Redatora na Exame
Publicado em 3 de fevereiro de 2025 às 07h38.
Última atualização em 3 de fevereiro de 2025 às 07h44.
As novas tarifas alfandegárias impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem atrapalhar os planos de abertura de capital de grandes empresas chinesas que atuam no mercado americano.
Os analistas estão particularmente interessados em entender quais serão os efeitos do fim da isenção de impostos para remessas internacionais de até US$ 800 para varejistas online como Shein e Temu.
A Shein, que surgiu na China, mas tem sede em Singapura, trabalha para realizar uma das maiores ofertas públicas iniciais (IPO) na bolsa de Londres, com uma possível avaliação de mercado de até 50 bilhões de libras (cerca de US$ 61 bilhões) ainda neste ano.
No entanto, um novo decreto de Trump determinou o fim da isenção para pacotes de até US$ 800, uma brecha alfandegária que empresas como Shein e Temu utilizam há anos para evitar tarifas. Apesar dos esforços da Shein para diversificar seus centros de distribuição e minimizar impactos, a nova regulamentação pode afetar seus negócios diretamente. A empresa não comentou o assunto.
Segundo estimativas da alfândega dos EUA, apenas nos primeiros nove meses do ano passado, consumidores e empresas americanas importaram cerca de US$ 48 bilhões em remessas dentro do limite da isenção, agora revogada.
O anúncio de Trump já repercutiu nos mercados asiáticos. Empresas de comércio eletrônico, como a JD.com, viram suas ações caírem 3,2%, enquanto fabricantes chinesas, como a Li Ning Co., especializada em roupas esportivas, registraram uma queda de 2,9% na bolsa de Hong Kong.
O setor de tecnologia chinês, que já enfrentava desafios devido a restrições americanas, pode sofrer novos impactos. Há quatro anos, empresas como a JD.com eram avaliadas a múltiplos muito mais altos, mas hoje suas ações negociam a valores próximos aos de companhias de serviços públicos, como a CLP Holdings Ltd.
Após o anúncio de Trump, as ações da empresa de comércio eletrônico JD caíram 3,2%; enquanto os papéis da fabricante de roupas esportivas Li Ning recuaram 2,9% em Hong Kong.
Outra grande varejista chinesa atingida pelas medidas é a Temu, pertencente ao grupo PDD Holdings. Conhecida por oferecer descontos agressivos em diversos produtos para consumidores dispostos a esperar um tempo maior pela entrega, a plataforma se tornou uma alternativa popular a gigantes como Amazon e redes varejistas americanas.
Estima-se que, neste ano, a Temu movimente US$ 30 bilhões em vendas para clientes dos EUA, segundo a EMarketer Inc. Assim como a Shein, a empresa já havia começado a ampliar sua infraestrutura nos Estados Unidos e priorizar remessas em grandes volumes para evitar impactos diretos das tarifas. Ainda não está claro se essas ações serão suficientes para mitigar os efeitos das novas restrições.
A perspectiva de redução de receita devido às tarifas e possíveis restrições a investimentos estrangeiros pode levar diversas empresas chinesas a repensar seus planos de abertura de capital, segundo Gary Ng, economista sênior da Natixis SA, em entrevista à Bloomberg.
"Algumas companhias podem optar por esperar e avaliar os impactos antes de seguir com suas ofertas públicas", afirmou Ng. Caso os novos regulamentos resultem na desvalorização dessas empresas, muitas devem postergar seus IPOs.
Algumas companhias chinesas já citam as tensões comerciais com os EUA em seus registros de IPO. A farmacêutica Shanghai Bao Pharmaceuticals, por exemplo, declarou em seu pedido de listagem, em janeiro, que medidas de retaliação dos EUA poderiam prejudicar seus negócios.