Negócios

Sem Seara, Marfrig aposta na força do mercado de bovinos

Futuro presidente da companhia avalia que a empresa estará mais bem preparada no setor após se livrar de uma dívida de R$ 6 bilhões com a venda da Seara


	Gado da Marfrig: companhia vendeu a Seara para se livrar de uma dívida de R$ 6 bilhões
 (Cláudio Rossi/EXAME.com)

Gado da Marfrig: companhia vendeu a Seara para se livrar de uma dívida de R$ 6 bilhões (Cláudio Rossi/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de agosto de 2013 às 18h34.

São Paulo - A Marfrig, terceira maior produtora de carne bovina do mundo, avalia que estará mais bem preparada para brigar por esse mercado com as grandes companhias globais, após se livrar de uma dívida de quase 6 bilhões de reais com a venda da Seara, a divisão de aves, suínos e processados.

E como sua principal concorrente em bovinos, a JBS, compradora da Seara, terá que lidar com as dificuldades da organização do novo e grande negócio, a Marfrig acredita que poderá ganhar mais espaço e dinheiro em carne bovina, disse em entrevista à Reuters nesta sexta-feira o futuro presidente-executivo da companhia, Sérgio Rial, que deve assumir o comando da empresa no início de 2014.

"É muito desafiador, não há espaço para pedalar dos dois lados", avaliou Rial que se mantém na presidência da Seara enquanto a empresa não é definitivamente transferida para a JBS.

Rial avalia que a JBS, líder na produção global de carne bovina, à frente da norte-americana Tyson Foods e da Marfrig, deverá estar muito centrada na consolidação da Seara e no equacionamento de sua dívida maior, especialmente após a aprovação do negócio pelos órgãos reguladores, aguardado para setembro. O acordo de venda da Seara para a JBS foi firmado em junho.

"A aquisição da Seara vai exigir tempo e atenção (da JBS), para que os 6 bilhões de reais (da dívida) não fiquem mais caros", declarou um dia após a Marfrig divulgar prejuízo trimestral, ainda influenciado pela operação da Seara.

Rial acredita que a redução do endividamento da Marfrig, que deve cair para pouco mais de 5 bilhões de reais após a venda da Seara, dará condições para a empresa brigar para crescer no ramo de carne bovina.

"A fortaleza do balanço é importante para fazer com que os concorrentes se comportem... A melhor defesa para uma guerra é estar bem armado", destacou Rial, referindo-se à nova condição da Marfrig, empresa que cresceu rapidamente em um curto período de tempo, realizando 40 aquisições em cinco anos, incluindo a Seara.

Rial, que foi diretor financeiro global da gigante do agronegócio Cargill, participou da compra da Seara pela Cargill e depois vendeu a empresa de aves e suínos duas vezes.

Na Cargill, ele negociou a venda da Seara para a Marfrig, de Marcos Molina, e depois, já na Marfrig, onde está desde novembro de 2012, o executivo negociou a novamente a companhia, dessa vez para a concorrente JBS.


Rial disse ver uma disputa mais acirrada entre as gigantes em bovino no mercado doméstico, que inclui a Minerva, por conta de um cenário macroeconômico mais desafiador, onde repasses de custos estão limitados.

"A disposição do consumidor de aceitar aumentos é menor, a inflação corroeu o poder de compra, o que pressiona as margens das empresas", comentou.

Com esse foco em bovinos no Brasil, e mais preocupada gerar lucro, após vários prejuízos em meio à grande dívida, a Marfrig não mira aquisições, disse Rial.

"O momento é de consolidar, temos que dar resultado, lucro, e é aí que ação reage e podemos levantar mais equity", afirmou, acreditando que a melhora do perfil da dívida também permitirá uma melhora na avaliação pelas agências de rating.

Crescimento na Receita

Segundo ele, a empresa com faturamento anual de 17 bilhões a 18 bilhões de reais projeta crescimento para 2014, com a força da divisão de bovinos e do segmento de Food Service (para atendimento de restaurantes) e das unidades no exterior, com atuação na Europa, EUA e Ásia.

"Essa receita vai mais para perto de 20 bilhões (de reais) em 2014", avaliou o diretor, que ressaltou durante a entrevista que o câmbio favorece as exportações brasileiras de carnes.

A divisão de carne bovina da Marfrig, que conta também com unidades no Mercosul, tem cerca de 40 por cento de sua receita baseada nas exportações, e o restante no mercado interno.

Atualmente, pelo dólar fortalecido frente ao real, 55 por cento da receita total da companhia vem de unidades no exterior. Pouco mais da metade do faturamento externo provém da Keystone, com operações nos Estados Unidos e na China, e a outra parte vem da Moy Park, unidade de frango com forte atuação no Reino Unido.

Essa unidade do Reino Unido, aliás, poderá vir a ser cliente da JBS, disse Rial, num momento em que a Marfrig não tem planos de reabrir sua unidade de aves no Brasil, o maior exportador de carne de frango.

"Não vamos entrar em frango no Brasil... Caberia à JBS ter o Marfrig como cliente para fornecer à Moy Park, se for do interesse deles", declarou Rial, que disse ter bom relacionamento com a família Batista, controladora da JBS.

Acompanhe tudo sobre:AlimentaçãoAlimentos processadosCarnes e derivadosEmpresasEmpresas brasileirasEstratégiagestao-de-negociosIndústriaMarfrigSeara

Mais de Negócios

'E-commerce' ao vivo? Loja física aplica modelo do TikTok e fatura alto nos EUA

Catarinense mira R$ 32 milhões na Black Friday com cadeiras que aliviam suas dores

Startups no Brasil: menos glamour e mais trabalho na era da inteligência artificial

Um erro quase levou essa marca de camisetas à falência – mas agora ela deve faturar US$ 250 milhões