A marca está iniciando a expansão para outras regiões do Brasil (Maré Chocolate/Divulgação)
Estímulo
Publicado em 17 de fevereiro de 2024 às 09h01.
A união de um economista que passou mais de 10 anos trabalhando em fundos de investimento com uma executiva do ramo da moda originou uma empreitada com altos níveis de rentabilidade e impacto ambiental.
Ao contrário do que imaginaram à primeira vista, eles mudaram a rota e decidiram empreender no setor alimentício, com a criação da Maré Chocolate. A empresa carioca nasceu em 2020 e é liderada pelo casal Roberto e Maruska Maciel, que viram no cacau uma forma de preservar a Mata Atlântica e regenerar áreas degradadas. Hoje, 87,5% do bioma foi devastado no Brasil, e o cacau é uma das maiores fontes de preservação e recuperação da floresta.
O anseio por estar mais próximo da natureza sempre esteve na vida dos dois. Roberto, por exemplo, analisou no mestrado a relação entre fundos tradicionais e aqueles com ações de empresas sustentáveis.
Quando conheceu e começou a conviver com produtores rurais de cacau em 2014, logo percebeu a importância de uma de uma agricultura que preserva e regenera áreas degradadas. No momento em que o casal decidiu buscar novos caminhos, a escolha já estava feita.
A Maré Chocolate, que adota o modelo “bean-to-bar”, começou com uma pequena fábrica em Bonsucesso, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Maruska e Roberto tocavam a operação sozinhos e depois de muito trabalho, o mercado começou a reconhecer a qualidade dos produtos e o volume de vendas cresceu rapidamente.
“No início, dadas as limitações de recursos, restringimos esforços exclusivamente para o mercado do Rio de Janeiro, com foco principalmente no canal verde, através de empórios e mercados especializados”, afirma Roberto. De lá para cá, a empresa entrou em São Paulo, Florianópolis e Brasília, mantendo o plano de abertura com parceiros estratégicos e estruturação de um bom pós-venda.
Os produtos são "plant-based" e têm a etiqueta "clean label", o que significa que são produzidos com poucos ingredientes, cuidadosamente selecionados e livres de aditivos químicos.
A empresa faz desde a produção até a venda de chocolates bean-to-bar de alta qualidade, orgânicos e saudáveis, a partir do uso de cacau agroflorestal, proveniente da agricultura familiar. No intervalo, conquistaram várias certificações de agências regulatórias, como a Orgânico Brasil, Kosher, Parve e Indicação de Procedência Cacau Sul da Bahia, que permite rastrear e atestar a qualidade de cada lote de cacau adquirido.
Os produtos têm como destino principal as redes de mercados e empórios saudáveis. Em 2023, 92% das vendas vieram do chamado B2B e 8% do consumidor final, por meio do e-commerce.
Levar renda e qualidade de vida ao produtor rural é uma das prioridades da empresa, que paga até 4 vezes mais pelo cacau, em comparação com os valores desembolsados pela grande indústria. A Maré adquire a produção de 52 famílias de agricultores familiares.
Desde o começo, o negócio demonstra uma evolução no faturamento. De R$ 334.000 no primeiro ano, a Maré saltou para R$ 1,7 milhão em 2023, crescimento de 406% no período.
Apesar da expansão ao longo dos anos, ter nascido em meio à pandemia trouxe uma série de desafios que fizeram com que a empresa tivesse que recorrer a subsídios financeiros para manter a saudabilidade do negócio.
Com o fundo de impacto Estímulo, a Mará obteve o valor de R$ 80.000 no começo de 2022. No mesmo ano, ainda fez uma segunda captação de R$ 100.000 para apoiar o momento de expansão. Os recursos foram direcionados, principalmente, à aquisição de matéria-prima e embalagens.
Em nova fase, a empresa está iniciando a expansão para outras regiões do Brasil.
Tem procurado ainda captar investidores alinhados com a visão de negócio para acelerar o crescimento e o seu impacto socioambiental. A ideia é criar uma estrutura forte para preparar a Maré para uma nova onda: dar início às exportações no começo de 2025.