Negócios

Só tinha tucano, tive que tirar, diz Lula sobre Petrobras

Leia trecho do depoimento coercitivo feito por Lula à Polícia Federal em que ele fala sobre nomeações na Petrobras


	Petrobras: segundo Lula, todos os nomes indicados para as diretorias da Petrobras chegavam da Casa Civil.
 (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Petrobras: segundo Lula, todos os nomes indicados para as diretorias da Petrobras chegavam da Casa Civil. (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de março de 2016 às 19h11.

Curitiba - Em depoimento coercitivo à Polícia Federal, na Operação Lava Jato, em 4 de março, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva explicou como foram feitas as nomeações para as diretorias da Petrobras. Segundo o petista, 'cada ministro e cada líder do partido coalizado, participa da montagem do segundo escalão do governo'.

"Houve troca de diretorias da Petrobras no início do seu mandato?", questionou o delegado durante o interrogatório.

"Houve, era tudo tucano, porra. Só tinha tucano, eu fui obrigado a tirar. Tinha um que era tido como um Deus da Petrobras, aí eu tirei, foi trabalhar com o Eike Batista, é o que o afundou o Eike."

Para a força-tarefa da Lava Jato, a maior estatal do País foi vítima de uma esquema de corrupção e propinas entre 2004 e 2014. Os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa (Abastecimento), Renato Duque (Serviços), Nestor Cerveró e Jorge Zelada (ambos da área Internacional) e o ex-gerente executivo Pedro Barusco foram condenados por corrupção e lavagem de dinheiro na investigação. Segundo as investigações, as maiores empreiteiras do País reuniram-se em cartel e se apossaram de contratos bilionários da companhia.

Em um trecho do depoimento, o delegado quis saber de Lula se ele ‘tinha conhecimento da divisão das diretorias da Petrobras por partidos políticos’.

"Não é divisão por partido político, gente, principalmente um leigo, um burocrata que não entende de política é que trata a questão da política como se fosse uma coisa secundária. Política é uma coisa muito séria e muito responsável, fora da política não existe saída pra nenhum país do mundo. Então quando um presidente no Brasil, nos Estados Unidos, na Suécia ou na Finlândia, ganha uma eleição no sistema de coalizão, ele é obrigado a governar num sistema de coalizão. Não é de partido político não, é fazer com que as pessoas que ajudaram a ganhar as eleições participem do governo. É assim que funciona. É assim que o Janot montou a equipe dele, assim é todo mundo da equipe. Quando você é eleito para um cargo, você monta em função das pessoas que você conhece. Você não vai colocar o inimigo, que trabalha contra os interesses do teu programa de governo, para dirigir uma empresa", respondeu Lula.

"E o senhor Renato Duque, como é que foi a indicação dele?", perguntou o delegado.

"Do mesmo jeito, querido. Do mesmo jeito", respondeu Lula.

"Como é que chegou o nome ao senhor, por qual partido?", quis saber a PF.

"Veja, todos os nomes chegam pela Casa Civil, porque era isso que eu estou te falando, discute-se com o partido que vai indicar, discute-se com a liderança do partido, vai pra Casa Civil, faz a triagem através do GSI e esse nome vem pra você. Aí você pega o nome manda para o Conselho Administrativo da Petrobras, ela indica ou não", disse o petista.

"Foi assim com o Jorge Zelada também?", questionou o delegado.

"Com todos eles", afirmou o ex-presidente.

"Certo. Nestor Cerveró?", perguntou a PF.

"Com todos eles", disse Lula.

O petista também foi questionado pela Polícia Federal sobre a maneira como eram feitas as nomeações dos diretores da Petrobras.

