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Conheça a startup que transforma cascas de abacaxi em produtos de limpeza

Usando biotecnologia, empresa cria produtos 100% orgânicos a partir de enzimas da fruta que quebram a gordura como qualquer outro detergente sintético

O detergente com eco-enzimas não só ajuda a natureza, mas é eficaz na limpeza e ainda faz bem para a pele (Fuwa3e/Divulgação)

O detergente com eco-enzimas não só ajuda a natureza, mas é eficaz na limpeza e ainda faz bem para a pele (Fuwa3e/Divulgação)

EXAME Solutions
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Publicado em 6 de fevereiro de 2024 às 08h00.

O Vietnã é hoje um dos principais produtores agrícolas no mundo, mas lidar com os resíduos orgânicos, como sobras de frutas e legumes, tem sido um desafio. Toneladas de cascas, talos e folhas acabam se decompondo em aterros sanitários, causando prejuízos ao meio ambiente.

Com o desejo de resolver parte desse problema, uma statup local usa cascas de vegetais descartadas, principalmente de abacaxi, para criar produtos orgânicos de cuidado com a casa e o carro, como detergente, sabonete líquido, sabão para roupas e lava-louças, desinfetante e aromatizador de veículos.

Para isso, a FUWA3e, com sede na cidade de Thanh Hoa, trabalha com uma avançada tecnologia de enzimas biológicas. A partir da fermentação das cascas junto com açúcar mascavo, a equipe extrai uma essência natural rica em enzimas como protease, amilase e lipase, que têm excelente poder de limpeza.

Com elas são elaborados limpadores eficazes, que quebram a gordura e desinfetam como outros detergentes, mas com a diferença de serem feitos de ingredientes da natureza, não tóxicos e absolutamente seguros para a pele dos usuários, inclusive de bebês, gestantes e idosos. 

O dermatologista agradece

Foram mais de dois anos investidos em pesquisa e desenvolvimento à procura da fórmula certa. Até que chegaram ao abacaxi como matéria-prima principal, pelo potencial dos ácidos orgânicos da sua casca. Em um experimento, por exemplo, uma faca de aço enferrujada ficou mais limpa e afiada ao ser usada para descascar um abacaxi.

O objetivo dos idealizadores era aproveitar as cascas desperdiçadas para desenvolver algo que fosse bom para o meio ambiente e sem risco para a saúde humana. Porém, o resultado foi ainda melhor: no meio do caminho, na fase de testes com consumidores, a equipe descobriu que o detergente de abacaxi não só limpava a louça, mas também fazia bem para a pele. 

Estudos mostraram que 20% das pessoas tinham problemas de pele devido ao uso frequente de produtos de limpeza doméstica. Entretanto, usando as amostras da FUWA3e, muitas deixaram de usar luvas para lavar louça e algumas até se recuperam da dermatite atópica.

Cascas de abacaxi sendo separadas para o processo de extração das enzimas (Fuwa3e/Divulgação)

Tecnologia versátil

A história da startup começou em 2016, quando os jovens empreendedores Do Xuan Tien, Le Duy Hoang e Bui Thi Bich Ngoc iniciaram as pesquisas com enzimas e os testes em pequena escala. 

Em 2019, a empresa foi fundada e, após dois anos, já era reconhecida internacionalmente – foi até apresentada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – e uma nova fábrica, voltada para exportação, passou a ser construída.

Hoje, a FUWA3e já superou a marca de um milhão de unidades vendidas e está na Amazon americana. A empresa tem capacidade de produção de 200 mil produtos ao mês, é certificada ISO9001 e HACCP e atende a diferentes segmentos, além do residencial. 

A empresa tem parceria, por exemplo, com uma grande marca de seda vietnamita, para a qual fornece todo o sabão usado na lavagem dos finos tecidos, já que o produto ecológico mantém a maciez natural das fibras, evitando o uso de amaciantes. 

A FUWA3e aplica sua tecnologia também para tratar águas residuais, desodorizar e limpar o sistema de esgoto. As enzimas são capazes de decompor resíduos orgânicos, gorduras e graxas descartadas de residências e fábricas. 

Economia circular no coração do negócio

Mais do que soluções ecologicamente corretas, a companhia busca ser mais sustentável em todos os processos produtivos. Sua fábrica, que coleta mais de dez toneladas de cascas de frutas por mês, tem desperdício zero. Inclusive os resíduos das enzimas fermentadas viram biofertilizantes depois. 

Os produtos também são entregues ao consumidor diretamente de fábrica no norte do Vietnã. Sem intermediários, a marca encurta a cadeia de abastecimento e minimiza ainda mais seu impacto climático.

Lá na ponta da cadeia, há ainda uma preocupação com a questão da embalagem. Para isso, além de um programa de recolha de garrafas de plástico, a empresa mantém um sistema nacional de refil. São mais de mil pontos de recarga no Vietnã, nas principais cidades do país, em que a pessoa leva a sua embalagem vazia e reabastece com produtos da marca. 

Uso de enzimas é tendência

Outra contribuição ambiental da tecnologia da FUWA3e é o menor gasto de energia elétrica nas residências. Com o desempenho máximo das enzimas na água fria, não há necessidade de uso de água quente na torneira ou lava-louças para ajudar a tirar a gordura da louça ou, na lavadora, para remover manchas das roupas. 

Ao mesmo tempo, tecidos mais delicados são melhor conservados e peças jeans sofrem menos com o desbotamento, aumentando a sua durabilidade.   

Por esses e outros fatores, fabricantes tradicionais de produtos detergentes estão de olho em inovações como as da empresa vietnamita, para adicionar enzimas às suas composições, em concentrações mais baixas, substituindo ingredientes sintéticos. 

Isso significa que daqui um tempo pode ser que suas tarefas domésticas também sejam realizadas com produtos vindos da casca do abacaxi. Fruta para isso não falta: o Brasil é quarto produtor mundial de abacaxi, com 2,3 milhões de toneladas por ano. 

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