Rodrigo Galindo: presidente da Kroton, que acaba de comprar a Estácio, também foi responsável pela aquisição da Anhanguera (Lia Lubambo/Exame)
Karin Salomão
Publicado em 11 de julho de 2016 às 15h58.
São Paulo – Depois de pouco mais de um mês de negociações, a Estácio Participações decidiu pela proposta de compra da Kroton Educacional.
Em fato relevante, os conselhos dos dois grupos de educação afirmaram que aprovaram a incorporação de ações da Estácio pela concorrente, que fez uma proposta de R$ 5,5 bilhões. A oferta foi aceita no dia 1º de julho, fechada no dia 8 e será levada aos acionistas das companhias e submetida ao Cade até agosto.
No meio dessa negociação, está Rodrigo Galindo, presidente da Kroton. Depois que a universidade criada por seu pai foi adquirida pela Kroton, ele se tornou presidente e conseguiu fortalecer as finanças do maior grupo educacional do Brasil.
Com apenas 40 anos, o executivo já tem bastante experiência com grandes operações e foi o responsável pela aquisição da Anhanguera, entre diversas outras faculdades.
Para conseguir chegar ao topo tão novo, Galindo entrou bem cedo no mercado de educação. Quando tinha apenas 13 anos, começou a trabalhar na xérox da faculdade criada pelo seu pai, a Universidade de Cuiabá.
Ao lado de seu irmão mais velho, negociava com fornecedores, controlava os materiais e tirava as cópias pessoalmente para não precisar pagar funcionários.
O lucro dos irmãos foi tão grande que o pai se preocupou por ver tanto dinheiro na mão de dois adolescentes e tomou o negócio de volta.
Mas a mistura entre educação e empreendedorismo nunca saiu dele. Com apenas 18 anos, começou a coordenar os processos de vestibular e alguns concursos do governo que eram feitos no grupo Iuni, de sua família.
Formado em direito e mestre em educação pela PUC, se tornou empreendedor aos 23 anos, quando abriu uma faculdade no Amapá enquanto ainda trabalhava na empresa da família no Mato Grosso, a Iuni.
"Foi quando eu percebi as diferenças entre um executivo e o empreendedor. Quis ter esse prazer de arriscar", disse ele, em entrevista ao Na Prática.
Para tornar a empresa de sua família, mais profissional, Galindo começou a aplicar princípios de governança. Um deles foi a criação de dois fóruns de discussão: um para assuntos profissionais e outro apenas para questões familiares. Assim, assuntos pessoais não interferiam da gestão do negócio.
Essa e outras medidas mais do que dobraram a receita em dois anos e triplicaram a margem, que era de 23% em 2009.
O executivo assumiu a presidência do grupo Iuni aos 29 anos. Entre 2008 e 2009, adquiriu oito instituições e criou um método de integrá-las em apenas 90 dias, um recorde para o setor.
Foi quando o empresário começou a procurar um comprador para o grupo e chegou a uma lista de 15 interessados. A Kroton foi a vencedora e adquiriu a Iuni em 2010 por R$ 200 milhões.
Mas essa não foi a única universidade adquirida pela Kroton no período e ela estava com dificuldades para integrar todas as empresas – e, por isso, estava atrás de concorrentes, que na época eram a Anhanguera e a Estácio.
Galindo chamou a atenção pelo seu método eficiente, que cortava pela metade o tempo necessário para unir duas companhias. Por isso, foi escolhido para coordenar a integração da Iuni à Kroton.
"Conduzir esse processo foi muito difícil, mas muito gratificante. Mais do que a venda de uma empresa, significava a história de vida dos meus pais", disse.
Oito meses depois que a empresa familiar foi adquirida, ele se tornou o CEO da Kroton, com apenas 34 anos.
Seu próximo desafio era tirar a empresa do vermelho. Instituiu que novas turmas só seriam abertas caso tivessem um número mínimo de alunos e impôs um controle rígido do orçamento.
Deu certo: em 2011, a Kroton já estava no azul e os indicadores de qualidade de ensino melhoraram.
A fome da Kroton por aquisições não havia diminuído, muito pelo contrário. O grupo educacional adquiriu a Unopar em 2011 por R$ 1,3 bilhão e a Uniasselvi no ano seguinte.
Mas sua maior aquisição mais intensa, até hoje, foi a compra da Anhanguera. Depois de meses estudando todos os indicadores da concorrente, a Kroton fez uma proposta pela concorrente.
A negociação foi extremamente rápida. Por três dias inteiros, executivos, assessores e advogados dos dois lados se fecharam em um escritório para discutir os termos do acordo.
Eles pediram pizza e dormiram poucas horas por noite. No fim, foi criado o maior grupo educacional do Brasil, com mais de 1 milhão de alunos, R$ 4,3 bilhões de receita e R$ 12 bilhões em valor de mercado.
Agora, a maior empresa do Brasil está prestes a se tornar ainda maior. Com a incorporação da Estácio, a Kroton terá 1,6 milhão de alunos e receitas que ultrapassam R$ 8 bilhões. No ano passado, os lucros das duas empresas somados chegaram a quase R$ 2,5 bilhões.
Por causa de seu tamanho colossal, a operação ainda precisará passar pelo Cade, que poderá pedir para que o grupo se desfaça de alguns ativos.
Mas, sob o comando de Galindo, o negócio tem tudo para dar certo.