Pessoa com tablet: modelo digital ainda não sustenta as empresas de mídia tradicional, o que demanda estratégias que priorizem o aumento da receita (Marcos Santos/USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2013 às 10h55.
São Paulo - Com a meta de elevar em quase 70 por cento o número de usuários cadastrados até dezembro, o iba, plataforma de conteúdo digital do Grupo Abril, está usando uma estratégia antiga com roupa nova: oferecendo edições gratuitas de revistas por tempo limitado em tablets.
A iniciativa ocorre num momento em que grandes empresas de mídia repensam modelos de negócio, diante do recuo nas vendas em canais tradicionais, em contraste com o crescente acesso a seus conteúdo pela web, fomentado pelo avanço de dispositivos móveis.
Revistas de todas as periodicidades viram sua circulação cair no Brasil no primeiro semestre ante igual período do ano passado. Segundo dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC Brasil) o recuo foi de 5,6 cento nas revistas semanais, 6,5 por cento nas quinzenais e 8,8 por cento nas mensais.
No mesmo período, as vendas de tablets mais do que triplicaram no país, chegando a 3,22 milhões de aparelhos, segundo levantamento da empresa de pesquisa do mercado de tecnologia IDC.
"As empresas de mídia do mundo inteiro estão trabalhando em duas frentes de negócio: uma é para manter a posição atual ou crescer com as mídias tradicionais. A outra é para viabilizar negócios em mídias digitais", afirmou José Carlos Sales Neto, presidente do grupo Meio & Mensagem.
O problema, segundo Sales Neto, é que o modelo digital ainda não sustenta as empresas de mídia tradicional, o que demanda estratégias que priorizem o aumento da receita, e não apenas fidelizem os usuários.
O valor obtido com publicidade, principal fonte de receita das empresas, diminuiu 8,7 no primeiro semestre, para 789,6 milhões de reais, segundo dados do projeto InterMeios, elaborado pelo grupo Meio & Mensagem com base em informações fornecidas pelos veículos.
Novos tempos
Para o diretor de operações do iba, Ricardo Garrido, o mercado brasileiro de conteúdo digital está só começando e, por isso, a empresa concentra esforços em primeiramente atrair leitores.
"Em termos de receita, o conteúdo digital ainda é muito incipiente. Hoje estamos muito mais preocupados com os investimentos que temos que fazer no produto e na experiência de leitura", disse.
A venda de livros corresponde a cerca de 60 por cento das receitas da iba, que tem a Saraiva e Amazon como principais concorrentes. Mas o percentual deve diminuir à medida que as revistas ganharem mais espaço, afirmou Garrido.
Pelo último acordo fechado com a Samsung e com a varejista online Nova Pontocom, do Grupo Pão de Açúcar (GPA), clientes que compram um tablet Galaxy Tab no Extra.com recebem um dispositivo com sete assinaturas da Editora Abril por seis meses, além de três e-books.
Fechadas separadamente, a assinatura das revistas e a compra dos e-books alcançariam até 915 reais, disse Garrido, valor que supera ou fica bem próximo do preço do tablet, o que varia em função das especificações do aparelho ofertado.
Com a parceria, o iba, lançado em março de 2012 com investimento inicial de 10 milhões de reais, quer encerrar 2013 com 1 milhão de usuários cadastrados, ante 600 mil atuais, disse Garrido, que acredita que a experimentação é essencial no ainda pequeno mercado de conteúdo digital do país.
"Já temos acordos com Motorola e Samsung e em breve vamos anunciar parcerias com Positivo e Semp Toshiba", afirmou.
O investimento é dividido entre os sócios. "No caso da última parceria, nós oferecemos conteúdo grátis por um tempo, a Nova Pontocom abre mão da margem, investindo num produto para ganhar em escala, e a Samsung entra com o desenvolvimento e o trabalho de embarcar os aplicativos dentro do aparelho".