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Globo lucra R$ 2 bilhões e prepara especial com 'Vídeo Show' e 'Roque Santeiro' para 60 anos da TV

Compra da Eletromídia, controle total do Telecine e aumento de assinaturas de serviços ajudam a explicar o resultado

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 3 de abril de 2025 às 12h23.

Última atualização em 4 de abril de 2025 às 15h29.

RIO DE JANEIRO* -- Perto das sete horas da noite, um guindaste com um canhão de luz de pelo menos dois metros de diâmetro se ergue sob a praça central de Asa Branca, cidade cinematográfica de um dos maiores sucessos da Globo, Roque Santeiro, iluminando todo o set.

A emissora carioca reconstruiu o cenário para uma única cena do especial de 60 anos da empresa, a ser exibido em 28 de abril.

Perto dali, nos mesmos Estúdios Globo (o antigo Projac), o diretor-executivo Amauri Soares fala com uma dezena de jornalistas sobre o futuro da emissora e os planos para os 60 anos, a serem comemorados durante todo o mês de abril.

“A tecnologia mudou completamente. A Globo do futuro já está aqui. É a Globo que está no seu celular, que é streaming, on demand. A Globo está em todo lugar, onde o consumidor estiver”, afirma.

A divulgação das comemorações dos 60 anos da emissora aconteceu no mesmo dia em que a Globo apresentou seus resultados financeiros de 2024. O número que mais chamou atenção: um lucro líquido de 1,99 bilhão de reais — mais do que o dobro do ano anterior, quando teve lucro de 878 milhões de reais.

Resultado bilionário, aquisições e reforço no digital

O lucro bilionário veio acompanhado de um crescimento de 26% no Ebitda, que bateu 1,55 bilhão de reais, com margem de 9%. O lucro, maior que o Ebitda, vem também de resultados com rendimentos financeiros em investimentos pelo braço da Globo Ventures.

A receita líquida total somou 16,4 bilhões de reais, frente aos 15,1 bilhões de reais de 2023, com a publicidade respondendo por 10,8 bilhões — crescimento de 14%. A receita com conteúdo pago ficou estável, em 5,1 bilhões.

Parte desse desempenho veio de uma reconfiguração do portfólio. A Globo assumiu 100% do Telecine, comprando a participação de Amazon, Paramount e NBCUniversal. O canal, que já fazia parte do ecossistema da empresa, agora é totalmente controlado e integrado às ofertas do Globoplay e dos canais pagos.

A ideia é reforçar a complementaridade entre o linear e o sob demanda, especialmente com os pacotes de assinatura combinados via streaming.

Outro movimento importante foi a ampliação da participação na Eletromidia, empresa de mídia out of home — responsável por painéis digitais em metrôs, aeroportos, elevadores, relógios de rua e outros espaços urbanos. A Globo passou de 27% para 75% do capital e começou a consolidar os resultados da empresa no balanço em dezembro. O impacto imediato foi de 70 milhões de reais no Ebitda de 2024.

E vem mais por aí: a Globo lançou uma OPA (oferta pública de aquisição) para comprar os 25% restantes da Eletromidia e fechar o capital da empresa. A operação, aprovada em março, deve custar cerca de 1,2 bilhão de reais e reforça o plano de ampliar as frentes comerciais da casa para além da TV e do digital.

As assinaturas de serviços também subiram além do esperado. O Globoplay, serviço de streaming da empresa, conseguiu um crescimento de 42% de sua base, impulsionado por um plano mais barato com publicidade.

Mesmo com o apetite para aquisições, a Globo encerrou o ano com caixa de 13,6 bilhões de reais. O grupo ainda aproveitou o ano para pré-pagar 20% da dívida bruta, que fechou 2024 em 6,6 bilhões de reais. A alta na dívida foi puxada pela valorização do dólar e pela consolidação da Eletromidia, mas toda a exposição cambial está protegida por operações de hedge.

Os custos de vendas e despesas operacionais atingiram R$ 14,9 bilhões, um aumento de 7% em comparação com 2023 gerado principalmente pelo alto investimento nos Jogos Olímpicos de Paris.

A comemoração como plataforma: entre o tributo e a vitrine

A festa dos 60 anos foi desenhada para ser mais do que uma retrospectiva: uma afirmação de posicionamento.

A Globo preparou um evento híbrido para imprensa e influenciadores que combinou coletiva mediada por Maju Coutinho com uma experiência imersiva pelos Estúdios Globo. A EXAME esteve presente. 

O tour foi conduzido por nomes do entretenimento, jornalismo e esporte — como William Bonner, Maria Beltrão, Tony Ramos, Luciano Huck e Karine Alves — e serviu como vitrine para mostrar como os conteúdos da casa se conectam com o público e entre si.

Foram apresentados trechos da programação especial, gravações em andamento e detalhes da nova tecnologia de TV 3.0, que permite interações diretas pelo controle remoto.

A programação vai ao ar entre os dias 25 e 28 de abril e terá 60 horas de conteúdo comemorativo. O Vídeo Show volta em edição especial, o Fantástico ganha nova abertura, o É de Casa e o Caldeirão com Mion trazem quadros sobre novelas e bastidores, e a transmissão de Flamengo x Corinthians será feita direto do Maracanã como parte da festa.

O ponto alto será o “Show 60 anos”, com mais de 400 talentos reunidos num especial ao vivo, com blocos pré-gravados, que mistura jornalismo, dramaturgia, humor, esporte e música. É a Globo fazendo aquilo que sempre soube: juntar o país ao redor da tela.

O ano que vem pela frente

Apesar do bom desempenho de 2024, os executivos da Globo tratam 2025 com cautela. Juros altos, inflação e incerteza fiscal podem reduzir a atividade econômica — e, com ela, o volume investido em publicidade.

Há também riscos do mercado. Nos últimos anos, a Globo precisou encarar a perda de parte dos direitos de transmissão de futebol para outros players, sejam eles de televisão ou de canais digitais, como a Cazé TV. No audiovisual, a concorrência ganha escala global quando a Globo precisa disputar a atenção e o interesse do espectador com streamings como Netflix e Max -- as duas com suas próprias novelas. Por fim, há uma concorrência com outros meios de consumo de conteúdo, como plataformas de vídeos curtos e redes sociais.

Ao mesmo tempo, a emissora vê sinais positivos: o desemprego está em níveis historicamente baixos e há expectativa de alívio na carga tributária para faixas de renda mais baixas, o que pode estimular o consumo.

A aposta da Globo é continuar avançando na transição digital com controle de custos, portfólio diversificado e formatos publicitários mais eficientes.

A comemoração de 60 anos é, no fundo, um checkpoint: uma pausa para olhar o que foi feito — e já emendar o próximo bloco. A novela continua.

*A reportagem viajou a convite da Globo

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