Masayoshi Son, do Softbank: foco é em tecnologia (Kim Kyung-Hoon/File Photo/Reuters)
Karin Salomão
Publicado em 9 de novembro de 2020 às 19h04.
Última atualização em 9 de novembro de 2020 às 19h05.
O SoftBank, conglomerado japonês de investimentos, irá ampliar seus investimentos na América Latina. Fortalecido com o crescimento do comércio eletrônico, o grupo irá liberar 3 bilhões de dólares de seu fundo para a região, o Latin America Fund, com foco essencialmente em empresas de tecnologia, em setores que vão da educação à saúde.
Esse fundo, de 5 bilhões de dólares, já investiu 1,92 bilhão de dólares na região e atualmente seu portfólio tem valor de 2,07 bilhões de dólares. O veículo financeiro investiu 1 bilhão de dólares na startup Rappi e 300 e 150 milhões de dólares, respectivamente, nas brasileiras Gympass e Loggi. Desde que o SoftBank anunciou seu fundo para a América Latina, o valor de mercado da empresa foi de 74 para 140 bilhões de dólares, alta de 85%.
Para os novos investimentos, metade deve ser feita em empresas que já fazem parte do portfólio. "Temos 20 apostas na América Latina. As que estão bem continuarão a receber investimentos. É o investimento mais fácil de fazer, porque já conhecemos a empresa", diz Paulo Passoni, sócio do Softbank na América Latina em entrevista à EXAME.
Entre os destaques positivos da empresa no trimestre, estão empresas voltadas ao comércio eletrônico, como a empresa de tecnologia VTEX - que dobrou de tamanho no ano e recebeu um novo aporte em setembro - e o marketplace de móveis Madeira Madeira.
Para as novas apostas, o grupo busca empresas de software, educação e saúde. "A diretriz do SoftBank não mudou, continua sendo se posicionar muito bem para a próxima onda de tecnologia, big data e inteligência artificial", diz Passoni. Para fazer parte do portfólio do grupo japonês, o investimento em grandes bancos de dados é essencial. Mesmo que esses dados não alterem os negócios no curto prazo, serão um grande diferencial daqui a alguns anos - e o foco do Softbank é o longo prazo dessas empresas.
O conglomerado sofreu uma baixa em seu quadro de diretores hoje. Quatro de seus diretores vão deixar o conselho de administração da empresa para melhorar a governança corporativa da empresa, equilibrando a participação de membros externos e internos. Entre eles, está o diretor de operações do SoftBank, o economista boliviano Marcelo Claure, que liderou a criação do Latin America Fund.
O fundo para a América Latina teve valorização de 7,6% desde sua criação, mas, de acordo com o sócio, a valorização do portfólio foi maior em moeda local. Apenas o real perdeu 40% do valor frente ao dólar, por exemplo. A desvalorização do real, porém, tem uma vantagem: facilita os investimentos do fundo, cotado em dólar, por aqui.
O mercado de investimentos deve ficar mais competitivo na região, acredita Passoni. "O retorno gerado pelas empresas de tecnologia é excelente, o que atrai ainda mais capital", diz. Fundos nacionais e internacionais e até empresas brasileiras com capital no bolso devem aumentar as aquisições e aportes em investimentos de tecnologia. Mesmo assim, Passoni acredita que o mercado de tecnologia da América Latina está muito atrás do norte-americano ou asiático. "Mesmo com a nossa entrada no mercado latino-americano, falta capital", afirma o executivo.
As apostas são altas, e o risco também. "O risco é óbvio, 30% a 50% dessas apostas vão dar errado. Mas são as apostas que dão certo que pagam pelo fundo", afirma o sócio. O maior erro, no entanto, não é perder dinheiro com algum investimento que não deu certo, mas deixar de investir em uma empresa. O sócio cita a Wildlife, startup de games que já vale 3 bilhões de dólares, como uma das empresas que o fundo deixou de investir.
As apostas em tecnologia ajudaram o grupo a apresentar lucro trimestral de 6,1 bilhões de dólares, levando seu Vision Fund de volta a território positivo. Entre os destaques estão o Alibaba, gigante chinês do comércio eletrônico, e a empresa chinesa do ramo imobiliário Ke Holdings, que realizou seu IPO em agosto.
De acordo com Passoni, o SoftBank deve ser avaliado no longo prazo e comparado com outras empresas e fundos de tecnologia. A Naspers, conglomerado da África do Sul, por exemplo, se valorizou 28% desde o início do ano, e a Nasdaq, bolsa norte-americana que concentra ações de empresas de tecnologia, teve alta de 34% no ano. Já o SoftBank se valorizou 54% no ano. Com o foco em empresas de tecnologia inovadoras, o retorno pode ser ainda maior.