Negócios

Um iraniano para resgatar o encurralado Uber

Dara Khosrowshahi, presidente da empresa de viagens Expedia, foi o escolhido para comandar a maior startup do planeta

Dara Khosrowshahi: a contratação pode custar até 160 milhões dólares ao Uber (Lucas Jackson/Reuters)

Dara Khosrowshahi: a contratação pode custar até 160 milhões dólares ao Uber (Lucas Jackson/Reuters)

EH

EXAME Hoje

Publicado em 28 de agosto de 2017 às 17h47.

Última atualização em 29 de agosto de 2017 às 11h50.

O iraniano naturalizado americano Dara Khosrowshahi, presidente do site de viagens Expedia, foi escolhido como novo presidente do aplicativo de transportes Uber nesta segunda-feira. A informação é extraoficial, e espera-se que o Uber oficialize a escolha ainda hoje.

Em um comunicado interno a funcionários da Expedia, o presidente do conselho da companhia, Barry Diller, afirmou que Khosrowshahi deve aceitar a missão. A contratação pode custar até 160 milhões dólares ao Uber, que teria que cobrir um pacote de opções de ações de Khosrowshahi na atual empresa.

Filho de iranianos, Khosrowshahi tem 48 anos, e comanda a Expedia desde 2005. Graça à sua estratégia de aquisições de empresas de turismo, a empresa aumentou seu faturamento de 2,1 bilhões para 8,7 bilhões de dólares em sua gestão. O anúncio de sua iminente saída fez as ações da companhia caírem 4,5% na tarde desta segunda-feira. Ele também é membro do conselho de administração do The New York Times Company.

Sua escolha marca o fim de um dos processos de sucessão mais turbulentos do Vale do Silício, desde que o fundador Travis Kalanick foi afastado, em junho. Desde então, Kalanick, ele mesmo um dos oito membros do conselho, tentava influenciar seus colegas para ele mesmo voltar ao posto, num movimento que ele mesmo descrevia como “à la Steve Jobs”. Jobs, como se sabe, foi sacado da Apple e, depois de fundar a empresa de animação Pixar, voltou para o negócio que havia criado.

Mas Kalanick nunca foi um nome cotado seriamente para o cargo. Khosrowshahi tampouco era um dos favoritos. As principais apostas eram mulheres, numa tentativa de apagar de largada a marca de machista e sexista que o Uber ganhou após sucessivas denúncias de abusos contra passageiras e funcionárias. Mas a companhia ouviu uma sucessão de negativas, de cotadas como Sheryl Sandberg, do Facebook, Susan Wojcicki, do Uber, Mary Barra, da General Motors, e Meg Whitman, da HP.

No fim das contas, o favorito era Jeff Immelt, presidente do conglomerado GE e um dos mais respeitados executivos dos Estados Unidos. Mas a escolha recaiu sobre um nome mais acostumado ao tipo de desafio que vai encontrar no Uber.

“Immelt está acostumado a uma grande empresa, com decisões mais lentas, sem problemas de imagem, e menos pressão dos acionistas”, diz um empresário que conhece Khosrowshahi. “No Uber, o maior desafio imediato vai ser justamente tirar de Kalanick o desejo de reassumir o comando”.

Kalanick foi acusado de praticar uma cultura corporativa de machismo e discriminação. O caso tomou maiores proporções após a demissão de um executivo na Ásia, que teria reportado um caso de estupro no continente. Além esse escândalo, Travis foi filmado discutindo com um motorista do Uber sobre a política de preços do aplicativo. A companhia ainda é constantemente por práticas desleais com passageiros, concorrentes e órgãos de controle.

Uma carta assinada por cerca de mil funcionários pedia a permanência de Kalanick Travis na presidência, enquanto outros 15.000 funcionários se mantiveram calados no processo.

No campo dos negócios, os desafios são conhecidos. O Uber é a startup mais valiosa do planeta, com valor estimado em 69 bilhões de dólares, e precisa manter o ritmo de crescimento e caminhar para a rentabilidade. Está presente em 630 cidades do planeta e realiza 40 milhões de corridas por mês. Tem no Brasil um de seus maiores mercados, e tem em São Paulo a cidade com mais usuários no mundo.

No ano passado, a companhia teve prejuízo estimado em 3 bilhões de dólares. Apesar dos escândalos envolvendo seu fundador, os números vêm melhorando. O prejuízo no segundo trimestre foi de 645 milhões de dólares, 9% a menos que no início do ano, e 35% menor que no último trimestre de 2016. Para manter o ritmo, a empresa precisa crescer em novos mercados, como Europa, Ásia e África, e segurar o crescimento de concorrentes como o Lyft nos Estados Unidos e a chinesa Didi mundo afora.

Khosrowshahi não é a primeira tentativa para “salvar” a empresa. A executiva Bazoma Saint John foi contratada, no início deste mês, para ser a chefe da marca Uber, em uma tentativa de renovar a “cara” da empresa. Ex-Apple, Bazoma já realizou campanhas famosas, como com a Pepsi e a cantora Beyoncé, nos anos 2000. Ela ainda é negra, ganesa, viúva, mãe solteira e muito popular nas redes sociais – uma combinação que, aposta o conselho, deve ajudar a companhia a deixar a imagem tóxica para trás.

O novo presidente Dara pode enfrentar algum incômodo do governo dos Estados Unidos, por já ter declarado oposição às ações de Donald Trump. Por ser imigrante, ele caçoou de Trump, em seu Twitter, por aumentar o cerco a imigrantes, mas falhar em grande parte de suas políticas.

Seu desafio, caso de fato aceite o trabalho, será substituir um presidente com a reputação tão queimada quanto o próprio Trump. O anúncio pode sair a qualquer momento.

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