Repórter
Publicado em 26 de agosto de 2025 às 06h16.
Em meio às tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e à pressão do governo brasileiro sobre o e-commerce chinês, marcas já conhecidas pelos brasileiros, como o Mercado Livre (MELI34) têm se beneficiado em relação às gigantes chinesas.
A companhia argentina superou 1,442 milhão de usuários ativos mensais (MAU, na sigla em inglês) na América Latina no primeiro semestre de 2025, segundo relatório do SensorTower, à frente da Amazon (553 mil MAU) e da Shein (157 mil MAU) no mesmo período.
Para as varejistas chinesas, como Temu, Shein e AliExpress, a situação é diferente. Em 2024, se intensifou a ofensiva fiscal contra essas plataformas. Por aqui, a “taxa das blusinhas” passou a cobrar 17% de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e 60% de imposto de importação sobre compras internacionais acima de US$ 50.
Outros países seguiram o exemplo. O Chile passará a cobrar 19% de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) sobre pacotes de até US$ 41 a partir de outubro, enquanto o México elevou sua alíquota de importação para 33,5%. O Uruguai incluiu em seu orçamento a cobrança de IVA sobre remessas vindas de países fora dos EUA.
Apesar disso, a demanda segue alta: no Uruguai, o volume de pacotes vindos da China mais que triplicou em 2025, com quase 1 milhão de encomendas no primeiro semestre, avaliadas em US$ 93 milhões, segundo dados alfandegários divulgados pela Bloomberg.
Embora tenha registrado crescimento explosivo na base de usuários, passando de 43 mil para 105 mil contas ativas em um ano, a Temu sofre com dificuldades de fidelização. Sua taxa de churn é de 37% — quase quatro vezes maior que a da Shopee (8%) e bem acima da do Mercado Livre (10%).
Boa parte do crescimento da Temu é impulsionado por mídia paga: 30% dos downloads vêm de anúncios digitais, o maior índice entre os marketplaces.
A Shein também opera com taxa elevada, de 25%. Em contraste, o Mercado Livre e a Casas Bahia mantêm esse indicador abaixo de 20%.
Apesar disso, a logística nacional consolidada e a integração com o sistema de pagamentos do Mercado Pago, além da presença em múltiplos canais, faz com que o Mercado Livre se beneficie do momento de retração de players asiáticos. Ocrescimento foi impulsionado também pela ampliação do tempo médio de uso semanal, um dos poucos apps a registrar alta consecutiva trimestre após trimestre desde o primeiro do ano passado.
A Shopee, por sua vez, segue engajada com consumidores por meio de campanhas mensais, ofertas relâmpago e frete gratuito, o que ajuda a manter o churn em patamar mínimo e ampliar o tempo de tela dos usuários.
Diante do novo cenário, a Temu começou a estocar produtos em armazéns locais no México, Chile, Colômbia e Peru, segundo informações da Bloomberg. Além disso, a plataforma abriu espaço para vendedores nacionais em alguns desses países, buscando reduzir os prazos de entrega e mitigar os impactos das novas tarifas de importação. A estratégia acompanha um modelo já utilizado anteriormente pela Shopee na região.
A Shein, por sua vez, aposta em branding agressivo e publicidade intensiva: em junho de 2024, seu site superou 542 milhões de visitas, enquanto o aplicativo atingiu 80 milhões de usuários ativos mensais.
Ambas as plataformas, no entanto, operam com forte dependência de mídia paga: 30% dos downloads da Temu e 25% da Shein são provenientes de anúncios patrocinados, segundo dados da SensorTower — índice superior ao de concorrentes como Mercado Livre e Casas Bahia, que operam com menos de 20% de tráfego pago.
As asiáticas também priorizam o canal mobile como principal frente de expansão na América Latina, reforçando investimentos na experiência do usuário, personalização de ofertas e campanhas promocionais localizadas, com datas específicas como 9.9 e 11.11 e o uso de influenciadores regionais.