Carlos Ghosn foi detido em Tóquio, nesta segunda-feira (19), de acordo com a emissora de televisão pública NHK (Patrícia de Melo Moreira/AFP)
AFP
Publicado em 19 de novembro de 2018 às 13h54.
Última atualização em 22 de novembro de 2018 às 07h00.
Acusado de fraude fiscal à frente da Nissan, Carlos Ghosn, 64 anos, foi responsável pela recuperação da montadora japonesa e por ter criado um gigante do setor automotivo com a Renault e a Mitsubishi.
Ele foi detido em Tóquio, nesta segunda-feira (19), de acordo com a emissora de televisão pública NHK.
Ghosn liderou a aliança Renault-Nissan-Mitsubishi até o topo da indústria automotiva mundial. No Japão, Carlos Ghosn é venerado por reerguer a Nissan, cujo controle passou para as mãos da Renault em 1999.
À frente da Renault e da Nissan, em 2016, o empresário ampliou essa aliança à Mitsubishi Motors, levando o grupo à liderança na venda de automóveis. No ano passado, 10,6 milhões de unidades foram vendidas.
Sua remuneração, uma das mais elevadas entre os executivos franceses, causou em 2015 embates com o Estado francês, acionário de 15% da Renault.
Como CEO da Nissan, ganhou 1,1 bilhão de ienes (8,8 milhões de euros) de abril de 2016 a março de 2017.
Também recebe 7 milhões de euros por ano como CEO da Renault, posto que ocupa desde 2009, depois de ser diretor-geral a partir de 2005.
Em junho de 2017, a agência de notícias Reuters afirmava que a aliança refletia um sistema de bônus escondidos para seus dirigentes, por meio de uma sociedade instalada na Holanda. Ghosn negou.
Em fevereiro de 2018, Ghosn aceitou reduzir em 30% sua remuneração, uma condição imposta pelo Estado para apoiá-lo em mais um novo mandato de quatro anos.
Na gestão de Ghosn, Renault e Nissan foram os primeiros a investir em massa no carro elétrico, setor do qual é líder mundial.
A partir de 2010, a estratégia da Alliance se voltou, decididamente, para esse novo modo de motorização. A concorrência seguiu esse caminho recentemente, depois de ver o mercado decolar. Em junho, o grupo anunciou que pretende investir um bilhão de euros nos veículos elétricos em cinco anos.
Poliglota, capaz de se adaptar a diferentes culturas, esse franco-libanês-brasileiro rapidamente ganhou o apelido de "cost killer" ("cortador de gastos") por sua capacidade de transformar empresas à beira da falência em lucrativos negócios.
Conhecido por se levantar muito cedo e dormir muito tarde, em 2006, Carlos Ghosn foi descrito pela revista "Forbes" como "o homem que trabalha mais duro no setor brutalmente competitivo dos automóveis".
À frente de um império que reúne dez marcas e conta com 470.000 funcionários, o CEO foi criticado por sua alta remuneração, mas isso não o impediu de ser cortejado por políticos que associaram seu nome a seus projetos.
Em 2013, Arnaud Montebourg, então ministro da Renovação Industrial, entregou a Ghosn um dos 34 planos para o relançamento industrial da França: desenvolver o carro dirigido por piloto automático.
Mais recentemente, o CEO da Renault anunciou um investimento de 450 milhões de euros na fábrica Renault de Maubeuge, por ocasião de uma visita do presidente francês, Emmanuel Macron. A unidade conta com 2.000 funcionários. O presidente agradeceu à Renault por seu compromisso com o território nacional, após um anúncio prometendo criar 200 vagas por tempo indeterminado.