à região vizinha e proprietária da usina nuclear de Fukushima, que sofreu um acidente grave, a Tepco, como é conhecida, agora está recebendo um resgate bancado por dinheiro dos contribuintes e enfrenta a perspectiva de uma cisão forçada. Caso isso venha a acontecer, seria demonstração de que "já não existem vacas sagradas", diz William Saito, um empresário que se radicou no Japão depois de vender sua companhia de biométrica à Microsoft. "A companhia já não é grande demais para quebrar."

Shuhei Abe, fundador do fundo de investimento Sparx Group, quer a dissolução da gigante do setor para dar a outras empresas a oportunidade de crescer.

"A energia subitamente se tornou questão séria", diz Abe, que deseja uma cisão da Tepco em três empresas: geração, transmissão e conexão final de energia com os usuários.

Vencendo internacionalmente

Como as empresas que as precederam no pós-guerra, as novas companhias que emergirem das ruínas do recente desastre japonês terão de obter sucesso mundial, além de no Japão, diz Yoshikazu Tanaka, fundador do Gree, o maior site japonês de jogos sociais.

Incluído na lista da revista Forbes em 2010 como mais jovem bilionário asiático, Tanaka, que tem pouco mais de 30 anos, serve de exemplo aos potenciais empreendedores japoneses interessados em crescer sozinhos.


"O ponto importante é encontrar uma companhia que possa vender produtos ou serviços em todo o mundo", explica Tanaka. A proteção que as empresas têm no mercado interno, dado o menor número de rivais, vem sendo um obstáculo, diz o empresário, que quer expandir sua companhia para a China e a América do Norte. "Nos EUA, há 10 a 15 vezes mais concorrentes."

Recomeçando do zero

Mesmo que disponham do capital e dos executivos talentosos requeridos, as novas empresas podem carecer de um ingrediente crucial no Japão: liderança política forte o bastante para forçar a cisão de gigantes como a Tepco, eliminar a burocracia e criar espaço para que novas companhias floresçam.

Em meio às disputas causadas pela relutância do primeiro-ministro Naoto Kan, cada vez mais isolado, em renunciar, esse tipo de atitude audaciosa é uma raridade.

Em recente conferência organizada pela Globis, de Hori, 500 executivos e jovens empresários discutiram a situação japonesa, e quando perguntados por um moderador se achavam que o Japão quebraria, quase todos ergueram a mão para dizer que sim.

"Seria triste se tivéssemos de recomeçar do zero uma vez mais", disse Saito.

Hori, um dos primeiros investidores na Gree, de Tanaka, diz que continuará em busca de uma pérola entre as empresas iniciantes de Fukushima. Mas admite que pode demorar um pouco para encontrar algo que ofereça retorno atraente.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaDesastres naturaisEmpresasEmpresas japonesasIndústria eletroeletrônicaJapãoPaíses ricosSonyTerremotosTsunami

Mais de Negócios

Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2024: conheça as vencedoras

Pinduoduo registra crescimento sólido em receita e lucro, mas ações caem

Empresa cresce num mercado bilionário que poupa até 50% o custo com aluguel

Como esta administradora independente já vendeu R$ 1 bilhão em consórcios