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Todeschini descobre o valor dos pequenos gestos

Além de agrados singelos, empresa definiu em 1996 que sempre pagaria salários 10% acima da média do mercado

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 25 de maio de 2011 às 20h06.

Todos os dias, os 450 funcionários da Todeschini param de trabalhar durante 10 minutos para tomar um café e comer um pão com geléia ou uma fatia de bolo. Nem a pausa nem o lanche são cobrados dos empregados. É, digamos assim, uma oferta da casa. A fabricante de móveis de Bento Gonçalves, na serra gaúcha, uma empresa familiar de capital fechado com faturamento de 220 milhões de reais, consegue, com pequenos gestos como esse, ter um grupo de funcionários que mais parece uma família.

Dia das mães ou dos pais? Almoço e presente para os funcionários que têm filhos. Dia das crianças? Brincadeiras, doces e atividades culturais. No Natal, tudo isso e mais presente entregue pelo Papai Noel. Final de ano? Festa com distribuição de presentes. Aniversário da empresa? Torta para todo mundo.

Aniversário do funcionário? Almoço especial e um presente. E ele ainda participa de um almoço com a diretoria que reúne todos os aniversariantes do mês. Em dezembro, o jantar dos laureados reúne todos os funcionários que completam cinco (ou múltiplos de cinco) anos de empresa. O prêmio é um salário extra.

Cansou de tanta festa? Que tal descansar um final de semana na fazenda de reflorestamento que a Todeschini possui em Cachoeira do Sul, a 170 quilômetros de Porto Alegre? É só fazer a reserva com antecedência. Um motorista da empresa leva funcionários e familiares, mas se eles preferirem usar o seu próprio carro, a empresa paga a gasolina. O empregado prefere relaxar sem sair de Bento Gonçalves? O ginásio da Todeschini tem mesas de bilhar, televisão e quadras de esporte.

Com um ambiente desses, é difícil que algum funcionário falte ao trabalho. Mas ainda há um incentivo extra para a assiduidade. Toda sexta-feira, a empresa distribui uma cesta de alimentos ou produtos de higiene e limpeza para todos os funcionários que não faltaram durante a semana. Até estagiários, diretores e o próprio presidente podem pegar a sua.

Salários

A política de remuneração, implantada em 1996, definiu que os salários da Todeschini estariam sempre 10% acima da média do mercado. A cada três meses, a empresa faz uma pesquisa entre empresas do setor e da região para monitorar sua remuneração. Além disso, a partir daquele ano os salários foram indexados ao INPC


. A inflação é repassada mensalmente. O programa de participação nos resultados, PPR, introduzido na mesma época, é semestral e calculado sobre 10 indicadores de desempenho. Ele beneficia mais quem ganha menos. Os funcionários com menor remuneração recebem até 2,5 salários nominais. Os maiores salários recebem até 1,7 salário a mais por ano. Embora semestral, o PPR é pago no final do ano. A parte relativa ao primeiro semestre fica rendendo na poupança e o funcionário recebe o valor corrigido. O objetivo é aumentar o comprometimento de todos com os resultados da organização.

Numa empresa relativamente pequena, com apenas três níveis hierárquicos, para a maioria dos funcionários -- especialmente os operários -- o maior reconhecimento está nesse tipo de benefício. A cada cinco anos completos de trabalho na empresa, além de um salário de prêmio, o funcionário recebe 5% de aumento. Para garantir seu desenvolvimento, a Todeschini oferece bolsa integral para ensino fundamental e médio e subsídio de 80% para graduação, pós-graduação, cursos técnicos e idiomas.

Moeda própria

Mas tudo isso não seria suficiente se as pessoas ali não sentissem que são recompensadas pelos méritos que apresentam no trabalho. Há outras coisas importantes para alavancar a auto-estima de funcionários, especialmente os que têm funções de liderança.

Por isso, a Todeschini tem uma moeda própria, a Libra Sisterlina, usada para premiar idéias dos funcionários que são adotadas pela empresa. A libra sisterlina é convertida em reais e sua cotação, publicada mensalmente, está atrelada às metas atingidas. Os funcionários podem esperar uma taxa mais favorável para fazer a troca. Foi o que fez a funcionária Mônica Civardi, 30 anos, que trabalha na fábrica há quase 15 anos. Ela pertence a um dos 49 grupos operacionais existentes dentro da empresa que se reúnem semanalmente, durante uma hora, no horário de trabalho, para sugerir melhorias.

O grupo de Mônica foi um dos que mais receberam libras sisterlinas no ano passado. Ela juntou tudo e trocou no final do ano. Conseguiu praticamente um salário a mais. E usou o dinheiro para trocar as cortinas de sua casa.

No mês passado, seu grupo teve outra idéia premiada. Eles utilizam um rolo para passar cola que tem 80 centímetros e é emborrachado. O rolo era utilizado sempre na mesma posição e tinha um desgaste que obrigava sua substituição depois de pouco tempo de uso. O grupo sugeriu torná-lo móvel para ser utilizado em diversas posições, de forma mais uniforme, aumentando sua vida útil. "Com o dinheiro que ganhamos, comprei um novo ferro de passar roupa", diz Mônica.

"Temos uma preocupação em fazer com que a nossa cultura seja de direito conquistado e não de direito adquirido", diz João Paulo Pompermeyer, há 30 anos na empresa. Em julho último, ele foi promovido a diretor financeiro (era gerente administrativo e financeiro). "Eu mesmo sou um exemplo de reconhecimento", diz. "Está tudo atrelado ao desempenho e visto como reconhecimento de desempenho", diz Pompermeyer.


O funcionário da Todeschini inicia sua carreira com uma remuneração chamada nível A. Para conquistar um mérito (um mérito corresponde a 6,27% de acréscimo salarial), ele necessita ter duas avaliações de desempenho com classificação mínima satisfatória. Então, passa para o nível B. Para conquistar a maturidade na função e atingir o mérito C, o funcionário precisa de mais três notas satisfatórias em avaliações de desempenho. As avaliações são realizadas semestralmente numa reunião entre o funcionário e seu superior imediato.

Recrutamento

Além desse crescimento horizontal, as pessoas têm oportunidade de ver seu talento reconhecido na empresa por meio de promoções. A Todeschini tem uma política de recrutamento e seleção interna, pela qual 50% das vagas são oferecidas aos funcionários da empresa. Se eles têm o perfil exigido pela função, passam por um processo de seleção no qual é escolhido quem vai ocupar a vaga. "Deixamos 50% das vagas para recrutamento externo para dar oportunidade à comunidade local de fazer parte da nossa equipe."

No ano passado, 107 funcionários receberam méritos e 75 foram promovidos. No primeiro semestre deste ano, houve 3 promoções para cargos de diretores (uma delas a de Pompermeyer) e uma para supervisor.

Caso sinta-se injustiçado, o funcionário tem meios para reclamar. Há muitos canais para que ele avalie a empresa e exponha problemas, como pesquisa anual de clima e pesquisa relâmpago mensal para o funcionário dar nota para a empresa.

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