Embraer: governo brasileiro, que privatizou a companhia nas últimas décadas, mas ainda detém golden share decisiva, resistiu à venda direta à Boeing (Roosevelt Cassio/Reuters)
Reuters
Publicado em 2 de abril de 2018 às 20h36.
Brasília - Líderes sindicais acusaram nesta segunda-feira o governo de negociar uma combinação entre a fabricante brasileira de aeronaves Embraer e a norte-americana Boeing pelas costas dos brasileiros, ressaltando as tensões políticas que pesam sobre as sensíveis negociações.
"Estamos sendo deixados no escuro. Ninguém está nos explicando por que isso é bom para o Brasil", disse Herbert Claros da Silva, vice-presidente do sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos, em uma audiência no Senado. "Pedimos ao presidente Temer que não venda a Embraer."
Autoridades do governo e executivos da Embraer foram convidados, mas não compareceram à audiência convocada pelo senador Paulo Paim (PT-RS) para discutir as conversas entre Boeing e Embraer a respeito de uma potencial parceria sobre a qual o governo tem poder de veto.
Nenhum outro senador compareceu à audiência do comitê de direitos humanos do Senado, embora a associação entre Boeing e Embraer tenha atraído críticas de políticos que poderiam complicar um acordo com a aproximação das eleições de outubro.
A Embraer e a Boeing se recusaram a comentar a audiência. Um porta-voz do Ministério da Defesa, que liderou um grupo de trabalho do governo que vetou o acordo, disse que a audiência é sobre empregos, e não sobre defesa.
O governo brasileiro, que privatizou a Embraer nas últimas décadas, mas ainda detém uma golden share decisiva, resistiu à venda direta da Embraer à Boeing devido a preocupações com a perda do controle soberano sobre seus programas de defesa.
As duas empresas estariam buscando a aprovação do governo para um acordo de compromisso que envolveria o investimento da Boeing em uma terceira empresa recém-criada, incluindo a divisão de aeronaves comerciais da Embraer, mas excluindo sua unidade de defesa.
A proposta de combinação da Boeing com a Embraer, terceira maior fabricante de aviões do mundo, daria a elas uma liderança no mercado de aeronaves com 70 a 130 assentos e criaria uma competição mais dura para o programa CSeries projetado pela canadense Bombardier e apoiado pela europeia Airbus no ano passado.
Líder do sindicato, Silva reconheceu na audiência de segunda-feira que uma união inicial seria um benefício para a Embraer, já que a Boeing ajudaria a comercializar seus jatos de menor alcance em todo o mundo.
Mas ele disse que muitos dos 14 mil trabalhadores das fábricas da Embraer em São José dos Campos, metade dos quais são sindicalizados, estavam preocupados com seus empregos daqui a uma década se terminassem trabalhando para uma empresa com sede nos EUA.