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Sonho chinês de desafiar Airbus e Boeing ganha forma em Xangai

A estatal Commercial Aircraft Corp. of China, localmente conhecida como COMAC, está construindo a aeronave C919

C919: a fabricante afirma que já possui compromissos de 21 clientes para a fabricação de 517 aviões (Nelson Ching/Bloomberg)

C919: a fabricante afirma que já possui compromissos de 21 clientes para a fabricação de 517 aviões (Nelson Ching/Bloomberg)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 31 de outubro de 2016 às 21h14.

Pequim - A China tem o sonho de desafiar o duopólio da Airbus e da Boeing no mercado global de aeronaves. Essa ambição ganha forma lentamente em um hangar em Xangai.

A estatal Commercial Aircraft Corp. of China, localmente conhecida como COMAC, está construindo a aeronave C919, de 168 assentos e corredor único, apostando que o modelo ajudará a fabricante de aviões a figurar entre as grandes.

A empresa aposta na experiência adquirida com seu jato menor de 90 assentos, o ARJ21, que recebeu encomendas comerciais avaliadas em pelo menos US$ 2 bilhões, a maioria de empresas locais.

Apesar dos atrasos do programa do C919 -- o primeiro voo de teste foi adiado pelo menos duas vezes desde 2014 --, a COMAC está enviando uma mensagem ao mundo: estejam atentos a esse espaço.

A fabricante afirma que já possui compromissos de 21 clientes para a fabricação de 517 aviões.

No salão aéreo de Zhuhai, na China, nesta semana, a COMAC planeja exibir a aeronave com um modelo e poderá anunciar o interesse de novos potenciais compradores.

O projeto do jato de passageiros faz parte do plano ambicioso do presidente Xi Jinping para que a China, que hoje fabrica tênis, roupas e brinquedos, seja capaz de competir com empresas como Airbus e Boeing.

Levar o C919 da prancheta para o céu é fundamental para Xi, que identificou o setor aeroespacial entre os que poderiam ajudar a acelerar a modernização da economia ao estilo do Japão e da Alemanha.

Bom exemplo

“A fabricação doméstica de aeronaves é um bom exemplo da ambição do país de garantir presença no topo da cadeia de valor global”, disse Liu Yuanchun, reitor executivo da Academia Nacional de Desenvolvimento e Estratégia da Universidade de Renmin da China, em Pequim.

“Ainda há algum trabalho de base sério a ser feito para finalmente concretizar essa ambição de dominar processos sofisticados de design e fabricação.”

O setor aeroespacial ocupa o terceiro lugar, atrás da tecnologia da informação e da robótica, na lista de prioridades do plano diretor de Xi, “Made in China 2025”, revelado no ano passado.

No tocante à fabricação de aviões, Pequim colocou seu foco no desenvolvimento de jatos de passageiros de fuselagem larga, de helicópteros pesados e de vários tipos de motores em cooperação com parceiros globais.

O salão aéreo de Zhuhai, que vai começar nesta terça-feira, também apresentará a recém-criada Aero Engine Corp. of China, que tem planos de fabricar motores para aviões.

Um representante da Airbus preferiu não comentar e a Boeing não respondeu a um e-mail em busca de comentários.

A COMAC deu início às pesquisas e ao desenvolvimento do C919 em 2008, logo após a criação da companhia.

A missão era realizar o sonho de construir e colocar no ar uma grande aeronave comercial -- saudada como a “flor” e a “pérola” da fabricação moderna e a encarnação da posição tecnológica do país.

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