Sears: negócio deixou deixou uma marca duradoura na memória de quem viveu os anos 60 e 70 e acompanhou de perto o crescimento de São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais (GettyImages)
Repórter de Negócios
Publicado em 16 de novembro de 2024 às 08h08.
Foi-se o tempo em que a Sears era o nome que vinha à mente para tudo: roupas, móveis, eletrodomésticos e até brinquedos.
Fundada no final do século 19, a Sears já foi uma das maiores redes de lojas de departamento do mundo, sendo considerada a “Amazon” de seu tempo. No Brasil, sua chegada foi em 1949, trazendo ao país algo revolucionário: a cultura de uma loja de departamentos completa e moderna.
Desde o início, as lojas da Sears espalharam um novo conceito de varejo em São Paulo e Rio de Janeiro, competindo com nomes icônicos como o Mappin e a Mesbla. Com o slogan “Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”, a empresa construiu uma base fiel de clientes, oferecendo produtos variados e serviços de atendimento incomparáveis.
A loja na Praça Oswaldo Cruz, no Paraíso, em São Paulo, era o principal ponto de encontro dos consumidores paulistanos, que se maravilhavam com as escadas rolantes instaladas na unidade da Água Branca, uma novidade que marcou época.
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A história da Sears, no entanto, remonta a 1886, quando Richard Warren Sears começou a vender relógios pelo correio. A empresa, inicialmente chamada R.W. Sears Watch Company, nasceu da venda de um lote de relógios que um joalheiro não quis retirar. Sears, um telegrafista de 23 anos, decidiu vendê-los por correspondência, e o sucesso foi tão grande que ele expandiu o negócio. Em 1893, associou-se ao relojoeiro Alvah Curtis Roebuck, formando a Sears, Roebuck and Co..
A estratégia do catálogo foi pioneira. Conhecido como o “Livro de Desejos”, o catálogo da Sears oferecia desde ferramentas a roupas e até mesmo casas para montar.
Ao longo dos anos, a empresa consolidou seu domínio do varejo nos Estados Unidos, passando a operar lojas físicas e se expandindo para novos mercados. Em 1925, abriu sua primeira loja de departamentos em Chicago e, na década de 1940, já contava com mais de 600 unidades em operação. Foi também nesse período que a Sears abriu sua primeira loja fora dos EUA, em Havana, Cuba, expandindo-se em seguida para o México, América do Sul e Canadá.
Durante décadas, a Sears, Roebuck & Co. era um dos maiores nomes do varejo mundial. Fundada nos Estados Unidos no final do século 19, a empresa se tornou a queridinha da classe média americana, onde era possível encontrar praticamente tudo: roupas, móveis, ferramentas, eletrodomésticos e até casas pré-fabricadas.
Para os americanos, uma vida sem Sears por perto parecia inimaginável. E foi essa potência que chegou ao Brasil em 1949, revolucionando o mercado brasileiro.
A primeira loja Sears no Brasil foi inaugurada na Praça Oswaldo Cruz, no bairro Paraíso, em São Paulo — no mesmo endereço onde hoje fica o Shopping Paulista.
Não demorou para que a Sears se tornasse referência em compras e sofisticação, especialmente para a classe média das grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, onde reinava ao lado das gigantes Mappin e Mesbla. Para muitos, a Sears era sinônimo de qualidade e garantia — uma relação de confiança que ajudou a marca a se expandir até atingir 11 lojas em território nacional.
Nos anos 1980, no entanto, a situação começou a se complicar.
A Sears enfrentava dificuldades nos Estados Unidos e a crise afetou as operações internacionais. Em 1983, o grupo americano decidiu vender as 11 lojas no Brasil para uma joint venture formada pelos grupos Malzoni e Vendex. A venda foi um alívio para a matriz americana, mas no Brasil, as lojas da Sears passaram a enfrentar novos desafios. A empresa chegou a abrir unidades em shopping centers e apostou em pontos de venda nas regiões de maior movimentação do país. Mesmo assim, a competição com o Mappin e a Mesbla, somada às dificuldades internas do grupo, levou a operação brasileira a um impasse.
Nos anos 1990, o grupo holandês Vendex, controlador da rede na época, vendeu as lojas brasileiras para o Mappin, que tentava expandir sua presença no varejo brasileiro. Essa transação marcou o fim definitivo das lojas Sears no Brasil, mas o impacto cultural da marca continuou vivo.
Muitos consumidores ainda se lembram das vitrines modernas, das escadas rolantes e da variedade de produtos que transformaram a experiência de compras no país.
Nos Estados Unidos, o declínio da Sears foi igualmente acelerado. A empresa começou a perder mercado para redes como Walmart e Target, que ofereciam produtos mais baratos e tinham uma gestão mais eficiente.
Em 2005, numa tentativa de sobrevivência, a Sears se fundiu com outra gigante em decadência, a Kmart, sob a liderança do investidor Edward Lampert, que assumiu a companhia na tentativa de salvar o negócio. Mas a estratégia de Lampert, focada em vendas de ativos e corte de custos, acabou acelerando o declínio. Em vez de renovar suas lojas e investir na experiência do consumidor, ele focou na venda de imóveis e no fechamento de lojas.
Com o tempo, a Sears passou de mais de 3.500 lojas para menos de 20, e sua presença icônica foi se dissolvendo. A companhia, que dominou o varejo por mais de um século, foi perdendo relevância e popularidade. Em 2018, com uma dívida de 5,6 bilhões de dólares, a empresa pediu recuperação judicial e iniciou um processo de falência que duraria mais de quatro anos.
Hoje, o nome Sears é lembrado com nostalgia, mas a marca, que chegou a representar o espírito da classe média americana, não conseguiu sobreviver à transformação do varejo digital.
A era de ouro das lojas de departamento terminou, e o espaço da Sears em shoppings e centros comerciais nos Estados Unidos foi ocupado por novas lojas, clínicas médicas e academias. O “Livro de Desejos” foi substituído pelo catálogo da Amazon, e as escadas rolantes que a Sears popularizou no Brasil são agora um marco de uma época que não volta mais.
Para os brasileiros, a Sears deixou uma marca duradoura na memória de quem viveu os anos 60 e 70 e acompanhou de perto o crescimento de São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais.