Aviões em Congonhas durante pandemia: Gol ofereceu ações da Smiles em contrapartida à garantia da Delta (Germano Lüders/Exame)
Graziella Valenti
Publicado em 25 de julho de 2020 às 10h53.
A agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) rebaixou ontem a nota de crédito da companhia aérea Gol de B- para CCC+. Em ambas as classificações a agência vê os créditos vulneráveis ao não pagamento pela companhia. Mas a redução indica que antes era entendido que havia capacidade para que os vencimentos fossem honrados e que, a partir de agora, isso passa a depender de eventos favoráveis à empresa. A S&P citou uma dívida de 300 milhões de dólares, que vence em agosto, ao fazer o rebaixamento e a demora na obtenção de novos financiamentos pela companhia.
Essa dívida da Gol é garantida pela Delta Airlines, que era investidora da empresa até a parceria com a Latam fechada no fim do ano passado. A captação dos recursos foi feita, inclusive, com credores tradicionais da companhia americana. Até o momento, a Gol não informou nenhum movimento em relação a esse compromisso. A companhia vai divulgar os resultados do segundo trimestre no próximo dia 31 e o assunto será alvo de questionamentos do mercado.
Como contrapartida a essa cobertura, a Gol concedeu à Delta as ações de sua empresa de programas de milhagem Smiles — 52,6% do capital votante — em garantia, em uma espécie de triangulação. Considerando os preços de mercado, porém, os papéis não comprem o compromisso. A Smiles está avaliada em pouco mais de 1,8 bilhão de reais na B3. Portanto, a fatia da Gol equivale a cerca de 180 milhões de dólares ou 60% da dívida.
No início do mês, como forma de obter maior flexibilidade financeira, a Gol fechou um acordo comercial com a Smiles, que antecipou o equivalente a todo seu caixa de 1,2 bilhão de reais ao fim de março em compra de passagens — em condições mais favoráveis do que o contrato entre elas previa anteriormente. Na época, havia expectativa que esses recursos poderiam ser usados para o pagamento da dívida de agosto.