Santander: (Itaci Batista/Estadão Conteúdo/Reprodução)
Karin Salomão
Publicado em 23 de julho de 2019 às 16h21.
Última atualização em 24 de julho de 2019 às 10h01.
Depois de competir com os grandes bancos, o Santander irá criar novas plataformas para disputar com fintechs, startups do segmento financeiro. O banco irá lançar, nos próximos meses, plataformas de microcrédito, renegociação de dívidas e concessão de seguros para automóveis, entre outros serviços, principalmente com foco em pessoas físicas e financiamento de consumo.
O banco cresce há 49 trimestres seguidos e anunciou lucro líquido de 3,6 bilhões de reais no segundo trimestre deste ano, 20,16% acima do resultado do ano anterior. Alcança um retorno sobre o patrimônio (ou ROE, na sigla em inglês) semelhante aos líderes do mercado, Bradesco e Itaú. No segundo trimestre do ano, o ROE foi de 21,3%, crescimento de 1,8 ponto em relação ao ano passado. Itaú e Bradesco ainda não divulgaram os resultados do trimestre.
A disputa hoje é outra. Mais do que a concorrência com dois gigantes, são dezenas de pequenas fintechs que oferecem alternativas aos custos e burocracias mais altos dos grandes bancos, em segmentos de crédito a cartões e seguros.
Para contra-atacar, o Santander acelerou o ritmo de lançamentos de novos serviços. "Eu vejo o Santander como uma grande incubadora", diz Sérgio Rial, presidente do banco em coletiva de imprensa sobre os resultados do trimestre.
Crédito para pessoas físicas
Um dos lançamentos será a plataforma digital de microcrédito Sim, para oferecer crédito mais barato com base em motos, veículos ou imóveis quitados como garantias, modalidade ainda não disponível aos clientes. A avaliação desses bens será feita pelo braço financeiro da instituição, pois ela já tem presença em diversas regiões do país.
O serviço deve ser lançado em setembro deste ano. Ainda não há informações sobre as taxas que serão praticadas. "Empréstimos com garantia podem ser entre 2 e 3 pontos percentuais mais baratos", afirma o presidente.
Se a briga com outros bancos e fintechs não é o suficiente, a concorrência desses novos serviços também deve ser interna. Um concorrente desses produtos é a Creditas, fintech voltada a empréstimos com garantia. O próprio banco é um dos investidores da startup por meio do fundo Santander InnoVentures. "São entidades para competir com o próprio Santander", afirma Rial.
Outra novidade será uma plataforma digital de renegociação de dívidas, para trocar dívidas em atraso de qualquer banco por alternativas mais baratas do Santander. A inauguração do serviço está prevista para dezembro deste ano. Além disso, a partir de agosto, a companhia irá operar uma nova plataforma de concessão de seguros para automóveis em parceria com a seguradora HDI.
O Santander já havia lançado a Prospera, plataforma de microcrédito voltada a pessoas físicas. O número de clientes ativos da plataforma alcançou 368 mil, contra cerca de 170 mil há dois anos.
A carteira de crédito do banco chegou a 317,6 bilhões de reais no trimestre, alta de 9,3% em 12 meses. A maior parte desse crescimento veio do segmento de pessoas físicas, que representa 44,6% da carteira e registrou alta de 18% em doze meses, e de financiamento ao consumo, 11,7% do total da carteira e alta de 17,2% no período.
Empresas e empreendedores
Também há novos produtos voltados para empreendedores e pequenos negócios. O banco criou uma conta bancária digital voltada para revendedoras da Natura, para dar acesso a capital de giro. Já são 100 mil revendedoras cadastradas, 12 mil delas ativas. Há potencial para alcançar 1 milhão de consultoras da Natura e outras 6 milhões da Avon, companhia adquirida pela rival este ano. Outro exemplo é o Bem, cartão de benefícios, como vale alimentação e refeição, lançado em parceria com a Visa que já tem 200 mil empresas cadastradas.
No segmento de pessoas jurídicas, o maior crescimento é entre as pequenas e médias empresas, de 10% no ano. O segmento de crédito a grandes empresas caiu 6,1% nos últimos 12 meses. Se há um ano as grandes empresas representavam 31,5% da carteira, hoje são responsáveis por 27%.
A crise econômica brasileira diminuiu a demanda por crédito e financiamento de investimentos das empresas. Grandes recuperações judiciais também afetaram a carteira. Outro motivo é a mudança no comportamento de grandes empresas. Ao invés de buscar empréstimos em bancos, as empresas estão recorrendo ao mercado de capitais, com novas emissão de ações ou de dívidas.
Riscos
Um dos riscos da abordagem do Santander é aumentar sua exposição a risco. Pessoas físicas, pequenas e médias empresas oferecem um risco maior de inadimplência do que grandes empresas. Para se proteger, o banco precisa aumentar o provisionamento contra devedores duvidosos, o que pode encarecer sua operação.
Por enquanto, o banco tem conseguido manter a inadimplência em linha com os trimestres anteriores, em 3%, e o custo de crédito em 3%. As disputas, no entanto, tendem a ficar mais acirradas e a dúvida é se o banco continuará a manter sua a taxa de crescimento e rentabilidade.