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Setor do turismo investe em experiências exclusivas para atrair ricos

De gastronomia estrelada a mimos: o luxo do luxo no Rio com foco em visitantes endinheirados, principalmente do Brasil

 (wera Rodsawang/Getty Images)

(wera Rodsawang/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 29 de maio de 2022 às 09h46.

Última atualização em 29 de maio de 2022 às 11h03.

Começar o dia com um café da manhã servido aos pés do Cristo Redentor sob os primeiros raios de sol e terminar a noite na mesa do chef italiano Nello Cassese, dentro da cozinha do estrelado Cipriani, num jantar harmonizado com os melhores vinhos italianos. Essas são algumas das experiências encontradas no menu do turismo de luxo do Rio, que vem investindo na criatividade para chamar a atenção de visitantes, em especial brasileiros, com vontade de gastar e de aproveitar a cidade de um jeito muito exclusivo e fora do lugar-comum. Esse roteiro, vasto, inclui de um ritual de relaxamento em todo o corpo no ritmo da bossa nova , no spa do Fasano de Ipanema, a um banquete à luz de velas entre tubarões, arraias e outros peixes em pleno AquaRio.

Os hotéis mais caros se esforçam para oferecer novos atrativos, já que, dentro do setor de hospedagem na cidade, o segmento vem se destacando na retomada, ajudando a movimentar a economia carioca. No Fairmont, os hóspedes, que têm o privilégio da paisagem do Posto 6, podem desfrutar de um jantar na varanda do hotel à luz da lua sobre Copacabana a uma aula de ioga com o sol nascendo na praia. Também são organizados cafés da manhã no Cristo, antes de o monumento abrir ao público. O staff ainda corre atrás para dar forma aos desejos mais extravagantes dos clientes:

— Hospedamos agora um grupo de arquitetos que veio conhecer a Casa Cor e passar três dias no Rio. Fizemos um luau para 80 arquitetos na piscina porque eles queriam comemorar um réveillon fora de época. No dia seguinte, organizamos o primeiro torneio deles de beach tennis, todos vestindo camisetas iguais. O almoço foi no Tropik (quiosque do hotel), à beira-mar — conta Michael Nagy, diretor do Fairmont, dizendo que a programação do grupo incluiu ainda tour pela arquitetura da cidade e passagens por outros restaurantes.

O Fairmont foi um endereço requintado da cidade que viu o perfil da sua ocupação inverter com a pandemia. Antes, 73% dos que se hospedavam por lá eram estrangeiros que vinham ao Rio para negócios e eventos. No início da retomada, 98% eram brasileiros. Hoje, 55% são do país, e 45% de fora.

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— Não tínhamos tantas experiências a oferecer porque o mercado era diferente. Havia um perfil muito conhecido, voltado para o setor corporativo e eventos. A pandemia criou um novo cliente, o brasileiro do luxo. É o brasileiro que ia para Paris, mas que hoje viaja internamente, procurando uma coisa local e única — completa Nagy, comparando o preço de três noites no hotel recheadas de experiências ao valor de “uma passagem de ida e volta na executiva para os Estados Unidos”.

O empresário Edgar Nunes, de São Paulo, aproveitou em abril uma viagem de negócios ao Rio para passar uns dias em clima de férias com a mulher, Eliane, as duas filhas, Brunna, de 16, e Sophia, de 11, e a cadelinha Khloé. Eles se hospedaram no Grand Hyatt, na Barra, onde participaram de uma inusitada aula de sushi. A última viagem internacional da família foi um tour pelo Oriente Médio, em janeiro de 2020. No meio do ano, iriam para a Europa, mas as consequências da guerra na Ucrânia levaram ao cancelamento do plano original.

Jantar de R$ 8 mil

Edgar, que precisa voltar a trabalho ao Rio em duas semanas, quer trazer de novo a família.

— Em abril, saímos de carro cedo e chegamos ao Rio antes da hora do almoço, no domingo de Páscoa. Ficaríamos até quarta, mas esticamos até sábado para ir ver os desfiles na Sapucaí — conta o empresário. — Até a cachorrinha ficou enlouquecida com essa ida ao Rio. Uma diferenciação do hotel é que ele é pet friendly. E foi uma viagem gostosa, uma experiência de resort urbano, com serviços e atividades que encontramos em locais mais afastados.

