Negócios

Sem projetos, fábrica da Embraer no país fecha em 10 anos, diz sindicato

Na visão dos sindicatos, é baixa a probabilidade de os norte-americanos optarem por desenvolver, fabricar e montar eventuais novos aviões no Brasil

A Embraer acertou a venda de 80% de sua divisão de aviação comercial para a americana Boeing (Denis Balibouse/Reuters)

A Embraer acertou a venda de 80% de sua divisão de aviação comercial para a americana Boeing (Denis Balibouse/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de julho de 2018 às 18h22.

São Paulo - As fábricas da Embraer não se sustentarão caso a empresa brasileira e a Boeing não garantam novos projetos no Brasil para o futuro - algo que ambas não prometem no momento, dizem os sindicatos de metalúrgicos que representam os funcionários da Embraer.

"Não estou contra essa junção por causa do imperialismo norte-americano, como gostam de taxar o sindicato. Estou me baseando em um fato concreto: se não houver garantia de novos investimentos e nova aeronave, a fábrica vai fechar em cinco ou 10 anos", disse ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, Herbert Claros, diretor do Sindicato de São José dos Campos que tem encabeçado a campanha contra o negócio da brasileira com a fabricante norte-americana.

Dirigentes dos sindicatos de São José dos Campos, Botucatu e Araraquara se reuniram nesta sexta-feira, 13, com o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva. Segundo Herbert Claros, a discussão não avançou na questão dos empregos: a empresa não garante estabilidade no curto ou no longo prazo.

No início de julho, a Embraer acertou a venda de 80% de sua divisão de aviação comercial para a americana Boeing. O negócio criará uma nova companhia, avaliada em US$ 4,8 bilhões (R$ 19 bilhões), na qual a brasileira terá apenas 20% de participação. Desde que as tratativas para a fusão tiveram início, no final de 2017, sindicalistas têm demandado esclarecimentos da Embraer sobre os potenciais impactos do negócio sobre os empregos no País.

A principal preocupação dos sindicatos mira alguns anos à frente. Hoje, a empresa está em boa situação, com o seu carro-chefe - a família dos E2 - ainda em lançamento. Mas esses modelos se tornarão ultrapassados em alguns anos e a companhia precisará de novos projetos para manter o nível de emprego no País. Na visão dos sindicatos, é baixa a probabilidade de os norte-americanos optarem por desenvolver, fabricar e montar eventuais novos aviões no Brasil.

Para Herbert Claros, os impactos negativos à Embraer das negociações com a Boeing já vêm se materializando. Um exemplo, diz, foi a perda da campanha da aérea JetBlue, que decidiu substituir sua frota de E-Jets 190 por aviões Airbus A220-300(os antigos CS300, da Bombardier).

"A Embraer perdeu não porque a Airbus está com a Bombardier, mas porque a JetBlue não compra avião da Boeing, e a JetBlue sabe que há a possibilidade de as duas se juntarem", avalia.

Os sindicatos rechaçam ainda a alegação da brasileira de que ela precisaria se juntar à Boeing para sobreviver em um mercado cada vez mais competitivo e em processo de consolidação. Herbert Claros destaca que a companhia já é a líder em jatos regionais e que as aeronaves de suas concorrentes asiáticas, como a russa Sukhoi e a japonesa Mitsubishi, estão apenas no papel ou, no máximo, em fase de testes - ou seja, longe de conquistar a posição que a Embraer tem hoje.

Ainda de acordo com o porta-voz, as entidades ainda não receberam resposta sobre as reuniões solicitadas com o presidente Michel Temer e com os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, para discutir o acordo com a Boeing. Os sindicatos pedem que o governo vete a operação.

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