Nesta foto, tudo é vegetal; e metade dos brasileiros tem buscado incluir pratos como estes entre as refeições (Beleaf/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 27 de julho de 2022 às 09h00.
A busca por uma alimentação mais equilibrada vem impulsionando o consumo das proteínas alternativas no mundo todo. O movimento, que só cresce, é liderado por um novo perfil de consumidor, conhecido como flexitariano.
São pessoas que não são veganas nem vegetarianas, mas procuram reduzir a frequência do consumo de proteína animal, substituindo-a por opções vegetais em parte das refeições.
Globalmente, esse público já corresponde a 23% dos consumidores. Já os que seguem uma dieta vegana ou vegetariana estrita são um grupo bem menor, representando 4% e 7%, respectivamente, segundo relatório de 2021 do Euromonitor.
O Brasil acompanha a tendência mundial. Um estudo de 2020 do The Good Food Institute (GFI) mostrou que cerca de 50% dos brasileiros estão dosando o consumo de produtos de origem animal. Dois anos antes, em pesquisa realizada pelo GFI e Snapcart, a porcentagem era de 29%.
Esse comportamento tem acelerado a expansão das foodtechs que atuam no segmento, trazendo para o consumidor – seja ele vegano ou não – cada vez mais opções de alimentos e bebidas à base de vegetais. Conheça a seguir três dessas startups que estão movimentando o mercado.
Primeira marca brasileira de marmitas veganas ultracongeladas pensada para o público flexitariano, a Beleaf nasceu em 2016, em São Paulo, depois de Fernando Bardusco, um dos fundadores da empresa, conhecer nos Estados Unidos um restaurante de comida crua.
“Logo surgiu a ideia de pesquisar o mercado para encontrar um caminho que pudesse aliar propósito e lucratividade. Ao aprofundar essas pesquisas, me deparei com o mercado plant-based (baseado em plantas), cuja proposta é melhorar a vida de todos, assim como a do planeta”, conta Bardusco.
O crescimento dessa consciência nas pessoas fez com que ele se juntasse a Jônatas Mesquita e Fábio Biasi na construção da VeganJá, que logo se transformaria na Beleaf.
O posicionamento da startup fala diretamente com os flexitarianos. Até o logo da empresa foi redesenhado recentemente para se comunicar melhor com esse público (a nova versão, aliás, acaba de ser premiada como melhor redesign de logo das Américas).
Para o sócio-fundador, cada vez mais pessoas têm buscado o equilíbrio em suas escolhas alimentares e essa iniciativa deve ser feita sem julgamentos ou cobranças. “Queremos incluir a pessoa que come churrasco no fim de semana, mas que busca ter uma segunda-feira sem carne ou comer de maneira mais saudável no trabalho. Você não precisa ser plant-based, mas a gente é”, diz.
No portfólio da foodtech estão mais de 30 produtos, entre pratos, sopas e doces, que são entregues em até 24 horas em São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro.
Com tecnologia de ultracongelamento trazida da Itália, associada ao cuidado do time que está na linha de produção, a Beleaf já vendeu mais de 1 milhão de marmitas 100% veganas, saudáveis e sem conservantes. “Mas com sabor”, ressalta Bardusco. “Porque a comida não é só nutritiva, ela precisa ser saborosa”.
A combinação tem dado muito certo: a empresa já captou R$ 12,8 milhões e cresceu dez vezes nos últimos três anos. Diante do sucesso do negócio, recentemente a fábrica de São Paulo foi ampliada, fazendo a capacidade de produção saltar de 2 mil para 10 mil refeições por dia. “Acreditamos que este é só o começo”, finaliza.
Com uma proposta plant-based diferente – refeição em pó, dentro de uma garrafa –, a Foodz nasceu em São Paulo, há 2 anos, em plena pandemia, depois que Morgan Dierstein, recém-pai, se viu sem tempo para cozinhar e manter uma alimentação equilibrada.
Ele então resolveu desenvolver uma opção de comida que fosse muito prática, mas saudável, como alternativa ao consumo de fast foods. A ideia emplacou depressa: no ano seguinte, 2021, a Foodz teve um crescimento de 350%, com 300 mil refeições vendidas e 30 mil consumidores atendidos.
“O objetivo é que nossos clientes possam otimizar o tempo, sem, é claro, esquecer da saúde do corpo e do planeta. Por isso, nossas refeições são completas e equilibradas nutricionalmente e nossas embalagens biodegradáveis”, diz o fundador e CEO da Foodz.
A refeição dentro da garrafa, disponível em quatro sabores, possui 25 g de proteínas (de ervilha e arroz), 8 g de fibras, 26 vitaminas e minerais essenciais, carboidratos de absorção lenta e leite de coco como fonte saudável de gordura. Tudo plant-based, sem glúten nem lactose.
Elaborados por nutricionistas e engenheiros de alimentos, os produtos, segundo ele, podem ser consumidos em qualquer refeição – café da manhã, almoço ou jantar. Para ficarem prontos, basta colocar água e misturar.
“Mas não queremos substituir totalmente a alimentação feita em casa, com carinho e amor, e sim ser uma opção mais conveniente para os dias cheios de trabalho ou de preguiça”, ressalta.
Além da praticidade, Dierstein destaca que outro conceito-chave para a Foodz é a transparência. “O futuro anda para que o consumidor seja mais consciente e educado sobre o que ele consome. O ‘você é aquilo que come’ nunca foi tão verdadeiro”.
Com ingredientes 100% à base de plantas, a N.OVO é pioneira no Brasil ao oferecer um substituto para ovos em receitas e preparações como omeletes e ovos mexidos.
A foodtech nasceu em 2019, dentro da Granja Mantiqueira, com sede em Itanhadu (MG). Amanda Pinto, de olho nas tendências mundiais, foi quem trouxe a ideia e fundou a marca, que hoje é uma empresa independente.
“O público-alvo são os flexitarianos”, conta ela. “Todos os produtos são elaborados com tecnologias proprietárias da N.OVO para replicar sabor, textura, cheiro e aparência das comidas de origem animal, trazendo nutrição com inovação ao prato”.
“A intenção da empresa também é gerar menos impacto no planeta, combatendo grandes problemas globais causados pela forma como os alimentos são produzidos”, acrescenta.
Hoje, além das alternativas para ovos, a startup já possui substitutos plant-based para maioneses, por exemplo, elaboradas a partir de um mix de vegetais e óleo de girassol, e a intenção é ampliar o portfólio. Para isso, a N.OVO também se dedica à busca por proteínas alternativas que possam ser encontradas em solo brasileiro.
“Conduzimos pesquisas junto a alguns dos principais polos tecnológicos do Brasil, como a EMBRAPA, e do mundo, como a Universidade de Berkeley”, diz a empreendedora, que em 2020 foi reconhecida como inventora do ano pelo MIT e entrou na lista dos principais inovadores da América Latina com menos de 35 anos.
Do ponto de vista do negócio, a N.OVO segue em ascensão. Em quilos vendidos, até agora o crescimento foi de 343% e, financeiramente, 302%.
Na lista de clientes, a marca tem grandes varejistas do ramo de supermercados, mercados gourmet e restaurantes, como Le Pain Quotidien, Divino Fogão e Lanchonete da Cidade.
“O objetivo é atingir um crescimento exponencial nos próximos anos, com incremento do nosso portfólio e entrada em outros mercados. O Brasil, que já é um dos principais exportadores de proteína animal, tem tudo para ser um líder em proteína vegetal também”, completa.