Ferran Adrià, chef de cozinha do El Bulli, eleito o cozinheiro mais influente da década (Mark Von Holden/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 26 de janeiro de 2011 às 07h54.
Madri - O restaurante El Bulli, eleito por quatro anos consecutivos como o melhor do mundo, fechará as portas em junho para reabrir em 2014 como fundação privada com a liberdade criativa como bandeira e um arquivo no qual constarão os 50 anos de pesquisa gastronômica do estabelecimento de Cala Montjoi, a duas horas de Barcelona.
A mente criativa por trás do El Bulli, Ferran Adrià, nomeado no ano passado o cozinheiro mais influente da década, apresentou nesta terça-feira na cúpula gastronômica internacional Madrid Fusión o seu novo projeto, El Bulli Foundation, com o qual pretende criar "talento e criatividade", mas, sobretudo, "devolver algo à sociedade".
Adrià, que há exatamente um ano revolucionou a Madrid Fusión ao anunciar que fecharia seu célebre restaurante por dois anos, convidou para projetar a fundação o arquiteto Enric Ruiz Geli, que criou "um cenário de arquitetura de partículas" que será pioneiro em "sustentabilidade e energia".
Um local planejado para se pensar com liberdade e um arquivo físico e digital que preservará os milhares de documentos e pesquisas reunidos ao longo da história do restaurante serão alguns dos componentes inovadores do espaço sem precedentes no mundo.
A El Bulli Foundation demandará um investimento anual privado de entre 600 mil e 800 mil euros. "Isto não é uma brincadeira, sempre ousamos, embora vamos começar com um bom fundo. Aconteça o que acontecer nos seis primeiros anos, estaremos começando com um bom fundo", afirmou o cozinheiro, que insistiu que ele e seu sócio, Juli Soler, não são milionários e estão correndo "um risco incrível".
O novo Bulli postará na internet, gratuitamente e todos os dias, o resultado de suas sessões criativas, pois esta será a forma de manter uma "pressão" constante sem a qual Adrià acredita que não seja possível criar.
No entanto, detalhou o chef, não serão disponibilizados pratos diariamente, mas "conceitos" que os internautas poderão aplicar a suas próprias criações, já que sua máxima sempre foi que a criatividade está em "não copiar". Os pratos serão "compartilhados" na web no final de cada temporada.
"Hoje eu me sinto bastante aliviado, as pessoas sabem que vamos continuar, não era um blefe", disse Adrià após apresentar o plano que põe um ponto final a meses de especulações.
O chef fez questão de deixar claro que não haverá regras e que desaparecerá o conceito do El Bulli como restaurante à moda antiga - o que já não era muito mesmo, visto que só abria seis meses ao ano e apenas no horário do jantar.
"O El Bulli não vai voltar a ser o melhor restaurante do mundo, mas já foi cinco vezes. Ganhamos tudo, não havia mais estímulos", refletiu.
A fundação terá uma equipe fixa de 15 pessoas às quais se somarão colaboradores que tenham algo para acrescentar em diferentes áreas do pensamento. E sempre haverá um jornalista que reportará o que estiver acontecendo.
"No momento atual há uma responsabilidade muito grande do empresário de entender que a administração não pode fazer tudo. Nós vamos apresentar nosso grão de areia e veremos se surgem outras fundações em outros campos que também encorajem a criatividade", disse.
Quando a última temporada do El Bulli chegar ao fim, em julho, o presente que Adrià vai oferecer à sua equipe serão dois anos e meio pagos, até a reabertura da fundação em 2014, para que façam o que quiserem.
O chef se manterá ocupado com o acordo que tem com a Universidade de Harvard e também deve viajar à China neste ano, além de ter planejadas diversas palestras em inúmeras cidades do mundo, em virtude de sua aliança com a Fundação Telefónica.
Uma frase resume o que vai diferenciar o mítico restaurante de Adrià de sua fundação homônima: "Não será o mesmo e a ideia é que não seja mesmo".