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South Summit Brazil: como grandes empresas estão redesenhando a reconstrução do Rio Grande do Sul

Após as enchentes, líderes empresariais apostam em crédito acessível, fundos filantrópicos e projetos de longo prazo para reerguer o Rio Grande do Sul

South Summit Brazil: painel da EXAME trouxe representantes de grandes empresas e discutiu capacidade de fomentar a filantropia e a captação de recursos para ajudar o Rio Grande do Sul (Daniel Giussani/Exame)

South Summit Brazil: painel da EXAME trouxe representantes de grandes empresas e discutiu capacidade de fomentar a filantropia e a captação de recursos para ajudar o Rio Grande do Sul (Daniel Giussani/Exame)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 11 de abril de 2025 às 16h23.

 

Um ano depois das enchentes que destruíram o Rio Grande do Sul, o cenário é de pensar na reconstrução num longo prazo. Esse é, talvez, um dos principais desafios que se impõem entre empresários e organizações sociais: como reconstruir sem repetir os mesmos erros?

Foi com essa provocação que executivos do Instituto Helda Gerdau, do Estímulo e do Instituto Ling participaram do painel The Power of Action, durante o South Summit Brazil 2025, evento de inovação que acontece em Porto Alegre.

A história desses três agentes ajuda a entender por que este é um momento decisivo. Cada uma das iniciativas nasceu de uma urgência, mas evoluiu para uma proposta mais estruturada — com foco não só na resposta imediata, mas no redesenho da economia gaúcha.

"Nos primeiros meses estávamos olhando pro imediato, para o urgente. Agora, estamos olhando mais para frente", disse Beatriz Johannpeter, diretora do Instituto Helda Gerdau. "Foi um desafio, no meio de tanta calamidade, pensar em como destravar recursos que ainda estão disponíveis".

Uma nova filantropia gaúcha

As três iniciativas apresentadas no painel operam com um mesmo princípio: descentralização e articulação local.

O Instituto Ling, por exemplo, criou o Reconstrói RS, um programa de 50 milhões de reais voltado a obras de infraestrutura emergencial. A ideia original é permitir que comunidades afetadas apresentem seus próprios projetos, com o apoio técnico de associações locais e do Instituto Floresta. Cada projeto pode receber até 1 milhão de reais — e não há exigência de contrapartida pública.

“A base de tudo é confiança”, afirmou Sandra Moscovich, diretora do Instituto Ling, durante o painel. “Confiamos que as comunidades sabem o que precisam. O papel do Instituto é acelerar esse processo, com responsabilidade técnica”.

Segundo Sandra, o projeto ganhou tração em dezembro, mas ainda enfrenta desafios para tirar os planos do papel.

“Muitas comunidades não têm estrutura para montar projetos de engenharia. Foi aí que empresas como Gerdau e Randon entraram com suporte técnico e financeiro”, disse.

Crédito como ferramenta de inclusão

Se a doação é uma ponta, o acesso a crédito é outra. Para Vinícius Poit, CEO do Estímulo, o foco deve ser em ferramentas permanentes, e não ações pontuais.

“Diferente da pandemia, quando o cenário era de necessidade de crédito, mas sem destruição, agora tudo estava destruído. Era preciso reconstruir tudo. Só conseguimos avançar porque adaptamos a linha de crédito à realidade local”, afirmou.

O Estímulo liberou 20 milhões de reais para 255 empreendedores em 63 cidades. A média de empréstimo foi de 77 mil reais, com taxa de juros de 1% ao mês e 30 meses para pagar. Segundo Poit, 29% dos tomadores nunca haviam acessado crédito antes.

“Não adianta só doar. Precisamos de mecanismos que permaneçam funcionando depois da tragédia. Isso é filantropia estratégica”.

Regenerar, não só reconstruir

Do lado do Instituto Helda Gerdau, a resposta à crise tomou a forma do Regenera RS, um fundo filantrópico que já captou 38 milhões de reais, com apoio de famílias empresárias e institutos. A prioridade foi habitação e infraestrutura, mas o fundo também investe em educação, urbanismo e negócios de impacto.

"Criamos o fundo no auge da calamidade. Mas desde o início sabíamos que ele precisaria durar mais de dois anos. O foco é regenerar, não só reconstruir”, diz Beatriz Johannpeter.

O fundo já aportou recursos em projetos como a Favela 3D da Gerando Falcões, em Eldorado do Sul, e na reconstrução de escolas públicas e pontes.

A percepção dos três líderes converge: sem articulação entre empresas, governo e sociedade civil, o estado seguirá vulnerável. E o risco de repetir o desastre aumenta.

“O Brasil é solidário”, disse Poit. “Mas é hora de transformar essa solidariedade em estrutura”.

 

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