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Slack, o 'WhatsApp corporativo', abre capital nos EUA

Ferramenta de comunicação corporativa é usada em mais de 600.000 organizações pelo mundo mas, tal qual a Uber, pode nunca dar lucro

Stewart Butterfield, presidente do Slack: empresa teve prejuízo de quase 140 milhões de dólares em 2018 (Beck Diefenbach/Reuters)

Stewart Butterfield, presidente do Slack: empresa teve prejuízo de quase 140 milhões de dólares em 2018 (Beck Diefenbach/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 20 de junho de 2019 às 08h00.

Última atualização em 8 de julho de 2019 às 15h14.

Em 2009, uma startup americana de São Francisco tinha como objetivo criar jogos de sucesso e, para conversarem sobre os projetos, a própria equipe desenvolveu uma plataforma de mensagens usada só internamente. Anos depois, o game não deu certo, mas os desenvolvedores perceberam que o negócio mesmo estava nas mensagens. Essa é a história de como nasceu o Slack, ferramenta para comunicação corporativa que faz nesta quinta-feira sua oferta inicial de ações na bolsa de Nova York.

O serviço foi criado por nomes como Stewart Butterfield, fundador do site de fotos Flickr e atual presidente do Slack. Hoje, a companhia tem mais de 10 milhões de usuários ativos em mais de 600.000 organizações e pelo menos 150 países. Os principais mercados são Europa e América do Norte.

Para a estreia na bolsa, as ações foram precificadas a 26 dólares cada, fazendo o Slack ser avaliado em 15,7 bilhões de dólares.

A ferramenta criada por Butterfield e seus colegas se destacou como solução para comunicação nas empresas com seu sistema de mensagens possibilitando criação de canais para diferentes equipes e a melhor organização da comunicação. Além disso, tem o bônus de separar o corporativo do pessoal -- evitando, por exemplo, que uma empresa utilize ferramentas como o WhatsApp pessoal dos funcionários para comunicações oficiais, mas que também não precise perder tempo com o envio de e-mails para assuntos que demandem comunicação instantânea.

O software do Slack também é integrado a outras plataformas, como a ferramenta de organização Trello e os softwares de vendas Salesforce e Zendesk. Por essas vantagens, pouco menos de um ano após começar a operar, em 2014, o Slack já havia se tornado um unicórnio, passando a valer mais de 1 bilhão de dólares.

No prospecto que apresentou à agência regulatória do mercado de capitais americano (a SEC), o Slack informou que faturou no ano passado 220,5 milhões de dólares, o dobro dos 105,2 milhões obtidos em 2017.

O crescimento do faturamento vai bem, mas o lucro, como tornou-se de praxe com startups de tecnologia, ainda está longe de vir. O prejuízo em 2018 foi de 140,1 milhões de dólares (menor que os quase 147 milhões perdidos em 2017).

A expectativa para 2019 é quase dobrar novamente o faturamento, chegando a 400,6 milhões de dólares (80% maior que o de 2018) e prejuízo de 138,9 milhões.

A plataforma tem uma versão gratuita, mas sua principal fonte de faturamento é a versão paga, que inclui mais funcionalidades como guardar conversas antigas. A versão paga é assinada por 88.000 empresas, ou 15% do total de usuários, e é usada por 65 das 100 empresas no conceituado ranking Fortune 100, da revista de mesmo nome.

O número de usuários pagos cresceu mais de 200% desde 2017. São usuários intensos: os assinantes gastam, em média, nove horas por dia conectados ao Slack (e cerca de uma hora e meia usando-o ativamente).

O que o Slack tem de parecido com a Uber

A abertura de capital do Slack faz parte de uma onda de empresas de tecnologia promissoras abrindo capital na bolsa. Só neste ano, já fizeram IPO (oferta inicial de ações) empresas como as de transporte por aplicativo Uber e Lyft, a plataforma de imagens Pinterest e a fabricante de um hambúrguer que parece carne, a Beyond Meat. Em 2018, empresas como a plataforma de músicas por streaming Spotify e a ferramenta de armazenamento em nuvem Dropbox também abriram capital.

O Slack vive o cenário clássico desse tipo de empresa: crescimento exponencial e uma solução adorada pelos consumidores, mas prejuízos até onde a vista alcança e dúvidas sobre se esse nível de crescimento vai continuar.

O texto apresentando à SEC afirma com todas as letras que o lucro, talvez, nunca venha. "Temos um histórico de prejuízos, antecipamos aumentar os gastos no futuro, e talvez não consigamos alcançar a lucratividade e, se alcançada, mantê-la", escreve a empresa no prospecto. A empresa também aponta que "as taxas de crescimento recentes talvez não sejam indicativos do crescimento futuro". 

Outro problema para o Slack, uma anã perto das grandes empresas de tecnologia como Google e Microsoft, deve ser a crescente concorrência de gigantes do setor. No prospecto, o Slack diz, de fato, esperar que a concorrência "se intensifique" no futuro.

Os competidores são diversos, como as ferramentas de produtividade e e-mail (como agenda e e-mail do Google) a empresas de aplicativos de mensagens (como o WhatsApp, que pertence ao Facebook).  

Apesar de dizer no prospecto que os usuários "amam" a ferramenta e esse é um dos fatores para acreditar na empresa, a solução do Slack é facilmente copiável por concorrentes, o que pode ser um grande problema -- que o diga Mark Zuckerberg, que deixou o aplicativo de imagens temporárias Snapchat em maus lençóis ao copiar nos stories do Instagram a função de posts que desaparecem.

Até agora, o maior competidor direto é a Microsoft, que tem a ferramenta Microsoft Teams integrada a programas de edição de texto e planilhas do popular Pacote Office (criada para oferecer aos assinantes do Office ferramentas parecidas com as do Slack).

Em seu primeiro dia na bolsa, a expectativa para o Slack é de alta nas ações nas primeiras horas do pregão, que começa às 10h30 (horário de Brasília). Mas a Uber, maior IPO do ano, viu as ações caírem 12% no primeiro dia com os investidores passando a questionar o modelo em que o lucro pode nunca vir. Embora em setores diferentes, a mesma desconfiança pode pairar sobre o Slack.

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