Varejistas depositam os valores de suas vendas nos terminais de autoatendimento da Saque e Pague e, ao mesmo tempo, qualquer pessoa pode depositar e sacar dinheiro, pagar contas e até fazer depósitos, recarga de celular e câmbio (Divulgação/Divulgação)
Isabela Rovaroto
Publicado em 8 de setembro de 2020 às 08h00.
Última atualização em 8 de setembro de 2020 às 16h09.
No Brasil, dinheiro físico ainda é a forma preferida para pagar as contas. Uma pesquisa do Banco Central mostrou que 60% dos pagamentos são feitos com as notas que saem da carteira dos brasileiros. Foi em busca desse dinheiro que a Saque e Pague surgiu em 2010. Dez anos depois, a plataforma que facilita e democratiza o acesso a soluções financeiras por meio da tecnologia agora se prepara para iniciar sua operação na Colômbia. E não é o primeiro país no exterior. Em 2017, a empresa já desbravava o mercado mexicano.
A Saque e Pague é uma pioneira plataforma B2B de serviços financeiros que atua por meio de parcerias com 27 bancos de pequeno e médio porte e outras fintechs. Ela atende três diferentes públicos: varejo, instituições financeiras e pessoa física, até mesmo a não bancarizada.
Por meio de terminais de autoatendimento em supermercados, postos de combustíveis, farmácias e outros estabelecimentos do gênero em 26 estados do Brasil e no Distrito Federal, os varejistas depositam os valores de suas vendas e, ao mesmo tempo, qualquer pessoa pode depositar e sacar dinheiro, pagar contas, fazer depósitos e, até mesmo, utilizar serviços como recarga de celular e câmbio. Ao todo, estão disponíveis mais de 40 transações nos ATMs da rede Saque e Pague.
Como o dinheiro depositado pelo varejo passa diretamente para as mãos de seus clientes, não é preciso contratar empresas de transporte de valores para levá-lo a uma agência bancária para ser depositado, porque a Saque e Pague se encarrega desse processo. Dessa forma, o dinheiro circula de uma maneira mais sustentável, o que é chamado pela empresa de “reciclagem de cédulas”. A companhia foi pioneira em trazer para o país essa tecnologia.
Givanildo Luz, CEO da Saque e Pague, explica que a empresa ajuda a resolver três grandes “dores” do varejo. A primeira é o risco de assaltos por causa do dinheiro físico presente nesses estabelecimentos. Outra são as fraudes com dinheiro falso.
E a terceira é o custo elevado desses negócios com transporte de valor, o que é reduzido por meio da digitalização do dinheiro. Nesse processo, o varejista deposita o dinheiro das vendas nos terminais de autoatendimento da Saque e Pague. O montante é validado automaticamente e cai na conta na mesma hora, e não dois ou três dias depois, como no sistema tradicional. Assim, o varejista tem o controle das vendas consolidadas na plataforma e ainda paga taxas de 20% a 40% mais baratas do que as cobradas em modelos de negócios diferentes da Saque e Pague.
“Além disso, nossos equipamentos levam gente para o ponto de venda do cliente. Pesquisas mostram que 25% das pessoas que utilizam um caixa de autoatendimento acabam comprando no estabelecimento onde ele está instalado, ou seja, criamos um ciclo benéfico para todos no varejo”, afirma Luz.
Atualmente, a Saque e Pague tem 1.700 pontos no Brasil, espalhados por mais de 300 cidades, a maioria no interior dos estados. Em quase 50 desses municípios, os terminais de autoatendimento da rede são a única opção de serviços financeiros disponível à população. A expectativa da empresa é chegar a 2.100 pontos em 350 cidades no Brasil ainda em 2020.
O CEO da Saque e Pague acredita que ainda há muito espaço para a empresa crescer no Brasil, mas o modelo de negócios pode ser escalonado para qualquer país. Se o modelo deu tão certo no Brasil, por que não levá-lo a outros países com características culturais semelhantes? Com a experiência de um dos sócios da Saque e Pague no exterior, a empresa deu o primeiro passo no processo de internacionalização em 2017, quando chegou ao mercado mexicano.
“O México, assim como o Brasil, tem um grande volume de pagamentos em dinheiro físico e uma bancarização ainda menor do que a brasileira, além de ser um país mais aberto, sem barreiras impostas pelo mercado”, justifica o CEO.
Por lá, a atuação da Saque e Pague é via switch transacional, que disponibiliza automaticamente os serviços de aproximadamente 40 bancos mexicanos em seus terminais. A empresa conta com 130 pontos no México e seu faturamento deve representar já neste ano 10% do total. O plano é chegar a 3.000 equipamentos em até três anos.
“O potencial do mercado no México é tão grande quanto o do Brasil, então esperamos crescer para praticamente igualar nossos números de faturamento”, aponta o executivo.
A nova aposta da empresa no exterior é a Colômbia. A Saque e Pague está finalizando sua abertura no país nos próximos dias e fechando a assinatura de contrato com o primeiro parceiro, o Bancoomeva, conectado a quase 40 cooperativas.
O sistema de atuação na Colômbia será similar ao do México. A Saque e Pague pretende ter dez equipamentos rodando ainda em 2020 no primeiro modelo de mínimo produto variável (MVP) nesse mercado. A expectativa é chegar a 1.000 pontos de atendimento e receita de 400 milhões de reais em até três anos. “É um cenário bem promissor. Nossa expectativa é ter uma operação que represente de 20% a 30% do nosso faturamento total e com boa rentabilidade, o que acreditamos que ocorrerá nos próximos três anos”, calcula Luz. “Além disso, há um leque de outras possíveis parcerias e integrações.”
