O problema do Santander é que seu “bom negócio” no Brasil ainda não está crescendo tão rápido quanto concorrentes locais (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2011 às 20h01.
São Paulo - Dois anos e meio depois de o presidente do Banco Santander AS, Emilio Botín, prometer tornar a instituição o “melhor banco do Brasil”, investidores dizem que ainda estão vendo perda de espaço para concorrentes locais como o Banco Bradesco SA.
Desde que o grupo espanhol vendeu ações da unidade brasileira em outubro de 2009, o papel desabou 23 por cento na BM&FBovespa, em comparação com um ganho de 8,3 por cento para as ações do Bradesco e de 4,3 por cento para as do Itaú Unibanco Holding SA.
O Santander, que divulga o balanço do primeiro trimestre amanhã, conta com o Brasil como seu maior propulsor de lucros pelo segundo ano seguido, após o colapso do mercado imobiliário na Espanha ter prejudicado os ganhos na matriz. Enquanto o Brasil dá sustentação ao Santander -- cujo lucro anual caiu apenas 10 por cento em relação ao pico durante os três anos da crise financeira --, os resultados têm sido decepcionantes para os investidores da unidade brasileira, disse Yves Kuhn, da Swisscanto Asset Management.
“Há uma certa desilusão com as promessas não cumpridas que ficaram muito difíceis de levar adiante quando eles não conseguiram se equiparar a outras instituições no País”, disse Kuhn, que tem ações do Banco Santander Brasil SA na carteira de US$ 1 bilhão que administra na Swisscanto em Zurique. “Olhando para os grandes bancos do Brasil, o lanterninha é o Santander, e tenho certeza que isso causa aborrecimentos em Madri.”
Fusões no Brasil
O Santander deve divulgar lucro líquido de 2,22 bilhões de euros para o primeiro trimestre, praticamente igual ao de um ano antes, segundo a estimativa média de cinco analistas sondados pela Bloomberg. O lucro gerado no Brasil provavelmente cresceu 37 por cento para 816 milhões de euros, enquanto o lucro com a operação de varejo na Espanha caiu 48 por cento para 314 milhões de euros, pelas projeções de Daragh Quinn, analista da Nomura International em Madri.
Um porta-voz do Santander em Madri, que pediu para não ser identificado devido à política interna, se recusou a fazer comentários sobre o desempenho das operações no Brasil.
A aquisição da unidade brasileira do ABN Amro Holding NV por 11 bilhões de euros em 2007 alçou o Santander ao ranking dos três maiores bancos privados no Brasil, com R$ 376 bilhões em ativos, 54.000 funcionários e 2.395 agências em dezembro, segundo dados do Banco Central.
A transação impulsionou a consolidação entre a concorrência. A aquisição do Unibanco pelo Itaú por US$ 12,5 bilhões em 2008, que formou o maior banco do País, foi em parte causada pelo Santander, que havia se tornado “um novo tipo de player” após a aquisição do ABN Amro, disse o presidente do Itaú, Roberto Egydio Setúbal, em entrevista coletiva em novembro de 2008.
Crescimento mais lento
Com a abertura de capital do Santander Brasil, o maior banco da Espanha se beneficiou da demanda por ativos brasileiros, levantando cerca de US$ 11 bilhões com a oferta em outubro de 2009 e uma venda de títulos conversíveis para a Qatar Holding LLC um ano depois.
Em janeiro, o Santander Brasil valia quase 39 bilhões de euros, o mesmo que o maior banco alemão, o Deutsche Bank AG, sediado em Frankfurt. Agora, o valor de mercado está ao redor de 29,7 bilhões de euros. O Santander informou que também pretende vender ações das unidades do Reino Unido, Argentina e México porque, nas palavras de Botin, isso permite que as unidades tenham acesso a capital do mercado rapidamente, ao mesmo tempo em que abre “espaço estratégico” para o grupo.
O problema do Santander é que seu “bom negócio” no Brasil ainda não está crescendo tão rápido quanto concorrentes locais, disse Clecius Peixoto, sócio da Vinci Partners em São Paulo.
Fabio Barbosa, ex-presidente da unidade brasileira do Santander, disse em 2008 que a instituição se tornaria o maior banco do Brasil em geração de valor para os acionistas, enquanto prometia crescer mais do que o mercado em faturamento.
A concessão de crédito pelo Santander no Brasil cresceu 16 por cento no ano passado, comparado a mais de 20 por cento para o Bradesco e o Itaú, e 17 por cento para o Banco do Brasil SA.