Negócios

Um mergulho no mundo de Jack

Jack Welch, o Executivo do Século de Robert Slater. Negócio Editora. 350 págs. R$ 39,00

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h25.

EXAME (10/03/1999) - Com a aproximação do ano 2000, começam a proliferar as listas dos 10, dos 20, dos 100 melhores isso e aquilo do século: as 100 maiores obras literárias, os 100 melhores pianistas e, agora, at os maiores carnavais de todos os tempos. A revista Time (que o autor do livro, aliás, cita várias vezes) dedicou sua edição de 7 de dezembro de 1998 ao tema Builders & Titans: the most influential business geniuses of the century (Construtores e Titãs: os gênios de negócios mais influentes do século).

A lista, que inclui 20 nomes, vai de Henry Ford a Bill Gates, passando por Walt Disney, Akio Morita e Lucky Luciano. O nome de Jack Welch não consta dela, mas ele consegue duas menções honrosas . A primeira na seção Managing to Be Best, junto com Alfred Sloan, da GM, Roberto Goizueta, da Coca-Cola, e Konosuke Matsushita (Matsushita: Panasonic e outras marcas). A segunda, mais curiosa, está no capítulo Bosses from Hell, onde citado ao lado de vilões como Harold Geneen (ITT), Armand Hammer (Occidental) e Leona Helmsley (Hoteis Helmsley). Diz a revista: Pouco depois de se tornar CEO (primeiro executivo da GE), Jack Welch ganhou o apelido de Neutron Jack(1) por fechar fábricas e demitir funcionários. Mas Jack não tão mau assim: Ele um príncipe se comparado com Chainsaw(2) Al Dunlap (este recentemente demitido pelo conselho da Sunbeam, depois de ter demitido 6 000 de seus empregados) .

Vale aqui uma primeira consideração: o eventual leitor que se der ao trabalho de verificar o título original do livro descobrirá que a expressão O Executivo do Século não consta dele. uma contribuição criativa (e enganosa) da editora brasileira.

A gestão de Jack Welch como CEO da GE se iniciou em 1981 e deverá terminar no ano 2000, quando ele completar 65 anos, idade de aposentadoria compulsória dos executivos da empresa. Ela poderia ser dividida em três atos, como uma peça de teatro:

Primeiro Ato: Década de 80. Jack Welch promove um downsizing e uma reestruturação sem precedentes na história da GE. Quer prepará-la para competir em um mercado cada vez mais globalizado e para enfrentar as empresas japonesas, cujos níveis de qualidade e produtividade estão, na época, anos-luz adiante das empresas americanas. Vende e compra dezenas de empresas, fecha centenas de fábricas e escritórios, demite centenas de milhares de funcionários. o tempo do Neutron Jack.

Segundo Ato: No fim da década de 80, terminada a sangrenta faxina da empresa, Jack muda radicalmente suas ênfases e prioridades. Ele se volta para o lado humano da empresa, buscando a superação dos traumas do primeiro ato e a criação de um novo esprit-de-corps. Introduz o work-out, reunião de todos os funcionários de uma fábrica ou escritório, em que eles são encorajados a dizer o que há de errado e apresentar sugestões de melhoria. Isto na presença do chefe e do chefe do chefe. Passa a valorizar conceitos como liderança (que opõe ao de gerência, no modelo antigo de comando-e-controle), trabalho em time, troca de know-how e de best practices (melhores práticas) entre diferentes negócios e benchmarking, que chama de plágio legítimo.

Terceiro Ato: Finalmente, a partir de 1995, a qualidade se torna a bandeira de Welch. Importando, como ele mesmo diz, idéias e métodos da Motorola e da Ford, pretende que a GE atinja o nível de qualidade SixSigma(3) at o ano 2000.

Valeu a pena? A gestão de Jack Welch ao longo destes quase vinte anos só pode ser qualificada como um estrondoso sucesso. A GE hoje a empresa de maior valor de mercado do mundo (número de ações x valor da ação na bolsa). Em termos de crescimento e rentabilidade, os números são impressionantes. Não cabe aqui entrar em mais detalhes mas talvez seja o caso de fazer uma breve avaliação da figura controvertida de Jack Welch.

A característica que chama mais a atenção em Welch sua energia intelectual e emocional aparentemente sem limites. As resistências e a maledicência, tanto internas quanto externas (mídia, em particular), que teve de enfrentar no início foram tremendas. Só conseguiu vencê-las por sua determinação e tenacidade férreas. Uma segunda qualidade admirável sua capacidade de mudar, por vezes radicalmente, e de reconhecer, com grande franqueza, seus erros.

Jack Welch também um comunicador incansável que acredita, como Napoleão, que a repetição a grande figura de retórica. Monta campanhas monumentais em prol das idéias e práticas que considera prioritárias em um dado período. Ele mesmo se define, com propriedade, como o gerente de propaganda da GE.

Finalmente, e neste aspecto continuando e reforçando uma tradição da empresa, Welch tem dedicado grande atenção e proporcionado enormes recursos à educação, ou melhor, ao aprendizado na empresa como um todo. Ele foi, por exemplo, a inspiração por trás do programa de desenvolvimento de lideranças no Centro de Crotonville que hoje, dentre as instituições de educação de executivos patrocinadas por empresas, a número 1 do mundo.

Tudo isto, e muito mais, relatado pelo jornalista Robert Slater em Jack Welch, o Executivo do Século. Só que de maneira confusa, com muita repetição e superposição de idéias e fatos. Outra coisa que, acredito, vai prejudicar o leitor brasileiro o excesso de detalhes sobre situações, referências e personagens familiares ao público americano, mas pouco conhecidas nestas bandas. A tradução certamente não ajuda. quase sempre literal, o que gera construções esdrúxulas e desagradáveis de ler. Tem também muitos erros: Clinton e Welch passavam férias no Vinhedo (na verdade, em Martha s Vineyard, local próximo de Boston). A expressão CEO (Chief Executive Officer), que volta e meia aparece, traduzida de várias maneiras, mas geralmente como diretor-executivo, o que não descreve corretamente o cargo de executivo principal de uma empresa.

Tudo isso tornou a leitura do livro um exercício frustrante para mim. Tanto assim que, quando terminei, senti necessidade de fazer, para clarear minhas próprias idéias sobre o personagem, o pequeno resumo que aparece acima e que, espero, possa também ser útil aos leitores interessados no assunto.

* Carlos Siffert é presidente da Promon

(1) Referência à bomba de nêutrons, que mata as pessoas, mas não destrói os prédios.
(2) Referência ao Chainsaw Massacre (Massacre da Serra Elétrica).
(3) Padrão de qualidade equivalente a 3,4 defeitos por milhão de operações.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Negócios

Os segredos da Electrolux para conquistar a preferência dos brasileiros há quase um século

Você já usou algo desta empresa gaúcha que faz R$ 690 milhões — mas nunca ouviu falar dela

Ela gastou US$ 30 mil para abrir um negócio na sala de casa – agora ele rende US$ 9 milhões por ano

Ele só queria um salário básico para pagar o aluguel e sobreviver – hoje seu negócio vale US$ 2,7 bi