Coroa de Eugénie de Montijo, esposa de Napoleão III, em exibição em 2020, no Louvre. (Getty Images)
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Publicado em 21 de outubro de 2025 às 05h59.
O roubo das oito joias históricas do Museu do Louvre, em Paris, no último domingo, 19, reacendeu o debate de peças preciosas após grandes assaltos. Embora o caso tenha ganhado repercussão mundial, especialistas ouvidos pelo site MarketWatch afirmam que o comércio de joias furtadas é muito mais comum — e visível — do que se imagina.
De acordo com dados do FBI, o valor total de joias e metais preciosos roubados nos Estados Unidos em 2024 ultrapassou US$ 1,4 bilhão, mas apenas 2,1% desse montante foi recuperado. Profissionais do setor de gemas afirmam que parte significativa desse material acaba sendo revendida no mercado formal, misturada a estoques legítimos.
Para Nishit Mehta, o público costuma associar o termo “mercado negro” a atividades clandestinas e distantes do cotidiano, mas a realidade é que muitas dessas peças acabam sendo comercializadas dentro do próprio circuito tradicional da joalheria.
No entanto, as joias levadas do Louvre — coroas, tiaras e pedras preciosas que pertenciam à realeza francesa — dificilmente aparecerão à venda em lojas comuns. Além de serem facilmente reconhecíveis, o roubo ganhou grande visibilidade internacional, o que inviabiliza a revenda direta.
Segundo o colecionador e especialista em bens raros Stephen Fishler, duas hipóteses são mais prováveis. A primeira é que as joias tenham sido roubadas sob encomenda para um colecionador particular interessado em manter as peças em sigilo.
Já a segunda possibilidade é que os diamantes e pedras preciosas sejam recortados, transformando-se em gemas menores e mais difíceis de rastrear. Esse processo, segundo ele, costuma levar tempo, até que o mercado “esqueça” o crime e as gemas possam ser revendidas sem levantar suspeitas.
Advogados e especialistas reforçam que, embora as joalherias idôneas façam verificações sobre a procedência das peças, a rastreabilidade ainda é limitada. Em alguns casos, os vendedores exigem uma declaração formal de propriedade ou documentos que comprovem a origem legal da joia.
Para evitar problemas, especialistas recomendam que os consumidores comprem apenas de revendedores reconhecidos, como joalherias estabelecidas, leiloeiros certificados ou marcas de renome. Preços muito abaixo do mercado ou descrições vagas sobre a origem da peça devem ser tratados como sinais de alerta.
O caso do Louvre expõe a complexidade de um mercado internacional de pedras preciosas que movimenta bilhões de dólares e opera, muitas vezes, à margem da fiscalização. Mesmo com tecnologia avançada e rastreabilidade parcial, especialistas dizem que ainda há inúmeros canais de revenda — formais e informais — onde gemas roubadas podem ser inseridas.
A recuperação das joias reais francesas, portanto, dependerá de uma combinação entre cooperação internacional, controle de exportações e vigilância de mercado. Até lá, a probabilidade de que as peças voltem a ser vistas em sua forma original permanece baixa.