ArcelorMittal: a superintendência do Cade declarou em julho que a operação é "complexa" (Rich Press/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 30 de agosto de 2017 às 21h02.
Última atualização em 30 de agosto de 2017 às 21h07.
São Paulo - O setor de sucata de aço vê com otimismo as chances do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) rejeitar a parceria do grupo Votorantim com a ArcelorMittal Brasil na área de aços longos, anunciada mais cedo neste ano, afirmou o diretor institucional da entidade que representar o setor, Inesfa.
A Votorantim anunciou em fevereiro acordo de fusão de suas operações de aços longos com a ArcelorMittal no país, na qual passará a ter uma fatia minoritária. Mas a superintendência do Cade declarou em julho que a operação é "complexa" e que vai precisar de mais tempo de análise.
Porém, na avaliação de Leonardo Palhares, diretor de relações institucionais do Inesfa, o Cade já sinalizou que não pretende se prolongar muito na análise do caso e que o julgamento da operação deve ocorrer no início de setembro. Procurado, o Cade informou que ainda não há expectativa precisa sobre quando o caso será julgado.
"É uma luta de Davi contra Golias, mas acreditamos hoje que há boas chances de ser rejeitado", disse Palhares ao comentar a série de questionamentos feitos pelo órgão de defesa da concorrência sobre o impacto da operação no mercado de aço brasileiro e as negativas recentes do Cade a operações complexas como a união Kroton-Estácio e Ipiranga-Alesat.
Duas semanas atrás, o vice-presidente financeiro da Votorantim, Sergio Malacrida, havia comentado que o grupo já esperava que o acordo com a ArcelorMittal Brasil seria considerado complexo pelo Cade, mas que a companhia espera pela aprovação do negócio, citando que o mercado global vive excesso de capacidade produtiva e baixa demanda no Brasil.
Porém, segundo Palhares, se o acordo entre Votorantim e ArcelorMittal for aprovado, o mercado de aços longos do país passará por forte concentração, já que hoje 80 por cento da produção e comercialização do insumo usado na construção civil está nas mãos das duas empresas e da Gerdau, que não fez pedido para ser parte interessada no julgamento do Cade.
Além disso, segundo Palhares, com a aprovação os preços da sucata podem recuar 30 por cento sem que a queda seja toda incorporada sobre os preços do aço no mercado interno.
"A concentração não afeta só a distribuição do aço, afeta também o mercado de fornecedores", disse Palhares, cujo setor é formado por cerca de 5.600 empresas que comercializam sucata, insumo usado em 30 por cento da produção siderúrgica do país.
Questionado sobre quais remédios eventualmente o Cade poderia considerar para aprovar a operação, o diretor do Inesfa afirmou que a autarquia deveria "proteger a longa cadeia de pessoas e empresas vinculadas à coleta e preparação de sucata. Mas é muito difícil preparar esse tipo de estrutura, o mais simples seria preservar o mercado como está".
Em entrevista à Reuters no início do mês, o superintendente-geral interino do Cade, Diogo Thomson de Andrade, afirmou que o cenário de crise vivido pela economia, e que atingiu fortemente o mercado siderúrgico, tem levado a uma maior complexidade das fusões e aquisições apresentadas à autarquia, o que tende a elevar as possibilidades de reprovação.
Segundo Palhares, em seus pedidos de informação aos interessados na aliança entre Votorantim e ArcelorMittal Brasil, o Cade se preocupou com o entendimento do que seria mercado relevante afetado pela concentração, além de detalhar a grande série de produtos siderúrgicos produzidos no país.
"Aí a gente viu que a nossa contribuição foi efetiva. Tem boas chances hoje de ser rejeitado", afirmou o diretor do Inesfa.