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Siemens usou e-mail paralelo ao falar com "consultores"

Os endereços eletrônicos foram batizados com nomes de personagens de conto de fadas, como "Branca de Neve" e "Sete Anões"


	Trem da Linha 7-Rubi, da CPTM: nos e-mails eram discutidos os termos de uma licitação tocada pela CPTM em 2005
 (Wikimedia Commons)

Trem da Linha 7-Rubi, da CPTM: nos e-mails eram discutidos os termos de uma licitação tocada pela CPTM em 2005 (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 28 de agosto de 2013 às 10h29.

São Paulo - A fim de evitar o uso dos seus próprios e-mails funcionais, funcionários da Siemens criaram "e-mails fantasia" para discutir com um "consultor" os termos de uma licitação tocada pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) no ano de 2005, durante a gestão Alckmin (PSDB). Os endereços eletrônicos foram batizados com nomes de personagens de conto de fadas, como "Branca de Neve" e "Sete Anões".

As Siemens firmou em maio deste ano um acordo de leniência com Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no qual admitiu ter integrado um cartel de empresas que atuou em concorrências do sistema de trens metropolitanos de São Paulo e Distrito Federal entre os anos de 1998 e 2008.

Num dos documentos entregues ao Cade, há cópias dos e-mails criados para a negociação com o "consultor". Ao menos quatro pessoas tinham conhecimento desses endereços eletrônicos, entre elas um dos ex-executivos que denunciaram o cartel ao órgão federal.

A licitação discutida nos e-mails "neve.branca@gmail.com" e "sete.anoes@gmail.com" é a mesma que executivos da empresa sabiam que venceriam antes mesmo de o governo paulista lançar os editais, conforme revelado no início de agosto. O processo de concorrência começou em 2004 e terminou em 2005.

Em um e-mail enviado às quatro pessoas em 24 de maio de 2005, o funcionário Eder Luciano Saizaki informou: "Para facilitar a comunicação com o consultor foram criados os seguintes emails: neve.branca@gmail.com e sete.anoes@gmail.com. Estas contas de e-mail contam com 2 GB de capacidade, acredito ser mais do que suficiente para troca de informações".

Entre os destinatários da correspondência estavam Peter Andreas Gölitz, que chefiava uma unidade de negócios dentro do setor de transportes e é um dos seis ex-funcionários da Siemens que assinaram o acordo de leniência com o Cade.


Também recebeu o e-mail Carlos Teixeira, gerente da MGE Transportes, empresa com a qual a multinacional alemã combinava se associar para o fornecimento do serviço. Investigadores do caso suspeitam que a MGE era uma das rotas do pagamento de propina feito pela Siemens a agentes públicos.

O e-mail enviado por Eder Saizaki não específica quem seria o consultor com quem os destinatários se comunicariam. Em relação a essa licitação de 2005 da CPTM, a única consultoria que aparece entre as provas entregues pela própria Siemens ao Cade é a Procint, de propriedade do lobista Arthur Teixeira.

A polícia e o Ministério Público - que assim como o Cade investigam os fatos narrados pela Siemens em seus âmbitos de competência -, suspeitam que duas offshores que estariam em nome de Teixeira no Uruguai eram outra rota de propina utilizada pela multinacional alemã.

Aproximação

Em e-mail de 29 de outubro de 2004, Peter Gölitz relata ter havido uma reunião na Procint para tratar da licitação da CPTM - ao contar ter sido procurado por integrantes de uma empresa de nome CCC, que, segundo ele, estaria procurando uma aproximação com a Siemens e teria tido uma reunião na MGE.

"Sei que nosso grupo já está fechado, não estou sugerindo cooperação. Mas seria interessante mantê-los entretidos mais um pouco para que não tenham tempo de se alinhar com outra empresa - conforme reunião na Procint, a CCC, a Mitsui e outras pequenas estariam fora dos acordos", escreveu.

A Siemens não comentou o caso ontem (27). Indagado se pediria a quebra do sigilo dos e-mails, o governo paulista declarou que "não hesitará em recorrer ao Judiciário, quantas vezes for preciso, para obter as informações essenciais para exigir o ressarcimento dos prejuízos causados pela suposta formação de cartel". E lembrou ter entrado com ação de indenização contra a empresa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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