Negócios

Taxar minério pode ser barganha de Dilma para pressionar Vale, dizem analistas

Taxação seria apenas uma ameaça para que a Vale invista em siderurgia, mas, se adotada, vai corroer sua competitividade

Roger Agnelli, oficialmente fora da Vale: o governo deseja que a Vale invista mais em siderúrgicas (Divulgação/ Agência Vale)

Roger Agnelli, oficialmente fora da Vale: o governo deseja que a Vale invista mais em siderúrgicas (Divulgação/ Agência Vale)

DR

Da Redação

Publicado em 1 de abril de 2011 às 17h06.

São Paulo - A notícia de que a presidente Dilma Rousseff estuda taxar pesadamente as exportações de minério de ferro pode ser apenas uma forma de pressionar a Vale a se enquadrar. É sabido que o governo deseja que a Vale invista mais em siderúrgicas, com o objetivo de exportar aço, e não matérias-primas. Para os analistas, talvez a medida sequer saia da gaveta de Dilma, mas seria um modo de avisar a Vale de que a empresa deve seguir sua cartilha por bem ou por mal.

“Toda essa pressão sobre a Vale parece mais uma ação do governo para conseguir algo”, afirma Oswaldo Telles, analista da Banif Corretora. “Não faz sentido nenhum, por si só, um governo atacar uma área em que o país é líder mundial, como o minério de ferro”, diz. Além disso, a taxação das exportações de minério seria um tiro no pé do próprio governo, já que a commodity é o principal produto a equilibrar a balança comercial brasileira, ao lado da soja.

Competitividade

“Dependendo da taxação, a Vale vai competitividade, porque ela é a maior do mundo”, diz o analista Pedro Galdi, da corretora SLW. A sobretaxa também não seria positiva para o governo, uma vez que o superávit da balança comercial atualmente apoia-se sobre a soja e o minério, segundo o analista. “O governo está fazendo uma grande confusão’, diz. “O governo precisa entender o que é construir siderúrgica no Brasil, um país quase inviável  para isso, devido à carência de infraestrutura e aos impostos”, diz.

Galdi lembra, ainda, que o setor de siderurgia vive um momento de consolidação mundial. Grupos menores estão sendo vendidos ou se unindo para ganhar escala e continuar no jogo internacional. E escala é algo que a Vale, com certeza, ainda não tem neste setor. Outro ponto é que o mundo ainda tenta sair da grave crise que eclodiu em 2008, com a quebra do banco americano Lehmann Brothers. Além dos Estados Unidos, diversos países europeus lutam para equilibrar suas contas, e a China tenta desacelerar a economia para conter a inflação. Logo, não é a melhor época para um novo exportador de aço.

A intenção de Dilma de taxar as exportações de minério de ferro foi publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo nesta sexta-feira (1/4). É claro que a taxação não recairia apenas sobre a Vale, mas sobre todos os produtores do mineral, como a MMX, de Eike Batista, e a Anglo Ferrous, braço brasileiro da Anglo American. Por isso, além das implicações para a própria balança brasileira, a resistência das mineradoras pode contribuir para que a ideia não passe de um aviso para a Vale.

Procurado por EXAME.com, o Ministério da Fazenda afirmou que não comenta assuntos em estudo. Já a assessoria de comunicação do Ministério de Minas e Energia não tem informações sobre a possível taxação.
 

Acompanhe tudo sobre:EmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasGoverno DilmaIndústriaMineraçãoRoger AgnelliSiderurgia e metalurgiaSiderúrgicasVale

Mais de Negócios

Setor de varejo e consumo lança manifesto alertando contra perigo das 'bets'

Onde está o Brasil no novo cenário de aportes em startups latinas — e o que olham os investidores

Tupperware entra em falência e credores disputam ativos da marca icônica

Num dos maiores cheques do ano, marketplace de atacados capta R$ 300 milhões rumo a 500 cidades