A nova tarifa, que deve entrar em vigor a partir desta quarta-feira, 6, incide sobre itens como madeira serrada, painéis, portas, móveis e molduras produzidos a partir de florestas plantadas de pinus e eucalipto. (Pedro Costa Simeao/Getty Images)
Repórter
Publicado em 5 de agosto de 2025 às 18h00.
Última atualização em 5 de agosto de 2025 às 18h44.
A decisão do presidente Donald Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros impacta diretamente o setor de base florestal, com efeitos severos sobre os estados da Região Sul, em especial o Paraná — maior produtor brasileiro de madeira de pinus.
A nova tarifa, que deve entrar em vigor a partir desta quarta-feira, 6, incide sobre itens como madeira serrada, painéis, portas, móveis e molduras produzidos de florestas plantadas de pinus e eucalipto. Segundo dados do setor, os produtos florestais lideram as exportações do agronegócio para os Estados Unidos, somando US$ 3,7 bilhões por ano — dos quais cerca de US$ 1,7 bilhão é originado da Região Sul.
“É uma notícia muito ruim. Justamente no que o Paraná é bom, onde se destaca, vamos ser taxados de forma muito forte e veemente”, afirma Fabio Brun, presidente da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE Florestas). O executivo também alerta para o risco de fechamento de postos de trabalho e paralisação de operações em larga escala.
"Só no Paraná cerca de 40 mil empregos estão ameaçados", afirma o presidente.
A dependência do setor florestal brasileiro em relação ao mercado americano é evidente. No caso das molduras produzidas no Paraná, 98% das exportações — o equivalente a US$ 102 milhões entre janeiro e junho de 2025 — têm como destino os EUA. O mesmo ocorre com as portas de madeira: 96% da receita (US$ 34 milhões de um total de US$ 35 milhões) vem do país.
Em produtos como compensados de pinus e madeira serrada, a dependência é um pouco menor, mas ainda significativa: 33% das exportações desses itens são destinadas aos Estados Unidos.
Antes mesmo da publicação oficial da medida, empresas do setor já haviam adotado estratégias para conter os impactos: suspenderam os envios aos Estados Unidos, reduziram estoques e implementaram férias coletivas para evitar demissões.
“A exportação para os Estados Unidos representa volumes que não podem ser redirecionados de forma rápida a outro mercado. Buscar novos compradores é um trabalho de médio prazo e, muitas vezes, exige redução de preços”, afirma Brun.
Uma das empresas que adotaram férias coletivas foi a Braspine, empresa do Paraná que fabrica molduras de madeira, que decidiu no começo do mês adotar férias coletivas de 30 dias para 1,5 mil funcionários nas unidades de Jaguariaíva e Telemaco Borba.
“Essa turma de funcionários é toda da operação e será dividida em dois grupos, um deles sai de férias, e depois o outro sai. A ideia é manter as unidades em operação porque temos compromissos com os nossos clientes”, diz a fonte da empresa.
Alguns produtos importantes para o setor ficaram de fora da nova tarifa. Entre eles, a celulose química (solúvel, soda, sulfato, sulfito), celulose semiquímica e a celulose feita de papel reciclado ou bambu — insumos não produzidos nos EUA e utilizados na fabricação de itens como papel higiênico e guardanapos.
Também escapou o ferro-gusa produzido com carvão vegetal, que integra a cadeia das florestas plantadas e substitui insumos de origem fóssil.
O setor de base florestal é um dos líderes das exportações do agronegócio, como tem forte capilaridade no interior do país, especialmente no Sul. O Paraná concentra metade da produção nacional de pinus e é responsável por 15% dos empregos diretos no setor florestal.
“Estamos falando de uma cadeia produtiva bem diversificada. Além da atividade econômica, essas indústrias mantêm projetos sociais e de saúde. Ou seja, a área social também poderá ser bastante afetada com essa retração”, afirma o presidente da APRE.
A medida é vista com perplexidade pelo setor, especialmente por ocorrer em um momento em que as florestas plantadas ganham destaque global como solução sustentável para o enfrentamento das mudanças climáticas. A madeira proveniente dessas florestas é considerada renovável e menos intensiva em carbono.
“O setor de base florestal plantado é hoje um dos pilares da sustentabilidade global. É difícil entender por que estamos sendo penalizados dessa forma, em um movimento que não tem base técnica, comercial ou regulatória, mas sim política”, critica Brun.
Nos próximos dias, a associação deve apresentar ao governo do Paraná uma série de pleitos, incluindo:
A expectativa, segundo o CEO da APRE Florestas, é que o governo estadual e o federal atuem com urgência para proteger essa cadeia do agronegócio. “Precisamos garantir empregos, renda e competitividade em meio à crise gerada pela tarifa dos EUA”.