Loja da Farm: Grupo Soma, dono da Farm, tem outras aquisições em vista e valoriza presença online (Divulgação/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 27 de outubro de 2020 às 14h58.
Última atualização em 27 de outubro de 2020 às 15h18.
O Grupo Soma, dono das marcas de moda Farm e Animale, anunciou ontem a compra da marca NV, fundada pela influenciadora Nati Vozza. A transação tem valor estimado em nada menos que 210 milhões de reais e vem para apimentar o momento do mercado de moda. Na semana passada, a companhia de calçados Arezzo havia acertado a compra do grupo Reserva. Em comum, ambas as empresas têm apetite para mais aquisições, em um setor sedento por boas notícias. É hora de seguir investindo em ações do setor de moda? Monte a melhor estratégia com os especialistas da EXAME Research
O setor de vestuário foi duramente afetado pela pandemia do novo coronavírus. Em casa, os consumidores, demoraram a querer abrir o bolso para comprar roupas ou sapatos. Se o faturamento sofreu por um lado, por outro gerou oportunidades para empresas maiores e capitalizadas irem às compras.
Após comprar a Reserva, a Arezzo já deixou claro que quer ir além, ampliando um conceito batizado de “house of brands”, ou “conjunto de marcas”. “A ideia da house of brands não é apenas trazer novas marcas, mas também soluções e tecnologias novas”, disse o presidente da Arezzo Alexandre Birman, após a aquisição.
A investidores, o Grupo Soma também deixou claro que o apetite por aquisições continua. O presidente da companhia, Roberto Jatahy afirmou que a companhia negocia pelo menos mais duas compras: a de uma grife voltada para o segmento fitness e a de uma marca de moda feminina com preço médio superior aos praticados pela Farm, mas inferior aos da Animale.
Segundo Jatahy, dentre os pontos fortes que chamaram a atenção do grupo para a NV estãoa forte presença da marca nos meios digitais, e a velocidade de seu crescimento. “A NV é um dos maiores fenômenos dos últimos anos de moda feminina no Brasil. Desde a Farm, a gente nunca teve uma operação com essa velocidade de aumento de receita”, afirmou. A NV teve um faturamento de 3 milhões de reais em 2016 e deve fechar 2020 em 170 milhões de reais.
Criada em 2012 pela blogueira Nati Vozza, a NV é o tipo de marca com a qual o Grupo Soma está acostumado a lidar: com grande foco em moda e um público que gosta de qualidade e exclusividade. Para os executivos do Soma, a NV é como a Farm era dez anos atrás. O próprio Grupo Soma é fruto da fusão entre Animale, fundada em 1991, e Farm, comprada em 2010. Desde então, o grupo tem crescido através de aquisições e hoje possui as marcas Foxton, Cris Barros e Maria Filó, além da recém-chegada NV.
O desafio da companhia, agora, é fazer a incorporação da marca de forma a manter sua identididade e a rentabilidade do negócio. O histórico do setor inspira cuidados. Dona de marcas como Ellus, Richards e Tommy Hilfiger, a Inbrands acumula dívidas e está em busca de compradores para algumas de suas marcas. Já a Restoque, dona de Dudalina e Le Lis Blanc, acaba de homologar seu planos de recuperação extrajudicial.
A seu favor, o Grupo Soma tem a experiência de incorporações bem-sucedidas. A estratégia usada até aqui foi manter o fundador e a direção de arte das adquiridas, tornando mais fácil sustentar o “espírito da marca”, enquanto economiza ao unificar a parte administrativa e tecnológica. Com a NV não será diferente. Nati Vozza entra como sócia do Grupo Soma, que deve impulsionar a estratégia tecnológica de integração entre canais digital e lojas físicas da marca.
Nascida na internet, a NV tem cinco lojas físicas, todas em São Paulo, que respondem por 52% do faturamento. A avaliação do Soma é de que há espaço para chegar a um total entre 30 e 40 lojas em todo o país. A força da presença online – Nati Vozzi tem 1 milhão de seguidores no Instagram, enquanto a marca tem 450 mil – deve facilitar a expansão no mundo físico, já que a loja já chega ao novo mercado conhecida pelo público. Jatahy ressalta que as unidades mais recentes da NV abriram com fila na porta.
Já a Arezzo tem em seu histórico um modelo de crescimento baseado em desenvolver marcas do zero. Mais recentemente, isso começou a mudar, com acordo para distribuir os produtos da marca norte-americana Vans com exclusividade no Brasil, e agora com a incorporação da Reserva. O mercado recebeu bem o movimento. “O anúncio do acordo com a Reserva, um modelo de negócio diferente se comparado com modo de operação da Arezzo de desenvolver marcas do zero usando franquias e lojas próprias, é positivo na nossa visão, ampliando as avenidas de crescimento da Arezzo com um segmento diferente (vestuário)”, escreveram analistas do banco BTG Pactual.
Os investidores têm respondido às recentes movimentações. A ação da Arezzo subiu 18% desde o dia 22, quando foi anunciada a aquisição da Reserva, e a companhia vale hoje 5,6 bilhões de reais. A ação do Grupo Soma, recém chegado à bolsa, subiu 16% desde ontem, e o valor de mercado da empresa está em 4,6 bilhões de reais.