Outras frentes
As apostas da Saque e Pague não se resumem aos projetos internacionais. Em maio, a empresa lançou sua nova marca em busca de um posicionamento mais em linha com o propósito de transformação para que as pessoas tenham uma relação mais simples com o sistema financeiro. “O novo logo mostra ao mercado que a empresa contribui para o acesso da população a serviços financeiros de maneira descomplicada e resolutiva”, afirma o executivo.
Essa nova visão se reflete nos acordos firmados pela companhia nos últimos anos. A primeira parceria interoperável do país, realizada com a DAI Brasil, proprietária da marca ATM24h, que opera em aeroportos e grandes hotéis no país, vai utilizar a estrutura da parceira para operar seus serviços.
“É um ganha-ganha. Nós aumentamos o volume da nossa rede em quase 200 pontos, sem ter de arcar com altos investimentos e custos operacionais dos equipamentos, e eles incrementam o faturamento com as taxas que vamos repassar no fim do dia. Assim, não precisamos competir pelo mesmo ponto, mas compartilharmos e temos ganhos conjuntos”, explica Luz.
Parcerias fazem parte do DNA da companhia. Neste ano, também foram firmados outros dois acordos com redes varejistas. Neles, clientes do cartão de crédito internacional da Realize, braço financeiro da Lojas Renner S.A., e clientes da VerdeCard, administradora dos cartões das lojas Quero-Quero, poderão pagar suas faturas com dinheiro físico depositado nos mais de 1.700 terminais de autoatendimento da Saque e Pague em todo o Brasil.
É também do varejo que vem outra aposta. O projeto Mini ATM prevê levar os serviços bancários para o caixa do pequeno varejista. De acordo com Luz, “a nova solução da empresa permitirá às pessoas a realização de saques em dinheiro e o acesso a outros tipos de serviço financeiro no varejo, como microcrédito, depósitos, pagamentos e, quem sabe no futuro, até mesmo a abertura de contas”.
O CEO explica que, dessa forma, será possível atender uma grande parcela da população que está desassistida de serviços financeiros. Essa nova aposta da Saque e Pague ocorrerá sem a necessidade de grandes investimentos em novos pontos ATMs tradicionais. Luz complementa: “A empresa poderá ganhar presença maior em várias cidades do interior do Brasil, onde os custos logísticos de implementação desses terminais de autoatendimento tradicionais são altíssimos”. Do outro lado, o varejista atuará com um hub de conexão com instituições financeiras e aumentará seu faturamento.
“Cada transação realizada por meio desse canal será remunerada. Sabemos que é uma dor do varejo encontrar novas maneiras de gerar receita e assim conseguimos contribuir de maneira descomplicada para a resolução desse problema”, afirma o CEO.
Transformação bancária
Outra frente para aumentar os negócios vem da chamada transformação bancária. Nela, a Saque e Pague oferece soluções operacionais a bancos parceiros, aumentando sua oferta de transações com terminais que realizam diferentes serviços. Com isso, o parceiro reduz custos e ainda ganha uma margem nas tarifas. Com foco nessa transformação, a empresa lançará, no começo de 2021, um modelo de agência bancária baseado no compartilhamento da estrutura por vários bancos. “O Espaço Saque e Pague, sediado na Avenida Faria Lima, região financeira da capital paulista, atenderá clientes de quase 30 bancos parceiros, que vão dividir a mesma estrutura”, explica o CEO.
Ao todo, serão investidos 15 milhões de reais nesses novos projetos e cerca de 40 milhões na expansão de base da Saque e Pague neste ano. A empresa investe nas parcerias atuais e nas futuras, especialmente nas que podem se tornar viáveis com a Consulta Pública Bacen nº 75/2019, que tem como objetivo melhorias no acesso a infraestruturas para realizar serviços de saque e aporte no âmbito do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPC), para crescer no Brasil.
Outro tema que a empresa está atenta é o open banking. O Banco Central programou para o final de novembro de 2020 a primeira fase de implementação dessa novidade e a Saque e Pague já está preparada para apoiar as instituições financeiras na transição e utilização de seus APIs. De acordo com o CEO da empresa, essa novidade representa mais acesso a diferentes transações financeiras para as pessoas, sejam elas bancarizadas ou não. “Esse novo conceito proporcionará à população autonomia para escolher com quem deseja compartilhar suas informações financeiras e verificar as empresas que oferecem as melhores opções em produtos e serviços.”
Nem mesmo a pandemia vai atrapalhar os planos da Saque e Pague. Em 2019, o faturamento da empresa foi de 118 milhões de reais. Neste ano, a empresa quer chegar a 160 milhões. Nos últimos três anos, sua taxa de crescimento foi de 45% a 50%. Mesmo depois da crise gerada pela covid-19, a expectativa é crescer entre 35% e 40%, segundo Givanildo Luz.
No início da pandemia, a Saque e Pague teve queda no faturamento e, como várias empresas, segurou os investimentos. Mas, por ser um serviço essencial para seus clientes, entre maio e junho já havia retomado o patamar inicial e, em julho, cresceu 50% mais do que no período antes da crise. “Passado o primeiro impacto da pandemia, voltamos a investir nos projetos e decidimos acelerá-los em busca de resultados para, cada vez mais, nos posicionarmos como uma plataforma descomplicada e resolvedora”, finaliza o CEO.