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Siemens admite à PF suspeita de propina

A multinacional suspeita que parte dos US$ 7 milhões que a empresa diz terem sido desviados pelo seu ex-presidente foi utilizada para pagar agentes públicos


	Siemens: é a primeira vez que a empresa, que denunciou a prática de cartel no sistema metroferroviário de São Paulo e do Distrito Federal, fala em pagamento de propina
 (Miguel Villagran/Getty Images)

Siemens: é a primeira vez que a empresa, que denunciou a prática de cartel no sistema metroferroviário de São Paulo e do Distrito Federal, fala em pagamento de propina (Miguel Villagran/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 4 de dezembro de 2013 às 08h13.

São Paulo - Um alto executivo da Siemens na Alemanha declarou à Polícia Federal que a multinacional suspeita que parte dos US$ 7 milhões que a empresa diz terem sido desviados por Adilson Primo, seu ex-presidente no Brasil, foi utilizada para pagamento de propina a agentes públicos brasileiros.

É a primeira vez que a Siemens, que denunciou a prática de cartel no sistema metroferroviário de São Paulo e do Distrito Federal, fala em pagamento de propina.

Mark Gough, vice-chefe do setor de compliance - setor que displina regras internas de conduta -, depôs à PF no dia 6 de novembro.

Em 12 páginas de depoimento ele detalhou as investigações feitas pela Siemens sobre a conta e relatou que a Justiça da Suíça lhe informou que parte dos recursos que transitaram pela conta de Primo foi parar em contas de um funcionário da reserva da Marinha e de doleiros que foram presos durante a investigação do caso Banestado - evasão de R$ 30 bilhões de dólares de empresários brasileiros no exterior nos anos 1990, via o antigo Banco do Estado do Paraná.

Gough afirma que as transferências para uma conta bancária no paraíso fiscal de Luxemburgo foram "feitas sob as instruções e a mando de Adilson Primo". O próprio ex-presidente da Siemens no Brasil era titular da conta com outros diretores da companhia. Primo alega que a conta era operacionalizada pela matriz na Alemanha, que tinha conhecimento dela.

O executivo afirmou que a Siemens soube da conta em 2008, por meio de denúncia de um funcionário, cujo nome não revelou alegando que as regras de compliance não permitem a identificação. Segundo ele, a conta "não estava registrada regularmente na contabilidade, não era declarada nos documentos oficiais e não era de conhecimento da empresa".


Gough relatou que metade dos US$ 7 milhões foi transferida para Luxemburgo via duas contas da Siemens, uma nos EUA, outra na Alemanha.

Ele contou que após descobrir as transações e questionar Primo e outros detentores da conta, a investigação chegou a um "dilema": ou os recursos tinham sido desviados para benefício próprio do ex-presidente e diretores, ou o dinheiro tinha sido usado para "pagar propina a agentes públicos, conforme informou o empregado que fez a denúncia sobre a conta", nos dizeres de Gough.

"Caso a primeira hipótese fosse confirmada, o depoente teria levado os fatos imediatamente às autoridades competentes do país da subsidiária", anotou a PF, citando o compliance.

"Nesse caso, porém, como havia a possibilidade de os valores terem sido usados para propina, mas a empresa não tinha provas da participação de cada um dos envolvidos, o depoente pediu a seu chefe autorização para levar os fatos ao procurador de Luxemburgo e solicitar formalmente a abertura de uma investigação criminal".

No começo de 2011, a Siemens entregou os documentos ao procurador de Luxemburgo. A investigação, disse Gough, mostrou que os ativos foram transferidos para offshores em paraísos fiscais.


Uma parte "foi rapidamente aplicada em investimentos aparentemente legítimos, de curto prazo, em outros países, (...) em grandes bancos conhecidos em fundos de investimentos ou ações de empresas para que se pudesse lucrar com os juros".

A Justiça da Suíça informou que valores foram transferidos para três contas de brasileiros, uma delas de Marcos Honaiser, oficial reformado da Marinha, que também foi membro da Comissão Nacional de Energia Nuclear.

As outras duas contas são de escritórios dos doleiros Antonio Pires de Almeida e Ana Lucia Pires de Almeida, ambos falecidos, Paulo Pires de Almeida, Raul Henrique Srour e Richard Andrew Van Oterloo.

A Siemens informou que as investigações "têm como fonte a denúncia espontânea e voluntária da empresa resultantes de suas investigações internas desde 2008, que não encontrou quaisquer evidências de corrupção".

"Com base em sua política de integridade e obediência às leis, a Siemens forneceu e continua fornecendo documentos resultantes de suas averiguações internas para que as autoridades possam prosseguir com suas investigações." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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