Unidade da Smart Fit: a meta da empresa é ter 2.200 unidades até 2024 (Leo Martins/Exame)
André Jankavski
Publicado em 6 de fevereiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 6 de fevereiro de 2020 às 07h00.
São Paulo – El Salvador, com 6,3 milhões de habitantes, tem uma população com número comparável ao da cidade do Rio de Janeiro. O seu PIB, no entanto, equivale a um terço do registrado pela capital carioca. Ou seja, o país está longe de ser um dos mais atrativos alvos de internacionalização de multinacionais. Mesmo assim, no fim de janeiro, a rede de academias de baixo custo Smart Fit abriu sua primeira unidade no país da América Central.
A estreia em El Salvador representou a entrada da rede de academias em seu 12º mercado. A empresa fechou 2019 com 797 academias espalhadas pelo Brasil e América Latina. A meta para este ano é abrir mais 238 unidades e chegar ao total de 1.035. Para isso, a rede deve desembolsar 1 bilhão de reais em investimentos – cada unidade custa cerca de 4 milhões de reais.
“O nosso foco continua sendo os maiores países da região, mas temos capacidade financeira para olhar os países menores e fazer apostas menores”, diz Edgard Corona, presidente e fundador da Smart Fit. Depois do Brasil, com 461 unidades, os maiores mercados da empresa são o México (164), a Colômbia (81) e o Chile (30).
Dinheiro, de fato, é algo que a empresa tem conseguido levantar. No fim de novembro, o fundo canadense CPPIB adquiriu 12,4% da empresa por 1 bilhão de reais. Um mês antes, fechou um acordo de aumento de capital de 500 milhões de reais com fundos geridos pelo grupo Pátria, o seu principal acionista. Além disso, a empresa vem levantando bilhões de reais em emissões de títulos de dívida.
Por isso, não é por acaso que um IPO não está nos planos de Corona. Além do dinheiro captado, a empresa tem um grau de endividamento considerado baixo pelo mercado: 1,7 vezes a relação entre dívida líquida e o EBITDA.
“Com o atual nível de juros, está muito barato tomar dinheiro emprestado no Brasil. É claro que há possibilidade de, se a bolsa continuar subindo nesse ritmo, um investidor possa querer sair, mas não é algo que estamos enxergando no momento”, diz Corona. “E temos caixa suficiente para garantir a expansão até o fim de 2021.”
No ano passado, a empresa passou a figurar na terceira posição no ranking da International Health Racquet & Sportsclub Association (IHRSA) em número de unidades. A meta para o fim de 2021 é ultrapassar a holandesa Basic-Fit e ficar com a vice-liderança – hoje, a primeira colocada é a americana LA Fitness.
Os planos de médio prazo da empresa consistem em ter 2.200 academias até 2024. Mas a empresa também busca outras vias de crescimento que não sejam apenas pela abertura de unidades de baixo custo. A Smart Fit vem apostando em estúdios independentes Race Bootcamp, Jab House, de luta e funcional, e Vydia, de ioga.
Chamadas de microacademias, esse nicho é mais rentável do que as academias de baixo custo, pois as aulas são cobradas de maneira avulsa ou em pacotes mais salgados que uma mensalidade da Smart Fit. De quatro unidades em 2019, a companhia quer expandir para 20 academias desse modelo até dezembro.
A empresa diversifica para não ficar refém de apenas um modelo. Pode se falar que é uma característica do próprio grupo, que iniciou com as academias de alto padrão Bio Ritmo como o seu principal produto. A própria Smart Fit também mudou. No lançamento da rede, há dez anos, as academias não tinham quase nada além de bons equipamentos e de dois a três professores simultâneos pelos corredores. E Corona não enxergava espaço para que o modelo mudasse.
Mas a empresa foi forçada a aumentar o leque de opções. Concorrentes como Blue Fit, Selfit e Just Fit entraram no mercado oferecendo preços baixos, mas outros tipos de aulas, como lutas e danças. Não à toa, a Smart Fit teve que fazer diversas intervenções em unidades já existentes para construir salas de danças e áreas para exercícios funcionais.
As aulas são bem espaçadas para concentrar o maior número de alunos. “O segredo para rentabilizar é não fazer aulas para somente cinco ou seis pessoas”, diz Corona.
Outra frente é a empresa de benefícios corporativos Total Pass. Basicamente, a empresa faz planos para empresas que querem ver os seus funcionários fazendo algum tipo de atividade física. A empresa foi inspirada na startup Gympass, que se tornou unicórnio no ano passado. Porém, ainda está bem atrás da rival: o Total Pass atende 300 empresas com 40.000 clientes ativos. A Gympass, por sua vez, já atende cerca de 2.000 companhias (a companhia não divulga o número total de alunos).
A Smart Fit, no entanto, ainda segue sem lucrar. Nos nove primeiros meses de 2019 (a empresa ainda não divulgou os dados anuais) o prejuízo foi de 61 milhões de reais. Corona não se preocupa. “Quando se foca em investir para crescer, sempre gera prejuízo. Nós, no entanto, temos investidores olhando para o longo prazo”, diz ele. Uma pesquisa do IBGE mostra que menos de 40% dos brasileiros fazem algum tipo de exercício, então não se pode dizer que não exista um grande mercado em potencial.