Victor Coutinho, CEO e cofundador, e João Moreira, CRO do Buszap: mais de 50 clientes no modelo white label (Divulgação/Divulgação)
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Publicado em 24 de novembro de 2025 às 16h00.
O transporte rodoviário vive um impasse. A digitalização avança, mas o passageiro ainda resiste em migrar do guichê para o online — e o mercado corre para ocupar esse espaço antes que o consumidor se acostume a novas rotas. No meio desse movimento, um velho conhecido do brasileiro virou o principal campo de disputa: o WhatsApp.
O Buszap nasceu dentro da MAGVA Tecnologia com a proposta de colocar as vendas de passagens diretamente dentro do aplicativo de mensagens. A empresa, criada em 2019, atende mais de 50 viações no modelo white label, conecta milhares de destinos via marketplace próprio e tenta convencer o passageiro de que comprar por chat é tão seguro quanto usar um site tradicional.
A história ganha relevância agora porque a empresa projeta chegar a 60 milhões de reais em GMV em 2025, quase o dobro do ano anterior, e quer escalar novos produtos, como emissão de BPE digital (Bilhete de Passagem Eletrônico) via WhatsApp e recuperação de carrinho no mesmo canal. Os projetos são liderados por João Moreira, primo do fundador Victor Coutinho, que assumiu a função de CRO em 2024.
“Qualquer canal de vendas que já está enraizado no hábito das pessoas é difícil de tirar”, afirma Victor Coutinho.
O foco em 2025 é transformar o WhatsApp em um ecossistema completo para o setor: vendas, atendimento, cancelamento, alertas de atraso e, agora, emissão oficial de bilhetes — tudo no mesmo número.
A MAGVA surgiu em 2019 com a ideia de criar experiências de compra dentro do WhatsApp. Coutinho lembra que, naquela época, o mercado ainda não associava o aplicativo a transações.
“As pessoas não tinham a cultura de fazer compras pelo WhatsApp”, diz. A API (Interface de Programação de Aplicativos) era limitada e o produto inicial nem tinha relação com transporte: começou atendendo restaurantes, pequenos lojistas e varejistas.
A virada veio em 2021, quando uma viação procurou a empresa pedindo uma solução para vender passagens dentro do mensageiro. “Em novembro de 2021, começamos essa parte de venda de ônibus pelo WhatsApp”, afirma. Do primeiro cliente, a empresa saltou para mais de 50 viações, incluindo Cometa, 1001, Garcia, Boa Esperança e Satélite Norte.
No fim de 2023, a empresa lançou o marketplace com todas as viações regulares do país — mesmo as que não usam a tecnologia white label. O portfólio inclui rotas para países como Argentina, Paraguai e Peru.
A principal barreira nos primeiros anos foi cultural. Coutinho lembra que, no delivery, o telefone ainda dominava em 2019.
O cenário era parecido no rodoviário. O desafio era duplo: convencer as empresas a usar o WhatsApp como canal de venda e, depois, construir fluxo para que a operação gerasse resultados. “Às vezes a gente convencia o lojista a implementar a solução e as vendas simplesmente não aconteciam”, diz.
O segundo obstáculo foi a confiança. Em 2019, a MAGVA implementou pagamentos no WhatsApp antes mesmo do WhatsApp Pay.
“A gente não tinha nenhuma referência como ‘pague aqui porque é seguro’”, afirma.
A desconfiança do público — pelo receio de golpes na plataforma — continua sendo um problema central.
A startup reforçou a marca com campanhas em rodoviárias, parcerias com influenciadores e ações de rua. O objetivo era destacar que a jornada é rápida: “Você consegue, do primeiro ‘oi’ até receber sua passagem, em um minuto e meio, dois minutos”, diz.
A empresa usa a experiência do grupo familiar, que atua em tecnologia desde 1985, para reforçar a segurança. Coutinho conta que o Buszap desenvolveu um algoritmo para bloquear tentativas de fraude antes de acionar parceiros externos. “A gente sabe que está lidando com CPFs e telefones de milhões de pessoas”, afirma.
A virada técnica veio no pagamento 100% dentro do WhatsApp. Antes, era necessário abrir um link externo. Agora, o usuário cadastra o cartão, escolhe a rota e paga sem sair da conversa.
A empresa aposta no WhatsApp como o canal mais acessível para atrair quem ainda compra no guichê. “Mais da metade das passagens ainda são vendidas no guichê”, diz o fundador.
O primeiro projeto liderado por João Moreira é a emissão digital de BPE pelo WhatsApp, em parceria com o grupo JCA.
A meta é atingir o público que continua no balcão por hábito ou por barreira tecnológica.
“Receber sua passagem no canal que você usa todo dia e depois ter a opção de comprar ali é revolucionário para esse mercado”, afirma João.
O segundo projeto, previsto para 2026, é a recuperação de carrinho via WhatsApp. Em vez de um e-mail ou SMS ignorado, o passageiro recebe uma mensagem ativa que o leva de volta exatamente ao ponto em que parou no site. As taxas de abertura acima de 70% sustentam o potencial da estratégia.
O Buszap quer ser o único número que o passageiro precisa usar. Atendimento automatizado, atendimento humano, alertas de atraso, cancelamentos e relacionamento passam a rodar no mesmo canal. “A ideia é centralizar tudo em um número e oferecer um serviço completo”, diz Victor.
O objetivo é resolver o principal gargalo do setor: a fragmentação de canais. Muitas viações têm números diferentes para vendas, dúvidas, SAC e WhatsApp manual. O Buszap quer unificar tudo.
A empresa opera 100% bootstrap. O investimento inicial foi de aproximadamente 3 milhões de reais, aportados pelos próprios fundadores. A operação está no breakeven há quase dois anos.
O GMV cresceu de 20 milhões em 2023 para 36 milhões em 2024. A projeção de 60 milhões neste ano mantém a empresa como uma das pioneiras em chat commerce no setor rodoviário.