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Sem privatização, Banco do Brasil parte para plano B

Para concorrer melhor com bancos privados, Banco do Brasil quer mais facilidade para contratar e demitir funcionários e fechar parcerias com fintechs

Banco do Brasil: alguns pontos do plano ainda dependem de aprovações do governo para avançar e podem ser de difícil aprovação política (Adriano Machado/Bloomberg)

Banco do Brasil: alguns pontos do plano ainda dependem de aprovações do governo para avançar e podem ser de difícil aprovação política (Adriano Machado/Bloomberg)

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Reuters

Publicado em 27 de janeiro de 2020 às 13h01.

Última atualização em 27 de janeiro de 2020 às 13h02.

São Paulo — O Banco do Brasil planeja uma série de iniciativas para competir melhor com rivais privados, depois que o presidente Jair Bolsonaro descartou planos de privatizar a instituição, de acordo com quatro pessoas familiarizadas com o assunto.

O plano inclui alterar as regras de emprego para facilitar a contratação e demissão de funcionários do banco e remover algumas restrições salariais, manter dividendos em patamares elevados a partir da venda de ativos e fechar parcerias com fintechs e outras startups, disseram essas pessoas, que se recusaram a ser identificadas porque o plano ainda não é público.

As iniciativas foram aprovadas pelo conselho de administração do banco, disseram duas das fontes. O jornal Valor Econômico divulgou na quinta-feira o plano do banco de formar joint ventures com fintechs, mas os outros detalhes não foram divulgados anteriormente.

Alguns pontos do plano ainda dependem de aprovações do governo para avançar e podem ser de difícil aprovação política, além de enfrentar resistência dos quase 94 mil empregados do Banco do Brasil, como é o caso das mudanças salariais e nas regras de demissão.

As fontes disseram que as conversas com o Ministério da Economia sobre regras de emprego começaram no ano passado e que qualquer mudança provavelmente se aplicaria a outras empresas controladas pelo Estado. No entanto, o resultado dessas discussões permanece incerto.

O Banco do Brasil se recusou a comentar o assunto. O Ministério da Economia negou que mudanças na forma como as empresas estatais contratam e demitem estejam em discussões. Mas duas fontes do ministério disseram à reportagem que as conversas estão acontecendo na secretaria especial de Desestatização, comandada por Salim Mattar. Uma dessas fontes acrescentou que as discussões são preliminares.

O plano do Banco do Brasil para ganhar competitividade ilustra como a realidade da política brasileira torna mais lenta a agenda do presidente Bolsonaro. Ele assumiu como presidente em janeiro de 2019 com a promessa de reduzir o papel do governo na maior economia da América Latina, mas tem falhado em algumas promessas.

Logo após assumir o cargo, seu governo instalou uma nova administração no Banco do Brasil, o segundo maior banco do país em ativos, com um valor de mercado de 146 bilhões de reais, além de iniciar uma série de desinvestimentos.

Hélio Magalhães, que anteriormente chefiava o Citigroup e a American Express no Brasil, foi nomeado presidente do conselho. Rubem Novaes, economista formado na Universidade de Chicago e acadêmico a maior parte de sua vida, assumiu a presidência-executiva.

A administração do banco defendeu publica e privadamente, e também por meio do Ministério da Economia, que o governo precisava deixar sua posição de controlador no banco para permitir que ele competisse melhor com rivais como o Itaú Unibanco,Bradesco e Banco Santander Brasil. A avaliação da alta cúpula do Banco do Brasil é que a instituição poderia rapidamente ficar atrás de tais rivais se não fosse ágil em oferecer aos clientes novos produtos, trazer mais tecnologia e reter e contratar talentos.

Bolsonaro, no entanto, rejeitou a ideia, em parte por acreditar que enfrentaria oposição de membros do Congresso cujos integrantes representam áreas que dependem fortemente da instituição, disse uma das fontes. O Banco do Brasil é o maior banco do país em crédito rural e muitas vezes é dono da única agência de cidades pequenas.

Bolsonaro não se pronunciou imediatamente sobre o assunto. Em dezembro, o presidente disse a jornalistas que as discussões sobre a privatização do banco eram um assunto encerrado.

Plano B

Quanto às mudanças na folha de pagamento dos funcionários, dependendo da posição estratégica, o banco deseja pagar salários mais altos para atrair e reter talentos sem precisar pedir permissão ao Ministério da Economia, disseram as fontes.

As diferenças salariais podem ser substanciais na alta cúpula dos bancos, mostram dados salariais disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários. Por exemplo, um diretor estatutário do Santander Brasil recebe mais de quatro vezes o que o Banco do Brasil paga por uma função semelhante, em média.

Enquanto defendia a privatização, Novaes disse recentemente que o banco perdeu 50 executivos importantes para os concorrentes em 2019 em parte porque eles não podiam pagar essas pessoas tanto quanto o setor privado pagava.

Se o governo aprovar a mudança, também permitirá que o Banco do Brasil reduza o número de funcionários mais rapidamente por meio de iniciativas como programas de indenização voluntária.

As reformas da força de trabalho, no entanto, provavelmente enfrentarão resistência dos funcionários públicos, que dependendo do cargo, têm benefícios mais generosos do que na concorrência privada e estabilidade do emprego.

Em uma página privada do Facebook para funcionários chamada "BB Funcis Realistas", vista pela Reuters, alguns funcionários se queixaram dos esforços de privatização de Novaes e pediram sua renúncia por se preocupar com suas implicações disso.

Dividendos e fintechs

O banco também planeja manter o percentual de pagamento de dividendos sobre o lucro no teto, em 40%, já que as vendas de ativos nos próximos meses provavelmente ajudarão a aumentar os lucros, disseram duas fontes.

Um terceiro elemento do plano é negociar joint ventures e adquirir participações minoritárias em startups, disseram as quatro fontes. O Banco do Brasil quer oferecer às startups acesso à sua ampla rede no Brasil - 37,3 milhões de clientes e mais de 4.000 agências - em troca de participações nessas empresas, disseram essas fontes. O banco não tem intenção de desembolsar recursos para se tornar sócio das startups.

O Banco do Brasil também continuará a fechar acordos com grandes instituições financeiras, como fez no ano passado quando anunciou uma joint venture com o UBS para a área de banco de investimento. Neste momento, o Banco do Brasil procura um parceiro para sua unidade de gestão de recursos.

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