"Eu vou repetir o que eu já falei, não apenas o diretor da Petrobras, qualquer diretor ou qualquer pessoa que vai trabalhar no Governo Federal, quando você ganha uma eleição, eu vou explicar, quando você ganha uma eleição, sozinho, são as pessoas do partido majoritário que escolhem. Escolhem o Delegado Geral da Polícia Federal, escolhem o Superintendente se quiser escolher o Superintendente, escolhem o Procurador Geral da República. Tudo isso é o presidente que faz. Quando você trabalha num regime de coalizão, você sai de uma coalizão e você coloca ministros de vários partidos pra governar. Cada ministro e cada líder do partido coalizado participa da montagem do segundo escalão do governo. Então quem indica os diretores são as pessoas da área do ministério, são as pessoas das lideranças dos partidos que compõem o governo que vão indicando, essas pessoas passam pela Casa Civil, tem uma investigação GSI, pode falar assim?", disse Lula, provavelmente referindo-se ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.

"Certo", respondeu o delegado.

"GSI, sabe? E se a pessoa não tiver prontuário, se a pessoa não tiver capivara, cada pessoa indica. Eu já fui perguntado, já me perguntaram de Paulo Roberto, já me perguntaram do Duque, já me perguntaram… Essas pessoas são funcionários de 30 anos da Petrobras. São pessoas de carreira, que nunca a Polícia Federal levantou a suspeita, nunca o Ministério Público levantou suspeita, nunca a imprensa levantou suspeita, nunca a oposição sindical levantou suspeita, nunca nenhum dos 86 mil funcionários levantaram suspeita. Porque lamentavelmente as pessoas não nascem com carimbo na testa, ‘eu sou filho da puta’ ou não, ‘eu sou ladrão’ ou não, você fica sabendo depois. Quantos caras vão no casamento da filha, entra com a filhinha toda bonitinha pra entregar virgem a um canalha que 3 meses depois dá uma surra na filha dele? Então, meu filho, essas pessoas são gente de carreira, gente que estão lá, que já tinha ocupado cargos importantes na Petrobras. Então, é assim que são indicadas as pessoas. Já vem lá o nome, vem dois nomes, três nomes, quatro nomes, esse aqui indicado pelo partido tal, Ministério é tal, o líder é tal. "Esse cara aqui é mais qualificado. "É qualificado? Vamos indicar."

Em seguida, o delegado perguntou se a palavra final era do presidente.

"Hein?", disse Lula.

"Enquanto o senhor era o presidente a palavra final era sua?", questionou o delegado.

"Não, a palavra final era do conselho da Petrobras", afirmou o petista.

O delegado, então, quer saber se o conselho era político.

"Não, o conselho é o conselho da Petrobras, é o conselho que nomeia, isso é como embaixador, é como Ministro da Suprema Corte. Ou seja, o presidente indica e é referendado pelo Senado ou não. Passa ou não", respondeu o ex-presidente.

"Era o senhor que indicava os presidentes da Petrobras?", perguntou o delegado. "Os diretores da Petrobras e o presidente?"

"O presidente da Petrobras foi escolha pessoal minha, o Gabrielli, e primeiro foi o José Eduardo Dutra, escolha pessoal minha. Não teve interferência política, era minha", disse Lula, referindo-se aos ex-presidentes da estatal José Sérgio Gabrielli e José Eduardo Dutra.

"Certo. E os diretores?", quis saber o delegado.

"Os diretores, eu acabei de dizer pra você", respondeu Lula.

"Sim, por isso que eu perguntei ao senhor se a palavra final era sua", disse o delegado.

"A palavra de mandar para o conselho é minha", afirmou o ex-presidente.

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCombustíveisEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasIndústria do petróleoLuiz Inácio Lula da SilvaOperação Lava JatoPersonalidadesPetrobrasPetróleoPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

Mais de Negócios

'E-commerce' ao vivo? Loja física aplica modelo do TikTok e fatura alto nos EUA

Catarinense mira R$ 32 milhões na Black Friday com cadeiras que aliviam suas dores

Startups no Brasil: menos glamour e mais trabalho na era da inteligência artificial

Um erro quase levou essa marca de camisetas à falência – mas agora ela deve faturar US$ 250 milhões