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Startup de SC se une à empresa britânica e cria império global de dados

Nova marca será oficialmente lançada no início de 2026. Até lá, as duas empresas continuam operando com nomes separados, mas já compartilham times, processos e projetos

Matheus Dellagnelo, Kelly Manthey e Matt Farmer, da Indicium AI: “Todo mundo agora fala de IA, e todo mundo diz que faz IA. Mas a diferença está na execução” (Indicium AI/Divulgação)

Matheus Dellagnelo, Kelly Manthey e Matt Farmer, da Indicium AI: “Todo mundo agora fala de IA, e todo mundo diz que faz IA. Mas a diferença está na execução” (Indicium AI/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 4 de novembro de 2025 às 07h00.

Última atualização em 4 de novembro de 2025 às 19h31.

Durante quase uma década, Matheus Dellagnelo passou os dias no mar, guiado pelo vento. Como velejador profissional, representou o Brasil em competições internacionais, ganhou ouro no Pan de Guadalajara e quase chegou às Olimpíadas do Rio.

Na vela, aprendeu a ler o ambiente, prever mudanças repentinas e tomar decisões com base em dados. “A gente analisava todas as variáveis possíveis para decidir o que fazer”, diz.

Agora, em terra firme, Dellagnelo lidera a Indicium, empresa de consultoria em dados e inteligência artificial fundada em Santa Catarina — e que acaba de anunciar sua fusão com a britânica Mesh-AI.

A união dá origem à Indicium AI, uma nova empresa com presença global, sede em cinco países e mais de 600 especialistas. A proposta: oferecer soluções ponta a ponta em dados e IA para grandes corporações.

O movimento é o maior já feito pela Indicium desde que recebeu, em 2024, uma rodada Série A de até 40 milhões de dólares do fundo americano Columbia Capital — o mesmo que já investia na Mesh.

Desde então, as conversas evoluíram até chegar à fusão, anunciada nesta terça-feira, 4.

“Todo mundo agora fala de IA, e todo mundo diz que faz IA. Mas a diferença está na execução”, afirma Dellagnelo, que assume como CEO das Américas na nova estrutura. “Essa fusão combina profundidade técnica, presença global e uma cultura focada em resultado.

A nova marca será oficialmente lançada no início de 2026. Até lá, as duas empresas continuam operando com nomes separados, mas já compartilham times, processos e projetos. A meta: dobrar de tamanho no ano que vem — em receita, pessoal e alcance global.

O que muda com a fusão

A fusão com a Mesh-AI marca o início de uma nova fase para a Indicium.

Fundada em Londres, a Mesh é especializada em soluções de IA para setores altamente regulados, como serviços financeiros e energia.

Já a Indicium, com base técnica sólida e foco em engenharia de dados, ganhou força atuando em grandes empresas nas Américas, especialmente nos Estados Unidos e América Latina.

Juntas, as duas companhias formam uma consultoria global 100% dedicada a dados e inteligência artificial — algo ainda raro num mercado dominado por grandes firmas generalistas.

“A gente não tem uma área de IA dentro de uma consultoria. A gente é a consultoria inteira focada nisso”, diz Dellagnelo.

Com o novo arranjo, a Indicium AI ganha presença física em Nova York, Londres, Lisboa, São Paulo e Florianópolis.

A divisão de funções também já está definida: Dellagnelo assume a liderança das Américas; Matt Farmer, fundador da Mesh-AI, comanda a operação europeia; e Kelly Manthey, executiva americana com passagens por grandes consultorias globais, entra como CEO mundial.

“Ela chega com o papel de acelerar a integração e liderar a expansão como um todo”, diz Dellagnelo.

Mesmo antes da mudança de marca, prevista para o primeiro trimestre de 2026, as sinergias já começaram.

