Redação Exame
Publicado em 27 de janeiro de 2025 às 07h43.
Última atualização em 27 de janeiro de 2025 às 07h44.
A combinação de valuations inflados, alta liquidez em 2020 e 2021, e mudanças macroeconômicas nos últimos anos tem cobrado um preço alto de startups ao redor do mundo. Em 2024, 966 startups deixaram de operar, contra 769 em 2023, segundo a plataforma de gestão de patrimônio Carta.
A AngelList também registrou um salto de 364 encerramentos em 2024, 56,2% acima do ano anterior.
Peter Walker, diretor de insights da Carta, relaciona o aumento ao grande número de empresas financiadas em rodadas expressivas nos últimos anos. "Venture capital não ficou melhor em escolher vencedores em 2021, o que explica a maior taxa de falhas agora", disse Walker ao TechCrunch.
Os fechamentos ocorrem principalmente entre startups em estágios iniciais, com 74% delas na fase pré-seed ou seed, segundo a SimpleClosure, em entrevista para o TechCrunch. Dori Yona, CEO da empresa, ressalta que o capital abundante do passado incentivou práticas insustentáveis. "Queimaram recursos e perseguiram crescimento a qualquer custo, enfrentando problemas de mercado após a pandemia", explicou Yona.
Além disso, valuations superestimados dificultaram rodadas subsequentes de captação, especialmente com a retração do capital de risco em 2023 e 2024. Isso resultou em startups sem fundos suficientes para atingir o ponto de equilíbrio ou devolver capital a investidores.
Os setores mais impactados refletem os maiores investimentos feitos durante o auge do financiamento. Empresas de enterprise SaaS representaram 32% dos fechamentos, seguidas por consumo (11%), healthtech (9%), fintech (8%) e biotech (7%).
Além disso, startups fundadas para atender tendências pandêmicas estão entre as mais vulneráveis. Exemplos recentes incluem a Pandion, especializada em logística, e a proptech EasyKnock, que acumulou US$ 455 milhões em financiamento antes de fechar em dezembro de 2024.
A tendência não deve arrefecer tão cedo. Walker projeta que o número de encerramentos seguirá elevado no início de 2025, antes de diminuir gradualmente. "Empresas que não encontrarem um novo caminho até o primeiro trimestre terão de enfrentar decisões difíceis", disse ele.
Com uma nova safra de startups surgindo, Avlok Kohli, CEO da AngelList, destaca que nem todas as empresas financiadas em 2020 e 2021 estão destinadas ao fracasso. Contudo, o ambiente atual exige maior diligência dos investidores e adaptação das empresas a uma realidade mais austera.
O cenário é claro: o otimismo exagerado e o financiamento fácil dos anos passados deixaram um rastro de "zumbis tecnológicos", cujos desafios continuarão moldando o mercado nos próximos anos.