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Shein vai abrir lojas físicas permanentes — mas uma centenária empresa francesa quer impedir

Plano de abrir seis unidades em lojas tradicionais na França esbarra em reação negativa do setor e pressão de federações de moda contra o ultrafast fashion

Shein: varejista que nasceu na China faturou 38 bilhões de reais em 2024 (Yuichi Yamazaki/AFP/Getty Images)

Shein: varejista que nasceu na China faturou 38 bilhões de reais em 2024 (Yuichi Yamazaki/AFP/Getty Images)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 2 de outubro de 2025 às 12h04.

A Shein escolheu Paris para dar um passo inédito no varejo global: abrir sua primeira loja física permanente no mundo.

Mas a decisão da varejista chinesa de ocupar espaços emblemáticos da moda francesa criou um conflito direto com a Galeries Lafayette, uma centenária galeria de lojas francesa, e acendeu um novo alerta entre federações e marcas locais.

A ofensiva física será feita em parceria com a Société des Grands Magasins (SGM), empresa francesa que opera imóveis comerciais e administra lojas afiliadas da Galeries Lafayette.

A estreia está prevista para novembro, com uma loja no sexto andar do BHV Marais, no centro de Paris, seguida por unidades em cinco cidades do interior — Angers, Dijon, Grenoble, Limoges e Reims.

O anúncio, feito durante a Paris Fashion Week, gerou reação imediata.

A Galeries Lafayette, dona da bandeira e controladora de parte das operações da rede, se manifestou contra o projeto.

“A Galeries Lafayette se opõe à instalação da Shein nas cinco lojas afiliadas ao grupo SGM”, afirmou a empresa em comunicado oficial, citando que o acordo fere os contratos de afiliação e contradiz os valores da marca. “Essa decisão vai contra o posicionamento e as práticas da Galeries Lafayette. Informamos ao grupo SGM e ao seu presidente, Frédéric Merlin, que não permitiremos a execução desse projeto”, afirma o texto.

Apesar da ameaça de bloqueio, a Shein e a SGM defendem o projeto como parte de uma estratégia de revitalização urbana.

“Essa aliança representa um compromisso com a restauração dos grandes magazines e com a criação de 200 empregos diretos e indiretos na França”, informou a Shein.

Para a SGM, o acordo ajuda a “atrair um público mais jovem e adaptar a oferta às preferências locais”.

A escolha da França como “laboratório” físico da marca não foi por acaso.

“É natural que essa jornada comece em Paris, no BHV, o berço do varejo moderno, antes de se expandir para outras cidades”, afirmou Donald Tang, presidente executivo da Shein, à agência de notícias AFP.

Um passo físico sob cerco regulatório

O plano da Shein ocorre em meio a uma ofensiva regulatória contra o modelo de ultrafast fashion na Europa.

A França aprovou neste ano uma lei que prevê restrições à publicidade, sanções financeiras e exigências mais rígidas de rastreabilidade para empresas do setor. Além disso, Shein e Temu estão sob investigação por usarem brechas legais que permitem importar pacotes pequenos sem impostos — prática que é vista como uma vantagem competitiva injusta pelas marcas locais.

Fundada na China e com sede atual em Singapura, a Shein faturou 38 bilhões de dólares em 2024, com um modelo baseado em preço baixo, altíssimo volume de lançamentos e marketing digital agressivo.

Na avaliação de críticos, esse modelo compromete práticas ambientais e trabalhistas — e cria distorções no mercado europeu.

Reação institucional: da tradição ao risco de boicote

A Federação Nacional do Vestuário, que representa varejistas independentes na França, classificou o acordo como “alarmante”.

“Depois da Pimkie, agora é o BHV, instituição parisiense desde 1860, e a Galeries Lafayette nas províncias que se voltam para o ultrafast fashion, sinalizando uma falta de imaginação e profissionalismo. Essas marcas, que no passado contribuíram para o prestígio da moda francesa, agora se associam ao que há de mais contestável no setor”, afirmou a entidade.

Outras federações da indústria têxtil francesa também se posicionaram contra o avanço da Shein. Em comunicado conjunto recente, elas pedem ação da União Europeia contra o modelo de negócios baseado em volume e preço. Já o presidente da Fédération Française du Prêt-à-Porter Féminin, Yann Rivoallan, chegou a dizer que o projeto “coloca em risco a sobrevivência do savoir faire francês”.

Um teste para a imagem da moda francesa

A Galeries Lafayette não detalhou quais medidas tomará para barrar as lojas, mas indicou que recorrerá a cláusulas contratuais.

A disputa escancara o conflito entre redes que buscam reinventar sua atratividade comercial — como a SGM — e as marcas que querem proteger seu posicionamento histórico.

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