Não precisa ser de fora para aproveitar isso tudo. Dentro do Copacabana Palace, no Cipriani, restaurante de alta gastronomia cotado com uma cobiçada estrela no Guia Michelin, 60% dos comensais que se reúnem em volta da “mesa do chef”, tendo toda a orquestra da cozinha como pano de fundo, não são hóspedes. Por pessoa, os jantares custam de R$ 950 a R$ 8 mil, mais 10% (valores a partir de 1º de junho). O preço mais caro possui harmonização completa com champanhe Dom Pérignon.

— Recebemos muitos casais para comemorar datas especiais, estrangeiros e grupos de amigos que buscam curtir comendo e bebendo muito bem. Recebemos muitos cariocas e até paulistas que pegam um voo apenas para fazer a experiência e depois retornam para São Paulo — explica o chef Nello, que, para a mesa, segue as preferências da clientela, e não o cardápio do salão. — Já tivemos um cliente apaixonado por foie gras e trufas. Preparamos todo o jantar, do início ao fim, usando estes ingredientes. Foi desafiador.

Já o AquaRio é para quem quer comer e beber num cenário diferente de tudo. Para alugar o espaço do Grande Tanque Oceânico e montar uma mesa, é preciso desembolsar R$30 mil e torcer para conseguir a reserva. Em geral, são feitos cerca de 15 pedidos por mês, mas o lugar atende pouquíssimos, já que a prioridade é o bem-estar dos animais. Lá, os jantares são acompanhados por um biólogo educador e acabam pontualmente às 22h.

—O jantar no Grande Tanque Oceânico é para quem busca uma experiência memorável, inédita e singular no aspecto sensorial, estando incluso o aprendizado sobre o ambiente marinho. A procura, em geral, é feita pelo mercado corporativo, além de hotéis de luxo — afirma o diretor Manoel Browne.

O segmento quer seduzir o turista, para que retorne em busca de novidades. Tem gente que chega querendo o melhor da gastronomia, mas há os que procuram um pouco de paz. O Fasano de Angra dos Reis, na Costa Verde, oferece aos hóspedes a chance de aproveitar uma ilha, a Catitas, com total privacidade, durante um dia. Já no spa da unidade do hotel em Ipanema, o ritual batizado de bossa nova energiza usando óleos essenciais desenvolvidos exclusivamente para essa terapia, além de “chocalhos” com cristais. Tudo começa com um drinque no restaurante Gero; depois, a pessoa tem o corpo envolto com lama do Mar Morto, para relaxamento muscular e eliminação de toxinas. É quando a massoterapeuta começa a fazer movimentos de “samba na pele” utilizando as pedras, ao som de bossa nova. São quase três horas de tratamento, ao custo de R$ 988, que termina com alongamentos e massagens que “lembram ondas do mar”.

Para relaxar

De frente para o calçadão de Copacabana, com vista para o mar até dos chuveiros, a Ocean Spa Suite do Emiliano, com 90 metros quadrados, única do tipo no país, é cercada de detalhes para propiciar relaxamento total. Quem quer se desligar do mundo encontra uma caixa especial para guardar o celular que barra as ondas eletromagnéticas do aparelho.

Por uma diária de R$ 5.750, é possível também esquecer dos problemas dentro de uma banheira de hidromassagem a ar com cromoterapia, num banho aromático de pétalas, ou pintando um quadro diante da praia. Com a pandemia, o Emiliano passou a “customizar” atividades ao gosto do hóspede.

— Oferecemos reequilíbrio através de três pilares: desintoxicação, relaxamento e energização — diz Carolina Filgueiras, sócia do Emiliano e CEO da marca de cosméticos Santapele, usada no espaço.

A herdeira do grupo foi uma das recentes “hóspedes” de uma das duas suítes spa do hotel, ao lado do namorado, que não conhecia esse “pequeno resort”:

—Há muita gente lidando com efeitos do pós-pandemia. Antes, oferecíamos uma experiência; hoje, perguntamos como a pessoa quer sair da suíte spa. Tem quem queira só relaxar, mas tem os que chegam para ficar reclusos, num momento detox do mundo

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