Negócios

Startup quer modificar mercado de cinema de Hollywood

Legion M, fundada em março de 2016, faz com que o público seja sócio das produções de cinema

Jason Sudeikis e Anne Hathaway em Colossal: produção é feita pela startup de cinema Legion M (Legion M/Divulgação)

Jason Sudeikis e Anne Hathaway em Colossal: produção é feita pela startup de cinema Legion M (Legion M/Divulgação)

RK

Rafael Kato

Publicado em 10 de maio de 2017 às 19h46.

Última atualização em 10 de maio de 2017 às 19h48.

Reportagem publicada originalmente em EXAME Hoje, app disponível na App Store e no Google PlayPara ler reportagens antecipadamente, assine EXAME Hoje.

LOS ANGELES — O que aconteceria se o público em geral — não os estúdios, não os grandes produtores e investidores — financiasse os filmes que quer ver? Uma startup da Califórnia quer fazer exatamente isso.

A Legion M, fundada em março de 2016, tem como propósito a ser a primeira produtora 100% independente. Seus investidores são pessoas comuns com uma paixão compartilhada, o amor pelo cinema. “Vamos ser francos, os grandes estúdios não estão mais no negócio de fazer cinema, mas sim no de aumentar os dividendos de seus acionistas”, diz Paul Scanlan, um dos fundadores, ao lado de Jeff Annison, da Legion M. “E para conseguir isso eles não podem mais correr risco. Não somos contra os estúdios – queremos somar, criar um novo recurso, e assumir o risco que eles não querem mais correr, para podermos ver os filmes que queremos ver.”

Empreendedores veteranos, Scanlan e Annison tiveram a ideia do que viria a ser a Legion M quando criaram a plataforma de streaming móvel Mobi TV em 1999. A empresa foi um sucesso, valorizou-se rapidamente e atraiu mais investidores do que podiam dar conta. “Muitos desses investidores eram amigos nossos, parentes, nossos pais, nossos primos”, diz Scanlan. “Mas pelos regulamentos da SEC [órgão regulador do mercado financeiro dos Estados Unidos] só podíamos aceitar o que era definido como “investidores conhecidos”, ou seja, indivíduos com uma renda anual de mais de 200.000 dólares. Ou seja, ainda estávamos trabalhando com e para uma elite, os 1% de altíssima renda. Queríamos ir além.”

Scanlan e Annison desenvolveram outros projetos e, ao mesmo tempo, continuaram vigiando os movimentos da SEC “como dois gaviões”. Quando finalmente, em 2016 as regras mudaram, possibilitando o investimento direto de indivíduos em outras faixas de renda, Scanlan e Annison não tiveram dúvida. “Era a hora certa”, diz Scanlan. “Acreditamos que entretenimento é a coisa mais empolgante, algo que atinge e apaixona o maior número de pessoas.”

E assim nasceu a Legion M que, Scanlan deixa bem claro, “não é crowdfunding. Não é postar uma campanha num site, arrecadar o dinheiro e mandar uma caneca ou uma camiseta para os doadores. A Legion M é uma startup. Não tem doadores, tem investidores.”

No momento a empresa tem 12.000 investidores, que compraram quotas de participação com valores a partir do mínimo de 100 dólares (a media de investimento, Scanlan diz, é 600 dólares). Em troca, além de acesso VIP aos eventos da empresa, os investidores têm direito a uma participação nos lucros das produções da empresa. E, talvez o mais importante: uma dose signficativa de envolvimento no que a produtora faz.

O processo criativo da Legion M é, em princípio, uma réplica em miniatura do que acontece nos grandes estúdios. Por meio de seus relacionamentos com produtores independentes e parceiros como o A24, de Nova York; o Alamo Drafhouse, de Austin; e, em Los Angeles, o Meltdown Comics e o Stoopid Buddy, o estúdio de animação fundado por Seth Rogen, o diminuto (três pessoas) departamento de desenvolvimento da Legion M identifica e seleciona projetos para serem financiados. E, na hora de decisões criativas importantes, consulta sua base, ou seja, os 12.000 investidores. “É um tremendo pool de feedback”, diz Scanlan. “Nos dá a possibilidade de ouvir diretamente do público o que as pessoas querem ver.”

O primeiro longa da Legion M é Colossal, um mix de comédia, ação e ficção científica escrito e dirigido pelo espanhol Nacho Vigalondo (indicado ao Oscar de curta metragem em 2005) e estrelado por Anne Hathaway e Jason Sudeikis. O filme foi exibido no festival de Sundance deste ano, e lotou o imenso Cinerama Dome de Los Angeles na sua estreia comercial pela distribuidora independente Neon. Com três dias de exibição num circuito limitado de 100 telas, Colossal já fez mais de 120.000 dólares, o que é muito para um filme tão pequeno, apesar do título.

“Não estamos no business dos blockbusters”, diz Scanlan. “Os estúdios fazem isso muito bem – e vão continuar fazendo, porque sao avessos ao risco, e toda essa produção de continuações e reboots está aí para isso, para minimizar o risco”, diz.

A Legion M também corre riscos, algo natural para o setor de entretenimento. “Somos uma startup que pode tanto ser o maior sucesso como fechar daqui a um ano. Mas nossa defesa é manter as despesas operacionais baixas e escolher apenas projetos que falam diretamente à nossa base de investidores”. Pergunto se são gêneros em especial, como ficção científica, ação, fantasia e produções ligadas à cultura nerd. Scanlan demora um pouco a responder. “Difícil dizer por gênero. Não nos interessam as coisas enlatadas. Queremos trazer a criatividade, a marca autoral para o cinema. Sabe qual é nosso balizador? A Comic Con [evento de cultura geek]. Quando um projeto chega até nós, nós perguntamos: poderíamos levar esse filme ou série para a Comic Con? Se a resposta for “sim”, então nos interessa.”

Além de Colossal, a Legion M está bancando a série de realidade virtual Icons, que pretende dar aos usuários a oportunidade de encontrar virtualmente figuras célebres, vivas ou mortas, de Stan Lee (que participou entusiasmadamente do piloto) a William Shakespeare; e o longa-antologia The Field Guide to Evil, reunindo diretores de terror do mundo inteiro.

Scanlan tem planos de expandir o raio de ação da Legion M internacionalmente, a partir do Reino Unido. E chegar à sua meta final: um milhão de investidores. “O “M” do nosso nome quer dizer isso”, ele afirma. “A meta de um milhão. Porque se tivermos um milhão de investidores que também são fãs, teremos não apenas um capital imenso— 600 milhões de dólares, se seguirmos a media atual — e uma multidão de pessoas que amam e acreditam no que criaram.”

Acompanhe tudo sobre:CinemaStartups

Mais de Negócios

Como o Brasil entrou no top 3 desta gigante suíça que fatura US$ 3 bilhões com skincare e injetáveis

De tabuleiro a parceira com o Japão: a milionária aposta do Ceará em jogos

Pop Mart dispara após aumento de mais de cinco vezes na receita internacional no 3º trimestre

Sem investidores, startup deve faturar milhões com 'remendas' para melhorar a gestão das empresas