Beliy: foco é educar consumidor para ser líder no país (Alexey Beliy/Albato/Divulgação)
Karina Souza
Publicado em 21 de outubro de 2021 às 16h28.
Última atualização em 22 de outubro de 2021 às 11h39.
A carência de profissionais de tecnologia é um fato. Só na grande São Paulo, segundo dados coletados pela Catho, o aumento da procura por desenvolvedores foi de 600% em relação ao período pré-pandemia. Ao mesmo tempo, seis em cada dez líderes de empresas afirmam que o investimento em tecnologia será uma prioridade ainda maior nos próximos anos. Como equalizar os dois lados dessa balança? Para a startup russa Albato, a solução está no aumento contínuo da disseminação de plataformas “no-code”, um mercado em ascensão no Brasil. E, para ser líder no Brasil dentro do segmento, a empresa chega ao país com um investimento inicial de 1 milhão de dólares (ou R$ 5,4 milhões).
Para ficar fácil de entender, é possível, novamente, recorrer à analogia da construção civil: construir um app ou um programa para uma empresa do zero seria como construir uma casa do jeito tradicional, com tijolos, argamassa e um tanto de tempo dedicado. O low-code facilita esse processo, como se trouxesse uma casa pré-fabricada, mas na qual ainda seria necessário ter conhecimento para reformá-la e deixá-la do jeito esperado. E o no-code seria algo como uma casa pré-fabricada, já reformada e mobiliada, em que você só teve de escolher pela internet o que seria necessário ter dentro do seu novo lar.
Trazendo o conceito para a aplicação real, enquanto no low-code, é necessário que a pessoa que utiliza essas ferramentas e plataformas tenha algum conhecimento em desenvolvimento e programação, no “no-code”, não é necessário ter conhecimento algum em programação para criar um aplicativo ou um programa de computador em geral, do zero. Junto ao low-code, esse mercado fatur, atualmente, entre US$ 13,3 bilhões e US$ 17,7 bilhões, valores que podem crescer para US$ 58,8 bilhões a US$ 125,4 bilhões em 2027, segundo estimativas do Gartner.
No caso da Albato, os R$ 5,4 milhões a serem aplicados no Brasil são apenas o primeiro passo para um plano maior de tomar a liderança no país e, posteriormente, adquirir relevância na América Latina. Os fundos para realizar o investimento vieram de uma rodada realizada no leste europeu, em que contribuíram, por exemplo, investidores como Aleksandr Shamis e Mikhail Aleksandrovskiy, fundadores do serviço internacional de entregas Borzo, também presente no Brasil.
“O período em que esse dinheiro será investido vai depender de algumas condições como a análise do mercado local. A ideia é ter dinheiro suficiente para atingir o breakeven no menor tempo possível”, diz Alexey Beily, CEO da Albato, à EXAME.
A empresa foi fundada em 2018, a partir da necessidade identificada de crescimento do setor na Rússia -- e, posteriormente, para uma evolução global. A empresa foi fundada por Michail Fedoronin (que também fundou a Calltouch, vendida em 2020 por uma quantia estimad aem US$ 13 milhões) e por Eugeny Egorov, que se juntou à equipe como CTO.
A companhia não divulga dados de faturamento, mas afirma que, hoje, o Brasil responde por 5% do faturamento da empresa e cerca de 30% dos usuários globais estão na Comunidade dos Estados Independentes, pela afinidade com o idioma russo. De acordo com a Albato, os primeiros passos para construir a base de clientes foram dados em maio de 2021 e, agora, com mais fôlego no aporte, a ideia é que o país passe a representar de 30% a 50% do faturamento nos próximos anos.
Globalmente, a Albato tem 75 mil clientes, divididos em dois produtos principais, por chamados internamente de “Enduser” e “Embedded”. O primeiro consiste na plataforma de no-code propriamente dita, em que empresas de todos os portes e profissionais de praticamente todos os níveis conseguem criar apps e programas, mesmo com zero conhecimento de programação.
A segunda oferta é um serviço whitelabel, em que a Albato cria e gerencia integrações para diferentes plataformas, sem que os clientes da empresa contratada saiam da interface gerenciada pela empresa que contratou a Albato. A vantagem é a rapidez para integrar novas funcionalidades, sem precisar contratar novos desenvolvedores ou atrasar projetos para fazer com que isso ande com a mão-de-obra já existente.
Um dos clientes da companhia dentro dessa modalidade é o Jivochat, plataforma B2B que reúne em um único lugar todos os chats recebidos por empresas contratadas. Exemplo: em vez de a empresa entrar no WhatsApp, Instagram, Telegram e Facebook, ela acessa a plataforma do Jivochat e consegue visualizar em um único local todos os chats recebidos nessas redes sociais.
Dentro do Jivochat, toda a integração de apps e sistemas é feita pela Albato (por exemplo, ligar o Slack ao próprio CRM da empresa). Para “fora de casa”, integrações com plataformas de e-commerce permitem que os clientes da Jivochat possam instalar o produto e utilizá-lo rapidamente. Como resultado, a Jivochat registrou tempo de vida útil de clientes (ou LTV, na sigla em inglês) até 30% maior do que antes.
Para conquistar seu espaço dentro desse mercado -- que ainda é bastante incipiente no Brasil em termos de concorrentes locais, sendo o nome mais expressivo a startup Fluna -- a Albato acredita que o diferencial de trazer um suporte 100% local, com a língua nativa sendo priorizada (além do fôlego de captação estrangeira) podem trazer uma vantagem competitiva significativa em relação aos concorrentes.
Na outra ponta, está o desafio de educar o consumidor brasileiro sobre o que é o no-code e como é possível aproveitar as vantagens que ele oferece. Em uma primeira tentativa de explorar esse potencial, a empresa firmou recentemente um contrato com uma empresa de educação de destaque, a fim de oferecer um curso especializado em no-code, para quem não tem nenhuma noção sobre o assunto conseguir entendê-lo um pouco melhor.
“Acreditamos que há um mercado enorme a ser explorado no Brasil. Queremos colaborar para a automatização de tarefas repetitivas e permitir tanto que as pessoas possam utilizar as ferramentas de trabalho que quiserem para trabalhar quanto que as empresas possam oferecer os melhores serviços aos seus clientes”, diz Alexey.