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Tarifaço EUA: presidentes de empresas se posicionam sobre tarifa de 50% de Donald Trump

Mudar operação de país está nos planos da Ecosmetics para estabilizar o negócio. CEO da Amcham afirma que mais de 10 mil empresas serão impactadas

Ecosmetics tem centro de distribuição nos EUA e CEO prevê mudança para Panamá (Ecosmetics /Divulgação)

Ecosmetics tem centro de distribuição nos EUA e CEO prevê mudança para Panamá (Ecosmetics /Divulgação)

Publicado em 30 de julho de 2025 às 15h56.

Última atualização em 30 de julho de 2025 às 20h00.

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“Com essa taxação, é totalmente inviável sobreviver nos Estados Unidos. A conta não fecha”. Edson Borgo, CEO da fabricante de cosméticos Ecosmetics,   analisa o impacto das tarifas anunciadas nesta quarta-feira sobre seus negócios. A reportagem da EXAME conversou com ele e com outros empresários sobre a realidade pós-tarifaço.

O presidente americano Donald Trump assinou um decreto executivo que oficializa a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros. No total, 694 produtos ficaram isentos da taxação, o que equivale, nas contas da Camâra Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), a 42% das exportações brasileiras.

Para Abrão Neto, CEO da Amcham (Câmara Americana de Comércio), a tarifa de Trump pode resultar na perda de mais de 3,2 milhões de empregos no país, afetando diretamente diversos setores essenciais da economia nacional, impactando cerca de 10 mil empresas brasileiras.

"O impacto da tarifa não se limita a um único segmento. Setores como o agropecuário e o industrial seriam especialmente atingidos, dada a natureza das exportações brasileiras para os Estados Unidos, que incluem produtos como café e têxteis", afirma Neto.

Novo centro de distribuição da Ecosmetics no Panamá

A Ecosmetics, que não entrou na lista de isenções, tem sede na Bahia e negócios em 74 países, para onde vende produtos com foco em ingredientes naturais e da biodiversidade brasileira. Um de seus centros de distribuição está na Flórida, e o mercado americano representa de 8% a 12% do faturamento com exportações. Agora, o modelo está em xeque.

Entre as alternativas de médio prazo está a migração do centro de distribuição da Flórida para o Panamá.

“O país não possui restrições comerciais como os Estados Unidos. O distribuidor do Panamá venderia para o distribuidor americano, funcionando como ponte”, diz o CEO. No entanto, essa operação ainda está em estudo, porque os custos da logística indireta podem não compensar a tarifa americana.

Risco de perda de mercado americano

Além dos custos, a maior preocupação da empresa é perder os distribuidores nos EUA — responsáveis por levar os produtos da marca aos salões de beleza. “Se eu deixo de entregar, o distribuidor substitui por uma marca europeia, que não sofrerá a mesma taxação. E aí, perdemos o canal de acesso ao consumidor final”, diz o CEO.

Borgo acredita que o setor de cosméticos brasileiro pode ser um dos mais atingidos pela medida. “O Brasil compra muito mais dos Estados Unidos do que vende. Essa taxação não tem lógica comercial, é claramente uma retaliação política”, afirma.

Apesar disso, o presidente também reforça que existe uma intenção do governo americano que de que empresários possam investir na criação de uma fábrica nos Estados Unidos, mas o processo não é tão fácil, muito menos barato.

“Levaríamos de dois a três anos para implantar uma planta lá. Fora o investimento milionário. É inviável para a nossa empresa,” afirma.

Redirecionamento de investimentos

Com o cenário incerto, a Ecosmetics já começou a redesenhar sua estratégia. “Vamos tirar investimentos de feiras internacionais e ampliar nossa presença no mercado nacional. Também estamos reforçando a atuação no Oriente Médio, apesar da tensão geopolítica”, afirma.

A expectativa da empresa é manter a projeção de crescimento para 2025, mesmo com os desafios entre 25% e 30% em vendas e de 8% a 12% em faturamento.

“Mas, sim, o tarifaço impacta financeiramente e emocionalmente. Trabalhamos oito anos construindo esse mercado. Agora que a operação começa a decolar, somos obrigados a parar tudo”, diz Borgo.

O CEO da Ecosmetics espera que os governos brasileiro e americano encontrem uma solução diplomática para essa situação.

“Acredito que Trump não manterá essa taxação tão elevada, é mais uma pressão política. Mas o tempo é curto. Temos cargas paradas, distribuidores pressionando e um risco real de ruptura”.

O café não entrou na lista de isenção

Trump anunciou nesta quarta-feira, 30, uma lista com mais de 300 produtos que serão isentos da taxa de 50% - mas o café ficou fora. Esse é o setor que move a economia da Contegran, empresa de comércio atacadista de café brasileiro. Segundo o fundador e presidente, Renan Lippaus, a taxa de 50% de Trump sobre o café não trará impactos neste momento para a companhia, mas certamente em um futuro breve.

"Nós buscamos outros mercados fora dos Estados Unidos. Hoje todo nosso café vai para Europa, Oriente Médio e Ásia, mas tarifas impostas pelo governo americano pode trazer impactos negativos para o nosso mercado, visto que empresas que vendem no mercado americano terão que direcionar as vendas para outros países", afirma Lippaus.

BrasPine: férias coletivas devido ao tarifaço

Outra empresa que sofreu impactos com o anúncio do tarifaço é a BrasPine, empresa do Paraná que fabrica molduras de madeira, que decidiu no começo do mês adotar férias coletivas de 30 dias para 1500 funcionários nas unidades de Jaguariaíva e Telemaco Borba, segundo a área de Comunicação da BrasPine.

“Essa turma de funcionários são todos da operação e será dividida em dois grupos, um deles sai de férias, e depois o outro sai. A ideia é manter as unidades em operação porque temos compromissos com os nossos clientes”, diz a fonte da empresa.

A companhia se consolidou como uma das principais empregadoras do estado do Paraná. Fundada em 1997, por três sócios, a BrasPine tem duas unidades fabris: uma em Jaguariaíva com cerca de 1,3 mil funcionários e outra em Telêmaco Borba com cerca de 1,1 mil. Além disso, a companhia também tem uma área florestal que começou em 2020 com 150 funcionários, além de dois escritórios em Curitiba e Porto Alegre que emprega 50 pessoas.

A dependência com a exportação americana

Por ser uma empresa de capital fechado, a BrasPine não abre informações sobre o faturamento e produção, mas a fonte diz que a companhia tem forte dependência do mercado americano, por trabalhar com três segmentos de negócio — e dois deles dependem muito da exportação, que são:

  • Mouldings (molduras de madeira, que são o carro-chefe da empresa);
  • Pellets de madeira (um tipo de pinus feito de subprodutos, que funciona como biocombustível),
  • Florestal (plantação de árvores para uso como matéria-prima).

Leia também: Trump diz que tarifas sobre medicamentos e chips podem ser implementadas até o fim do mês

“No caso das molduras de madeira, a maior parte é exportada para os Estados Unidos. Já no caso dos pellets, são os países europeus o principal mercado de importação”, afirma a fonte.

O sertor de madeira está na lista dos 694 produtos isentos da taxa de 50% do presidente Donald Trump. A Braspine, no entando, ainda não sabe os reais impactos dessa decisão para os negócios.

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