Desde outubro, times das duas empresas trabalham juntos em iniciativas comerciais, unificação de sistemas, atendimento a clientes multinacionais e estrutura de entrega compartilhada. “A gente começou a operar como uma só empresa, mesmo que ainda tenhamos marcas distintas até dezembro.”

Os bastidores da negociação

A aproximação entre as duas empresas começou muito antes da fusão.

Foi o fundador da Mesh-AI, Jacob Parsons, quem iniciou o contato com a Indicium, ainda em 2023, por meio da Columbia Capital — fundo que já investia nas duas companhias. Em 2024, quando a Indicium fechou sua Série A, Parsons passou a integrar o conselho da empresa brasileira.

A conversa sobre fusão evoluiu em paralelo à explosão do mercado de IA generativa.

“O mercado mudou muito rápido. A demanda por soluções completas, de ponta a ponta, disparou. E a gente viu que fazia sentido juntar forças com quem era complementar à nossa operação”, afirma Dellagnelo.

Segundo ele, a Mesh é referência em projetos sofisticados de IA, enquanto a Indicium se destaca pela escalabilidade e engenharia.

“As culturas se encaixaram bem. A gente já tinha clientes multinacionais pedindo atuação global, e agora conseguimos oferecer isso com qualidade”, diz.

Uma história que começou com uma capa de revista

A fundação da Indicium, em 2017, foi diretamente inspirada por uma capa da revista The Economist, que estampava: “Os dados são o novo petróleo”.

Na época, os quatro sócios — Matheus Dellagnelo, Isabela Blasi, Daniel Avancini e Vitor Avancini — estavam entre faculdade e empregos em tecnologia. A ideia inicial era simples: criar uma consultoria que ajudasse empresas a entender e usar melhor os dados que já tinham.

Ao contrário da lógica das startups que buscavam escala e produto, a Indicium decidiu investir em serviço.

Oferecia desde diagnóstico até implementação e treinamento. Em 2023, a estratégia rendeu um faturamento de 32 milhões de reais, com clientes como Fundação Gates, Edenred e Reps & Co. O plano para 2024 era dobrar a receita, com foco em expansão internacional.

A guinada começou com a abertura do escritório em Nova York, onde hoje já trabalham mais de 25 pessoas. Depois vieram novos contratos nos Estados Unidos e América Latina — regiões que juntas representam uma fatia crescente da operação. “A gente aprendeu muito rápido como o mercado americano funciona. E montamos times locais para atender com agilidade”, disse Dellagnelo.

A meta, desde então, sempre foi escalar com profundidade técnica e atuação global. A fusão com a Mesh-AI é a consolidação desse plano. “Agora, conseguimos atender clientes que estão em vários países e pedem a mesma excelência técnica em todos os lugares onde operam.”

O que a nova empresa entrega na prática

A promessa da Indicium AI é oferecer soluções completas de dados e IA — desde a fundação da arquitetura de dados até o uso de modelos generativos em operações críticas.

Na prática, isso inclui estruturar bases de dados, integrar sistemas, construir pipelines de dados e aplicar inteligência artificial em contextos específicos do cliente.

Enquanto a Indicium traz esse conhecimento em engenharia e plataforma, a Mesh-AI complementa com projetos de IA de alto impacto, especialmente em finanças. Um exemplo citado por Dellagnelo é um case recente com a London Stock Exchange. Usando IA generativa, a empresa automatizou o processo de coleta e análise de relatórios financeiros, reduzindo em 33% o tempo gasto pelas equipes e aumentando a acurácia das decisões.

“Eles são muito fortes em soluções de IA para ambientes regulados. A gente entra com a parte escalável, a engenharia e a capacidade de entregar projetos grandes, com qualidade”, afirma Dellagnelo.

Além disso, a Indicium AI mantém parcerias com líderes tecnológicos como Databricks, OpenAI, Microsoft, AWS e Anthropic. A ideia é combinar essas tecnologias com a entrega consultiva, moldada sob medida para cada cliente — sem vender soluções de prateleira.

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