Rei Carl XVI Gustaf da Suécia: incentivo para que mais startups suecas venham ao Brasil (Tomohiro Ohsumi/Getty Images)
Rafael Kato
Publicado em 10 de abril de 2017 às 17h11.
Última atualização em 10 de abril de 2017 às 21h04.
Reportagem publicada originalmente em EXAME Hoje, app disponível na App Store e no Google Play. Para ler reportagens antecipadamente, assine EXAME Hoje.
Decoração de inspiração escandinava na sala de estar, eletrodomésticos da marca Electrolux na cozinha e, dependendo do tamanho da garagem, um carro Volvo ou um caminhão Scania estacionado. A indústria sueca e seu design são reconhecidos no Brasil — a própria Electrolux, por exemplo, está presente no Brasil desde 1926. Mas cada vez mais o país nórdico quer estar presente na vida digital dos brasileiros.
Para dar a dimensão do interesse da Suécia no mercado digital brasileiro, basta dizer que o rei Carl XVI Gustaf, em visita ao Brasil esta semana, fez questão de se encontrar com startups e empreendedores suecos radicados no país, em reunião na Swedcham, a câmara de comércio sueco-brasileira. O resultado do encontro, acompanhado por EXAME Hoje, não poderia ter sido mais animador: do que depender de sua majestade, a vinda de mais empresas de tecnologia para o Brasil será incentivada.
Uma das principais sugestões de Carl XVI Gustaf, de 70 anos e usuário de um smartphone, foi um encontro entre empresários suecos dentro de seis meses para trocar as experiências sobre o mercado nacional. "Todo mundo ama o Brasil. As pessoas gostariam de vir para cá, só estão com medo. É uma questão de aumentar o intercâmbio de informações", afirmou Joakim Pops, da WebRock Ventures, um fundo de investimento sueco voltado para o mercado brasileiro.
O medo sobre o Brasil é justificado. A retração do PIB em 2016 foi de 3,6%. Em 2015, a economia já havia recuado 3,8%. Segundo os empreendedores ouvidos por EXAME Hoje, o cenário de instabilidade política também não ajudou. Mas, por outro lado, o panorama digital brasileiro é animador: são quase 110 milhões de brasileiro com acesso à internet — 102 milhões deles são usuários do Facebook — e uma adoção crescente de smartphones. Até o final de 2018, segundo a empresa de tecnologia Adobe, 45% do tráfego de internet no Brasil será via smartphone, atualmente esse percentual está em 36%. O Brasil terá, segundo o relatório, uma taxa de adoção mais rápida que a da China.
São esses números que têm animados os suecos. “Estamos tentando encontrar novas áreas em que podemos ampliar nossa cooperação no contexto tecnológico. Não posso dizer sobre uma área específica, mas temos interesse diversos. Incluindo, claro, empresas jovens e pequenas”, afirmou Carl XVI Gustaf, em entrevista a EXAME Hoje.
No momento, Brasil e Suécia trabalham juntos na versão brasileira dos aviões de caça Gripen, um projeto originalmente da empresa aeroespacial sueca Saab. Na visão do governo sueco, como o projeto do Gripen envolve também transferência tecnológica, seria interessante incentivar a vinda de startups que explorem novas tecnologias que venham a ser criadas no projeto do caça.
Essa relação próxima com as indústrias tradicionais, como a aviação, é uma das razões para o bem sucedido mercado de startups sueco e também pode ser benéfico para o Brasil. “Temos uma base industrial muito avançada e empresas que trabalham com alta tecnologia, como a Volvo, Ericsson e Saab. E mais: essas empresas criam sempre novos modelos de negócio. É muito comum também, que os gerentes dessas empresas saiam para montar suas startups a partir de ideias tidas dentro dessas companhias”, afirma Per-Arne Hjelmborn, embaixador da Suécia no Brasil.
Com uma indústria forte, educação de ponta e uma economia estável, não chega a surpreender que a capital Estocolmo seja um importante hub europeu de inovação. A cidade é sede, por exemplo, da empresa de streaming de música Spotify e viu florescer também empresas como a King, do jogo Candy Crush Saga, com mais de 200 milhões de usuários ativos, e o software de comunicação Skype, comprado pelo Microsoft, em 2011, por 8,5 milhões de dólares.
Só que apesar de ser um polo para as startups, Estocolmo sofre com uma crise habitacional e falta de mão de obra. Não há casas e nem escritórios para todos os interessados em residir na cidade. As filas para conseguir alugar um apartamento demoram, em média 9 anos. Em alguns bairros, segundo a BBC, podem demorar até 20 anos. Do mesmo modo, falta de programadores e outros profissionais de TI no país escandinavo. Até por isso, as empresas veem a expansão internacional como necessidade e não apenas como uma possibilidade de aumentar o faturamento.
Com o Brasil voltando a crescer no futuro e mais fazer seu forte mercado digital, ainda haveria algo capaz de brecar a chegada de mais empresas suecas ao Brasil? Segundo os empreendedores, a tributação confusa ainda assusta. Mas a dica recebida pelo rei de um executivo tentou amenizar a questão: "Eu falaria para as empresas virem para cá, mas recomendaria encontrar um parceiro para entender a burocracia”. É o jeitinho sueco de fazer negócios.