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Roberto Civita, uma vida dedicada à liberdade de expressão

O diretor editorial e presidente do Conselho de Administração do Grupo Abril, que morreu neste domingo, deixa um legado de defesa da democracia


	Roberto Civita: "A liberdade de manifestação do pensamento é um direito natural do homem e o pressuposto básico da democracia"
 (Abril/Arquivo)

Roberto Civita: "A liberdade de manifestação do pensamento é um direito natural do homem e o pressuposto básico da democracia" (Abril/Arquivo)

Maurício Grego

Maurício Grego

Publicado em 27 de maio de 2013 às 07h30.

São Paulo – Roberto Civita, Diretor Editorial e presidente do Conselho de Administração do Grupo Abril, morreu neste domingo, às 21h41, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Civita deixa a mulher Maria Antonia, os filhos do primeiro casamento Giancarlo, Roberta e Victor, além de seis netos e enteados. Deixa também uma imensa saudade em todos os que tiveram o prazer de conviver com ele e um grande legado na história do jornalismo brasileiro e na defesa da liberdade de expressão.

Roberto Civita nasceu em Milão, no dia 9 de agosto de 1936. Filho de Victor Civita (1907-1990), fundador do Grupo Abril. Deixou a Itália com 2 anos e morou em Nova York até os 12. Passou a adolescência no Brasil até sair novamente para estudar no exterior.

Estudou física nuclear na Rice University, no Texas. Formou-se em jornalismo na Universidade da Pensilvânia e em economia pela Wharton School, da mesma instituição, com pós-graduação em sociologia pela Universidade de Columbia. 

Em outubro de 1958, recém-formado e aos 22 anos, começou a trabalhar na Abril. Foi a partir de sua chegada que a editora lançou suas primeiras revistas jornalísticas, a começar pela Quatro Rodas, em 1960. Em seguida vieram Claudia (1961), Realidade (1966), EXAME (1967) e Veja (1968).


Hoje, a Editora Abril publica sete das dez revistas mais lidas do país. No total são 52 revistas, disponíveis em plataformas impressas e digitais, que atingem praticamente todos os segmentos de público num universo de quase 30 milhões de leitores.

Entre todos os títulos que criou, VEJA era o que contava com maior participação de RC. Não apenas por ter idealizado a publicação que viria a ser a principal do Brasil, mas pelos anos difíceis no começo e a consolidação, sobretudo na década de 90, como a publicação que passaria a atuar decisivamente para mudar a história do país.

Uma das capas que mais representaram esse perfil de VEJA foi a da edição que trouxe a entrevista com Pedro Collor de Mello, irmão do então presidente Fernando Collor, em maio de 1992, com denúncias de corrupção no Governo Federal.

A entrevista deflagrou uma série de denúncias e investigações de toda a imprensa e do Congresso, assim como o movimento nacional dos “carapintadas” num período de apenas quatro meses até o impeachment de Fernando Collor.

O exemplo da capa com Pedro Collor e a consequente mudança do curso da história do país no começo dos anos 90 não seriam possíveis não fosse a incansável luta de Roberto Civita, ao longo de toda sua vida, pela busca da verdade e pela liberdade de expressão. 


O tema sempre foi um dos pontos centrais de todas as suas palestras, no Brasil e no exterior. Em 2008, durante a III Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa, em Brasília, ele resumiu da seguinte forma seu pensamento: 

“ (...) A liberdade de manifestação do pensamento, além de se constituir num direito natural do homem, é o pressuposto básico da democracia e precede todas as demais liberdades por ela asseguradas: a liberdade política, religiosa, econômica, de imprensa, de associação e todas as outras.

A livre manifestação do pensamento e a liberdade de imprensa, porém, não constituem um fim em si mesmo, mas sim um meio imprescindível para garantir a sobrevivência de uma sociedade livre e democrática. 

Existe uma indissolúvel interdependência entre democracia, liberdade de imprensa e livre iniciativa, o conhecido tripé que envolve uma das mais extraordinárias simbioses do mundo moderno. 

Não custa lembrar que a democracia e a liberdade dependem, para se manter, das informações e da fiscalização que somente uma gama diversificada de veículos independentes pode assegurar. (...) “

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