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Sócios da CCR vão rever acordo de acionistas

As discussões do acordo buscam costurar uma porta de saída para alguns sócios, que precisam levantar recursos para seus grupos - alguns em situação delicada

Ações: com um portfólio valioso de negócios e com elevada geração de caixa, a CCR era preservada pelos acionistas, que se negavam a vender suas participações (Mauricio Simonetti/Pulsar Imagens/Divulgação)

Ações: com um portfólio valioso de negócios e com elevada geração de caixa, a CCR era preservada pelos acionistas, que se negavam a vender suas participações (Mauricio Simonetti/Pulsar Imagens/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de junho de 2018 às 11h34.

Última atualização em 11 de junho de 2018 às 11h35.

São Paulo - Os sócios da CCR, uma das maiores empresas de concessões públicas do Brasil, deram início a conversas para rever o acordo de acionistas da companhia. Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Soares Penido buscam rever o contrato para que possam vender - total ou parcialmente - suas participações. Outra possibilidade é a entrada de um quarto investidor na companhia, que administra rodovias, como o Sistema Anhanguera-Bandeirantes, e aeroportos, como o de Confins, em Minas Gerais.

As discussões do acordo, ainda em estágio inicial, buscam costurar uma porta de saída para alguns sócios, que precisam levantar recursos para seus grupos - alguns em situação delicada. Com um portfólio valioso de negócios e com elevada geração de caixa, a CCR sempre foi preservada pelos acionistas, que se negavam a vender suas participações. Mas, com a crise que assolou o País e o setor, eles tiveram de rever suas posições.

O envolvimento de gestores da CCR na Operação Lava Jato, no entanto, colocou a concessionária nos holofotes. Desde que as primeiras denúncias vieram à tona, a companhia perdeu quase R$ 3 bilhões em valor de mercado. Na sexta-feira, a empresa era avaliada em R$ 20,02 bilhões. No fim de dezembro, esse valor era quase 63% maior: R$ 32,6 bilhões.

Fontes próximas a um dos acionistas disseram que a preocupação atual dos controladores da companhia - que criou um comitê independente para investigar o caso internamente - é entender quais serão as implicações das denúncias na empresa. Mas não acreditam que esse seja o melhor momento para se desfazer da companhia.

A reportagem apurou que há investidores interessados na concessionária. Os fundos GIC e Temasek, ambos de Cingapura, foram apontados como potenciais compradores. Mas, pela qualidade dos ativos envolvidos, é possível que quando as negociações começarem, de fato, outros nomes entrem na disputa, como os grupos brasileiros de concessões rodoviárias.

Por trás da decisão dos sócios de reduzir a participação na CCR está o envolvimento na Operação Lava Jato. A Camargo Corrêa, por exemplo, já se desfez de importantes ativos (Alpargatas e CPFL) desde que o escândalo de corrupção estourou no Brasil. De lá para cá, o grupo busca um novo rumo para os negócios, como transformar a companhia numa holding de investimentos. Primeira empresa da Lava Jato a fechar um acordo de leniência, a Camargo não tem pressa para vender a CCR, disseram fontes.

Por outro lado, a Andrade Gutierrez precisa levantar dinheiro com urgência. A construtora tem uma dívida US$ 500 milhões (R$ 1,85 bilhão pela cotação de sexta-feira) vencida em abril e que até agora não pagou - ela negocia com a Pimco um empréstimo, que teria como garantia ações da CCR, para quitar a dívida. Ao mesmo tempo, o Tribunal de Contas da União (TCU) bloqueou R$ 508 milhões da empresa.

Com a forte queda na valorização das ações da CCR, no entanto, a Andrade tem perdido poder de barganha nas negociações para resolver sua situação financeira, afirmam fontes. No mercado, especialistas afirmam que, além das recentes implicações na Lava Jato, a CCR também decepcionou o mercado com o lento programa de expansão. No começo do ano passado, o grupo captou R$ 4 bilhões para investimento, mas até agora usou pouco desses recursos. Com a Lava Jato, a empresa se retraiu ainda mais.

Denúncia

Em depoimento de sua delação premiada à Lava Jato, o operador Adir Assad afirmou ter recebido por meio de suas empresas de fachada cerca de R$ 46 milhões de concessionárias de rodovias do Grupo CCR. A delação integra a documentação da 48ª fase da operação, que investiga irregularidades em rodovias e envolve empresas que conquistaram concessões no Estado de São Paulo durante as gestões tucanas de Geraldo Alckmin e José Serra.

Os repasses teriam sido efetuados entre 2009 e 2012 e parte dos valores, segundo Assad, foi entregue ao ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza. Procuradas, as defesas de Adir Assad e Paulo Souza não retornaram. O PSDB também não respondeu.

Em nota, a Camargo Corrêa informou que "não tem nenhum interesse em sequer diminuir sua participação na CCR. Pelo contrário, continua convicta do potencial e crescimento da companhia". A Andrade Gutierrez afirmou que não comenta boatos do mercado. Soares Penido e Temasek não comentam. O GIC não retornou os pedidos de entrevista.

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