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Ricardo Eletro protocola o maior plano de recuperação judicial do varejo

Companhia faturou 2 bilhões de reais em 2019 e previa faturar 2,6 bilhões em 2020, antes da pandemia

Ricardo Eletro: apesar da aposta no e-commerce, a rede pretende manter 100 lojas físicas (Fábio Motta/Estadão Conteúdo)

Ricardo Eletro: apesar da aposta no e-commerce, a rede pretende manter 100 lojas físicas (Fábio Motta/Estadão Conteúdo)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 14 de outubro de 2020 às 18h06.

Última atualização em 15 de outubro de 2020 às 09h04.

A Ricardo Eletro protocolou na terça-feira, 13, a minuta de seu plano de recuperação judicial que envolve pouco menos de 20.000 credores e cerca de 4 bilhões de reais, a maior já realizada no setor de varejo. O processo corre na 1ª Vara de Falências e Recuperações de São Paulo.

"Devido à pandemia, a Máquina de Vendas teve de entrar com o pedido de recuperação judicial e, em uma medida drástica, fechou as 400 lojas e está endereçando o negócio para ser uma plataforma digital", diz Salvatore Milanese, sócio fundador da Pantalica Partners, assessoria financeira da empresa.

"Nesse momento, estamos dando prioridade às dívidas trabalhistas pois os trabalhadores demitidos são o principal foco de atenção da empresa. Contudo, os fornecedores estratégicos, essenciais à continuidade do negócio, também serão priorizados. A ideia é envolvê-los no processo de recuperação do negócio, de forma que recuperem seus créditos o mais breve possível", diz Milanese.

Apesar da aposta no e-commerce, a rede pretende manter 100 lojas físicas. "Agora iniciaremos a negociação com credores que prevê, entre outras medidas, a colocação de ativos à disposição para redução da dívida", diz Milanese.

No texto, a Máquina de Vendas propõe que os credores com garantia real recebam seus pagamentos com o valor de um excedente do caixa da empresa. Na prática, a proposta é que o que passar do caixa mínimo, de R$ 100 milhões, seja distribuído aos credores. Além disso, será aplicado deságio de 85% sobre os valores.

Se aceito, o pagamento começa após a rede quitar os seus "credores estratégicos". Segundo Luiz Deoclecio Fiore, sócio da OneBehalf, esses credores são, em geral, fornecedores que optam por manter o fornecimento e têm vantagens no recebimento de seus créditos.

Já os credores sem garantia real, no valor de até R$ 3,5 mil, receberão R$ 1,5 mil no prazo de até dois anos, a partir da homologação. Quem tem a receber mais de R$ 3,5 mil terá o pagamento atrelado ao excedente do caixa mínimo.

O deságio para esses credores também é de 85% e o pagamento acontece depois que os credores estratégicos tiverem suas dívidas quitadas. Quem tem mais de R$ 3,5 mil a receber mas quer receber sem depender do caixa excedente, pode optar por receber à vista R$ 1,5 mil em até 24 meses, e abrir mão do que restar. "Nesse momento, estamos dando prioridade às dívidas trabalhistas pois os trabalhadores demitidos são o principal foco de atenção da empresa", diz Milanese.

Atual gestão

Em 2018, a gestora brasileira de fundos de participação Starboard negociou um acordo para comprar 72,5% da empresa por 250 milhões de reais. Pelo acordo, Nunes ficou com 15% da Máquina de Vendas. 

No mesmo ano a empresa iniciou um processo de recuperação extrajudicial. Na época a empresa tinha débitos de 1,5 bilhão com Itaú, Bradesco e Santander, além de 1 bilhão em dívidas com fornecedores de eletrônicos como Whirlpool, Samsung e LG. Por causa de atrasos nos pagamentos, a Ricardo Eletro deixou de receber produtos essenciais para uma varejista de eletrônicos como televisores e geladeiras. 

Em fevereiro deste ano, Pedro Bianchi, ex-sócio da gestora Starboard, assumiu o comando da companhia no lugar do executivo Luiz Wan-Dall Jr. que estava no cargo há um ano e meio.  

A companhia faturou 2 bilhões de reais em 2019 e previa faturar 2,6 bilhões em 2020, antes da pandemia. Nas últimas semanas, vinha reforçando sua operação online em meio à pandemia do coronavírus. A companhia tem 2.400 vendedores e 300 lojas.

Histórico

O grupo Ricardo Eletro foi formado em 2010, quando as varejistas mineira Ricardo Eletro e baiana Insinuante se fundiram com outras redes regionais em Rondônia, Pernambuco e Santa Catarina para sobreviver à consolidação que o setor passava com o surgimento de gigantes como a Via Varejo. O grupo havia sido batizado de Máquina de Vendas, mas foi renomeado com a marca principal.  

O resultado foi uma empresa que faturava 10 bilhões de reais, forte presença no estado de Minas Gerais e no Nordeste. Mas a sinergia esperada para o negócio não deu resultado. Desde 2014, a empresa começou a apresentar prejuízos em seu balanço.  

Para tentar virar o jogo, a Máquina de Vendas chegou a recrutar o executivo Enéas Pestana, ex-CEO do Grupo Pão de Açúcar, para tocar o negócio. Não deu certo. Em 2016, o fundador Ricardo Nunes voltou ao cargo. Nos últimos seis anos, a companhia teve sete presidentes.  

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