Carlos Tavares: aos 55 anos de idade, ele está encarregado da reviravolta da segunda maior fabricante de carros da Europa (Chris Ratcliffe/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 7 de março de 2014 às 14h59.
Paris - O novo CEO da PSA Peugeot Citroën, Carlos Tavares, passeou pelo Salão Internacional do Automóvel de Genebra nesta semana sem dar sinais de que está assumindo um dos empregos mais difíceis da indústria automobilística.
Participar de seu primeiro salão de automóveis desde que ingressou na fabricante francesa “é muito prazeroso”, disse Tavares, enquanto corria para a área de exposição da Peugeot, onde tocava música eletrônica e o 308 hatchback -- o Carro Europeu do Ano de 2014 -- era exibido de forma proeminente. “Eu sou um cara de sorte”.
Ele pode ser o único que pensa assim. Aos 55 anos de idade, ele está encarregado da reviravolta da segunda maior fabricante de carros da Europa, que acumulou mais de 6 bilhões de euros (US$ 8,2 bilhões) em perdas nos últimos dois anos. Esguio e de cabelo curto, o ex-diretor de operações da concorrente francesa Renault SA sucederá Philippe Varin como CEO em 31 de março.
Tavares assumirá as rédeas em um momento crítico para a história da empresa de 118 anos de antiguidade. Com sua participação de mercado na Europa Ocidental caindo ao nível mais baixo em mais de duas décadas, os herdeiros do fundador Armand Peugeot renunciaram ao controle, fechando um acordo que permitiu que o governo francês e a empresa Dongfeng Motor Corp., apoiada pela China, adquirissem participações de 14 por cento. No processo, a participação da família será diluída para esse nível também.
O acordo pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição para Tavares. A transação somará 3 bilhões de euros aos cofres da Peugeot e lhe dará fôlego para iniciar planos de expansão na China, na Rússia e no Brasil.
Terra, fogo
Ao mesmo tempo, a estrutura de propriedade tripartite, incluindo sensíveis interesses políticos, pode se tornar um obstáculo para um executivo conhecido por ser franco e ocasionalmente bruto em suas avaliações, segundo Bruno Mathiez, chefe da comissão de trabalhadores da Renault.
“Será um desafio difícil”, disse Yves Dubreil, engenheiro aposentado da Renault que trabalhou com Tavares no final dos anos 1990. “O tripé Peugeot-Dongfeng-França é como ter água, fogo e terra juntos -- três elementos que são difíceis de se unir”.
Mesmo com sua energia positiva, Tavares tem plena consciência dos desafios que enfrenta. Em sua primeira reunião com analistas, no mês passado, ele discutiu a sobreposição das linhas de montagem da empresa com sede em Paris, que coloca os modelos Peugeot e Citroën uns contra os outros.
Ele falou sobre racionalizar custos e voltar o foco para os mercados emergentes. O “maníaco por carros”, como ele se descreve, que ingressou na Peugeot no dia 1º de janeiro, também não teve medo de ferir sensibilidades, quando lamentou que o investimento em desenvolvimento de Varin ficou atrás do realizado pelas concorrentes.
“Havia uma espécie de cegueira que Tavares agora parece estar questionando”, disse Bernard Jullien, diretor da think tank automotiva francesa Gerpisa. “Ele levou menos de três meses para se dar conta disso. Eu acho isso muito reconfortante”.
Sua competitividade ficou evidente no nome que ele deu para o plano de negócios que apresentará no mês que vem: “De volta à corrida”. Ao falar com analistas, em fevereiro, após ser oficialmente nomeado CEO, ele disse que a Peugeot tem humildade e que isso é “uma grande característica dos campeões”.
Em Genebra, Tavares, que nasceu em Lisboa, era o homem no comando de seu novo empregador. Ele e sua comitiva, incluindo o diretor de desenvolvimento, Gilles Le Borgne, percorreram o salão para analisar as ofertas rivais, entre as quais veículos utilitários esportivos compactos como o Kia Soul, o Mercedes GLA e o Jeep Renegade, e para observar a marca chinesa emergente Qoros. O estilo de condução duro de Tavares pode ser exatamente o que o médico receitou para a fabricante francesa.
“A imagem de competidor fará bem para nós”, disse Christian Lafaye, líder sindical da FO na Peugeot. “Certamente haverá alguns efeitos secundários, como quando alguém toma um remédio. Mas eu me atrevo a acreditar que esses efeitos serão menos importantes do que o que ele trará. Nós precisamos de um guerreiro”.